sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Dez dicas para não ser um leitor-cobaia nas redes sociais

 


Dez dicas rápidas para você, leitor de redes sociais, não ser enganado na guerra cotidiana por corações e mentes que esta deflagrada na internet. Porque, em uma guerra, a verdade (se é que ela ainda existe) é sempre a primeira vítima:

1) Olhe sempre a data do texto — Há muita gente que, por inocência ou sacanagem, reposta links antigos como se o fato tivesse acabado de acontecer. Como o momento em que um fato ocorre é importante para a sua compreensão, a impressão que fica é que o problema se repete por incompetência de alguém num eterno Dia da Marmota.

2) Anônimo é coisa do capeta — A chance de uma denúncia anônima e sem a fonte da informação circulando no WhatsApp ser séria é a mesma de um jabuti escalar um poste de luz sozinho. Se recebeu, demonstre nojinho e desconfie.

3) Fora de contexto, sem chance — Quando alguém tenta desacreditar uma ideia, pinça uma frase ou uma imagem fora de seu contexto e a utiliza para construir seu argumento. Como parte das pessoas foi condicionada a agir como gado diante do discurso de quem confia, acaba acreditando no novo significado que o sujeito tentou impor com essa descontextualização. Ou seja, na dúvida, Google nele.

4) Não seja otário, leia — Ler um texto até o final é fundamental. O título, a foto e legendas não são capazes de trazer toda a complexidade de um argumento. Se não tiver tempo para ler, não compartilhe ou curta. Você pode, sem querer, estar difundindo uma peça de racismo ou de violência contra a mulher.

5) Desconfie dos argumentos de autoridade — Não é porque o papa ou a bispa Sônia disseram algo que você tem que acreditar. O mesmo vale para o presidente da sua associação de moradores ou o diretor do seu sindicato. Exija confirmação dos fatos ou vá atrás dela.

6) Cuidado com falsa relações de causa e consequência — Um fato que acontece depois do outro não necessariamente foi causado pelo primeiro. O atropelamento de um pônei não é, necessariamente, a causa de uma tempestade. Da mesma forma, a chegada de imigrantes não é necessariamente a causa de desemprego.

7) Não se deixe levar por quem escreve bonito — O texto pode até estar te xingando de uma forma doce e você nem vai perceber se não observar atentamente o significado das palavras que o autor escolheu. Além disso, fique atento: não é porque a pessoa escreve com certeza absoluta no que diz que está certa.

8) Cuidado com os sites fantasmas —– Não é porque um site publicou um assunto com uma abordagem com a qual você concorde que ele é honesto ou faz bom jornalismo. Procure um “quem somos'' ou um “expediente'' e veja quem trabalha lá. Se não encontrar, desconfie.

9) A imagem nem sempre vale mil palavras — Até uma criança não alfabetizada é capaz de manipular uma foto com aplicativos online. Então, por que você acredita que uma imagem é uma prova irrefutável de um argumento? Ao mesmo tempo, ao editar um imagem, deixando partes dela de fora, exclui-se desafetos ou cria-se a impressão de multidões onde elas não estavam.

10) Leia coisas com as quais discorda — Não é porque você não concorda com uma opinião ou informação presentes em um texto bem fundamentado que ele não merece ser lido. Considere que o mundo é mais complexo do que você pode imaginar e que a pluralidade de ideias, desde que não desejem a morte de ninguém, ajuda a crescermos como sociedade. O contrário disso se chama ditadura.

Via Contexto Livre

Por Leonardo Sakamoto 

A CONSTITUIÇÃO PROÍBE, NINGUÉM LIGA: MAIS DE 90% DA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA É DE JUROS SOBRE JUROS.


O companheiro José Safrany Filho me chamou a atenção para uma entrevista muito esclarecedora que a CartaCapitalpublicou no último mês de junho: "A dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado". Lamentando ter passado batido na época, penitencio-me agora.

Foi concedida por Maria Lucia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal e fundadora do movimento Auditoria Cidadã da Dívida. É longa, mas merece ser lida na íntegra, com máxima atenção (acesse aqui).

Eis alguns trechos marcantes:

"Que dívida é essa que não para de crescer e que leva quase a metade do Orçamento? (...) Depois de várias investigações, no Brasil, tanto em âmbito federal, como estadual e municipal, em vários países latino-americanos e agora em países europeus, nós determinamos que existe um sistema da dívida. (...) É a utilização desse instrumento, que deveria ser para complementar os recursos em benefício de todos, como o veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro. Esse é o esquema que identificamos onde quer que a gente investigue.

"...não tem nenhuma aplicação do mundo que pague mais do que os títulos da dívida brasileira. É a aplicação mais rentável do mundo. 

"Desde o Plano Real, o Brasil produz superávit primário todo ano. (...) O que quer dizer isso, superávit primário? Que os gastos primários estão abaixo das receitas primárias. Gasto primários são todos os gastos, com exceção da dívida. É o que o Brasil gasta: saúde, educação... exceto juros. Tudo isso são gastos primários. Se você olhar a receita, o que alimenta o orçamento? Basicamente a receita de tributos. Então superávit primário significa que o que nós estamos arrecadando com tributos está acima do que estamos gastando, então está sobrando uma parte... 

"...essa parte do superávit paga uma pequena parte dos juros porque, no Brasil, nós estamos emitindo nova dívida para pagar grande parte dos juros. Isso é escândalo, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe o que se chama de anatocismo. (...) Você está transformando juros em uma nova divida sobre a qual vai incidir juros. É o tal de juros sobre juros. Isso cria uma bola de neve que gera uma despesa em uma escala exponencial, sem contrapartida, e o Estado não pode fazer isso. (...) A divida brasileira assumiu um ciclo automático. Ela tem vida própria e se retroalimenta. Quando isso acontece, aquele juro vai virar capital.  E, sobre aquele capital, vão incidir novos juros. E os juros seguintes, de novo vão se transformados em capital. É, por isso, que quando você olha a curva da dívida pública, a reta resultante é exponencial. Está crescendo e está quase na vertical. O problema é que vai explodir a qualquer momento.

"[A] dívida elevada tem justificado um continuo processo de privatização. (...) Entrega de patrimônio cada vez mais estratégico, cada vez mais lucrativo. Nós vimos há pouco tempo a privatização de aeroportos. Não é pouca coisa os aeroportos de Brasília, de São Paulo e do Rio de Janeiro estarem em mãos privadas. O que no fundo esse poder econômico mundial deseja é patrimônio e controle. A estratégia do sistema da dívida é a seguinte: você cria uma dívida e essa dívida torna o pais submisso. O país vai entregar patrimônio atrás de patrimônio. Assim nós já perdemos as telefônicas, as empresas de energia elétrica, as hidrelétricas, as siderúrgicas. Tudo isso passou para propriedade desse grande poder econômico mundial. E como é que eles [dealers] conseguem esse poder todo? Aí entra o financiamento privado de campanha. É só você entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral e dar uma olhada em quem financiou a campanha desses caras. Ou foi grande empresa ou foi banco. 

"O que é a auditoria? É desmascarar o esquema. É mostrar o que realmente é dívida e o que é essa farra do mercado financeiro, utilizando um instrumento de endividamento público para desviar recursos e submeter o País ao poder financeiro, impedindo o desenvolvimento socioeconômico equilibrado. Junto com esses bancos estão as grandes corporações e eles não têm escrúpulos. Nós temos que dar um bastanessa situação. E esse basta virá da cidadania. Esse basta não virá da classe politica porque eles são financiados por esse setor. Da elite, muito menos porque eles estão usufruindo desse mecanismo. A solução só virá a partir de uma consciência generalizada da sociedade, da maioria. 

"Nós estamos diante de um monstro mundial que controla o poder financeiro e o poder político com esquemas fraudulentos. É muito grave isso. Eu diria que é um mega esquema de corrupção institucionalizado. 

"...pelo que já investigamos em termos de origem da dívida brasileira e desse impacto de juros sobre juros, você chega a estimativas assustadoras. (...) Nos últimos anos, metade do crescimento da divida é nulo. (...) Essa foi a grande jogada do mercado financeiro no Plano Real, porque eles conseguiram gerar uma dívida maluca. No início do Plano Real os juros brasileiros chegaram a mais de 40% ao ano. Imagina uma divida com juros de 40% ao ano? Você faz ela crescer quase 50% de um ano para o outro. E temos que considerar que esses juros são mensais. O juro mensal, no mês seguinte, o capital já corrige sobre o capital corrigido no mês anterior. Você inicia um processo exponencial que não tem limite, como aconteceu na explosão da dívida a partir do Plano Real. Quando o Plano Real começou, nossa dívida estava em quase 80 bilhões de reais. Hoje ela está em mais de três trilhões de reais. Mais de 90% da divida é de juros sobre juros (o grifo é meu).

"O que a gente critica no governo Lula é que, para pagar a dívida externa em 2005, na época de 15 bilhões de dólares, ele emitiu reais. Ele emitiu dívida interna em reais. A dívida com o Fundo Monetário Internacional era 4% ao ano de juros. A dívida interna que foi emitida na época estava em média 19,13% de juros ao ano. Houve uma troca de uma dívida de 4% ao ano para uma de 19% ao ano. Foi uma operação que provocou danos financeiros ao País. E a nossa dívida externa com o FMI não era uma dívida elevada, correspondia a menos de 2% da dívida total. E por que ele pagou uma dívida externa para o FMI que tinha juros baixo? Porque, no inconsciente coletivo, divida externa é com o FMI. Todo mundo acha que o FMI é o grande credor. 

"[Sobre as consequências das políticas de austeridade impostas à Grécia, pois a Fattorelli foi convidada pelo Syriza para ajudar a investigar os acordos, esquemas e fraudes na dívida pública grega, conforme se pode ver no vídeo abaixo] Os casos aqui da Grécia são alarmantes. (...) Mais de 100 mil jovens formados deixaram o país nos últimos anos porque não têm emprego. Foram para o Canadá, Alemanha, vários outros países. A queda salarial, em média, é de 50%. (...) A maioria dos empregos foram flexibilizados, as pessoas não têm direitos. Serviços de saúde fechados, escolas fechadas, não tem vacina em posto de saúde. Uma calamidade terrível. Trabalhadores virando mendigos de um dia para o outro. Tem ruas aqui em que todas as lojas estão fechadas. Todos esses pequenos comerciantes ou se tornaram dependentes da família ou foram para a rua ou, pior, se suicidaram. O número de suicídios aqui, reconhecidamente por esse problema econômico, passa de 5 mil. Tem vários casos de suicídio em praça pública para denunciar".

http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2015/10/nos-estamos-diante-de-um-monstro.html

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Brasil tem de reviver como Nação


Ao longo da 1ª metade do Século XX, o Brasil fez notáveis progressos através da industrialização e do fortalecimento das instituições financeiras públicas. Também, na área social, com a decretação do salário mínimo (1930) e da legislação trabalhista (1932, consolidada em 1943). Economia e relações sociais são interdependentes.
2.  Entretanto, esses avanços – interrompidos de 1946 a 1950, quando a política do País se submeteu facilmente ao império angloamericano e à polarização ideológica da Guerra Fria – não foram suficientemente retomados e atualizados, sequer com a volta de Getúlio Vargas à presidência da República em 1950, pelo voto direto do povo.
3. Isso porque, diante disso, a intervenção do poder mundial tornou-se maciça e sustentada por abundante corrupção, que penetrou em todos os campos estratégicos, com o objetivo de fazer abortar o surgimento de uma potência industrial no Hemisfério Sul.
4. Essa intervenção logrou derrubar o presidente e inaugurou uma era, que completou 61 anos, de sucessivas renúncias à autonomia econômica e política do Brasil.
5. A desnacionalização da indústria, política oficial desde janeiro de 1955, conduziu à desindustrialização e causou déficits externos, originadores da dívida externa e depois da dívida pública interna.
6. A política de destruição da Nação foi grandemente radicalizada por meio das três primeiras eleições diretas, sob a Constituição de 1988, regime de aparente democracia: a de Collor em 1989 e as duas de FHC, 1994 e 1998, que desencadearam verdadeiros tsunamis de entreguismo e institucionalizaram a devastação socioeconômica do País.
7. A corrupção, em todas suas acepções, já havia formado maioria folgada dos constituintes, para inserir na Lei Básica normas estratégicas contrárias aos interesses nacionais.
8. Os analistas viciados no engano de qualificar tudo sob o prisma ideológico esquerda/direita, definiram como “Centrão” os constituintes “centro-direita” favoráveis a essas normas, que poucos da “esquerda” combateram.
9. Nem um só parlamentar denunciou a aprovação do art. 164, nem a inserção no texto constitucional, por meio de fraude, de cláusula no inciso II, parágrafo 3º do art. 166, que elimina limites à aprovação de verbas para o serviço da dívida. O art. 164 põe o Tesouro Nacional à mercê dos bancos.
10. O peso do dinheiro concentrado e da mídia antibrasileira nas eleições continuou a eleger Congressos cada vez mais alheios aos interesses do País, a ponto de terem aprovado dezenas de emendas à Constituição, favoráveis aos concentradores financeiros estrangeiros e locais.
11. Ora, o processo de degradação econômica, política e cultural teve início nos anos 50, quando o Brasil não havia construído infraestruturas econômica e social de país desenvolvido.
12. Pior: a maioria das que se implantaram, após 1955, foi planejada em favor dos carteis transnacionais aqui instalados para obter lucros ilimitados da extração dos abundantes recursos naturais e do controle do mercado consumidor.
13. A de transportes já era deficiente e não foi corrigida, ficando ainda mais lastimável, considerado o crescimento econômico, ainda expressivo até o final dos anos 70, graças a estes fatores: inércia da industrialização anterior; crescimento demográfico; os fabulosos recursos naturais do País; haver, até então, recursos de monta para investimentos públicos, pois as finanças do Estado ainda estavam em processo de serem arruinadas pelo modelo dependente, causador das exações referentes ao serviço da dívida.
14. Como lembrou o professor de tecnologia Weber Figueiredo, o presidente Vargas, em 1950, dada a insuficiência de trens em face da demanda de passageiros, mandara ampliar o sistema ferroviário. Havia 676 trens e transportavam-se mais de 500 mil passageiros/dia. Hoje são 450mil e pouco mais de 100 trens, muitos daquela longínqua época. Numerosas conexões no interior foram suprimidas em São Paulo e outros Estados.
15. Os transportes no Brasil retratam a situação de um país ao qual foi negada permissão para desenvolver-se. Tudo serve aos carteis transnacionais do petróleo/indústria automotiva. Predominam as rodovias. Não há linhas de metrô que atendam minimamente a demanda das regiões metropolitanas. As principais ferrovias são de natureza colonial: transportam aos portos colossais quantidades de minérios: Belo Horizonte/Vitória; Carajás/Itaqui.
16. Onde houve desenvolvimento, houve uso intenso das aquavias, como os cinco grandes lagos que ligam, nos EUA, Meio Oeste, Costa Leste e Canadá. Inglaterra, França, Alemanha construíram densas malhas de rios navegáveis e canais. Em 1900, já tinham boas ferrovias e ainda as estendem e aperfeiçoam. A China constrói ótimas ferrovias e trens de alta velocidade em todo seu extenso e acidentado território.
17. As ferrovias para transportar matérias-primas minerais e agrárias remetem ao modelo econômico que não valoriza os recursos naturais do País nem os processa em indústrias de capital nacional, porque acabou com elas, ao entregar o mercado às transnacionais.
18. Esse modelo causa mega-catástrofes irreparáveis, como a do rompimento das barragens de dejetos das minas, em Mariana, MG, operadas pela Samarco, controlada pela transnacional anglo-australiana Billiton, com participação da Vale.
19. Dada a corrupção e a obtusa mentalidade entreguista, nenhum dos poderes – a nível federal, estadual e local – exige reais controles de segurança, nem se mostra inclinado a acabar com os intoleráveis abusos. Chegam ao ridículo de participar de entrevistas midiáticas junto com executivos da transnacional transgressora.
20. O desastre econômico e ambiental remete, por sua vez, à privatização da portentosa Vale Rio Doce, em 1997, no esquema que entregou patrimônio de dezenas de trilhões de dólares, por 3 bilhões, “pagos” com títulos podres e compensados por créditos fiscais e outras benesses.
21. Da Serra de Carajás transportam-se diariamente 576 mil toneladas do melhor minério de ferro do mundo, com o que ela tende a acabar em 80 anos.
22. O saqueio mineral é subsidiado pela isenção tributária na exportação (Lei Kandir, LC 87, 13.09.1996, aplicável também ao agronegócio) e premiado por taxação ínfima na extração.
23. A CFEM (Compensação Financeira pela Extração Mineral) -  calculada sobre o líquido (a ETN arranja e superfatura despesas minimizar o faturamento  bruto) -  cobra estas alíquotas:  alumínio, manganês, sal-gema e potássio: 3%; ferro, fertilizantes e carvão: 2%; ouro: 1%; pedras preciosas,  carbonados e metais nobres: 0,2%.
24. Foram extraídas, em 2013, das “nossas” minas de ferro 370 milhões de toneladas, 90% para exportação e 10% para o mercado interno. Com a acelerada desindustrialização, a dependência do exterior continua crescendo, e, mesmo com preços em queda, os minérios metalúrgicos respondem por 13% do valor total das exportações.
25.  Na agricultura o quadro é semelhante: 55% das terras são usados para cultivar soja - metade da qual se destina à exportação – causando pauperização dos solos – e contaminação de aquíferos – decorrente do intenso uso de fertilizantes químicos, sementes transgênicas e pesticidas altamente tóxicos.
26. As exportações agrárias somaram, em 2014, US$ 96,7 bilhões = 43% das exportações totais do País, de US$ 225,1 bilhões, que equivalem a míseros 10% das exportações da China!
27. O caos agrário liga-se à miséria da energia, via setor sucroalcooleiro, formado por enormes usinas e plantations, a maioria já desnacionalizada, a exportar açúcar e álcool (6,1% das exportações totais), segundo o interesse dos patrões transnacionais.
28. Esse esquema prevalece contra a correta ideia original do programa do álcool (1974), que incluía agricultura familiar, descentralização, culturas alimentares combinadas e aproveitamento de óleos vegetais – como dendê, macaúba, pinhão manso etc. -  para substituir o diesel do petróleo, além do erguimento da química do álcool e dos óleos vegetais.
29. Além de se fazer tudo errado no biodiesel, engodo para ocultar a mão pesada das transnacionais – governantes das poluidoras fontes fósseis – as “alternativas” preferidas têm sido as dependentes de tecnologia e equipamentos importados, como a eólica.
30. Ainda sobre a infraestrutura de energia, não é de omitir a devastação em curso, desde Collor e FHC, a qual desnacionalizou o grosso da geração e distribuição da hidroeletricidade, e instituiu um sistema de precificação, impossível de entender, para propiciar indecentes lucros aos beneficiários, que já elevou as tarifas, em 150% acima da inflação. No processo, sugaram-se as estatais, a ponto de pôr a Eletrobrás em situação falimentar.

A infraestrutura do modelo dependente (Conclusão)


31. Além dos aumentos de tarifas, que superam 150%, em termos reais, decorrentes do sistema elétrico corruptíssimo, adotado em seguida à privatização, paira sobre a cabeça dos consumidores residenciais novo aumento na tarifa de eletricidade em 2016.
32. Foram eximidas deste, por decisão da Justiça (sic), as grandes usuárias de energia, as mineradoras e indústrias químicas transnacionais, beneficiárias, há muitos decênios, de tarifas subsidiadas.
33. Esse é mais um exemplo do modelo montado para arrancar o solo, o subsolo e as águas do País, juntamente com nutrientes e minérios, a fim de exportar tudo com subsídios governamentais, a preços ridiculamente baixos, e sem reparação pelos irreparáveis e colossais danos ambientais.
34. Nos combustíveis líquidos, predominam os fósseis, não-renováveis, conforme a matriz ditada pelos carteis mundiais da energia – os mesmos que suscitam a devastação de países inteiros do Oriente Médio para dominar fontes de petróleo e gás natural, rotas marítimas e dutos.
35. O petróleo penetrou também na geração elétrica, afora o carvão, e o Brasil quase estagnou na hidroeletricidade, em que dispõe de formidável vantagem natural, deixando de investir, a partir do final dos anos 70.
36. Por que? Porque o modelo econômico dependente causa penúria, devido aos preços altos dos bens e serviços, geradores de ganhos que não ficam no País: daí, escassez de divisas e crescimento da dívida externa.
37. Além disso, na mentalidade dos subordinados aos concentradores financeiros mundiais, a infraestrutura não dispensa equipamentos importados, de alto custo, pagos em dólar. Assim, abortou-se o desenvolvimento das excelentes tecnologias e bens de capital que se acumulavam na engenharia de pequenas centrais hidrelétricas.
38. Quando, sob os últimos Executivos federais, se tentou recuperar parte do terreno perdido na hidroeletricidade, usinas geradoras e linhas de transmissão foram enormemente retardadas, encarecidas e prejudicadas, por interferências de ONGs, fundações e governos estrangeiros, entidades como IBAMA, FUNAI e Ministério Público.
39. Ademais de subaproveitar as quedas, suprimiram-se e reduziram-se eclusas, em prejuízo também dos transportes fluviais.
40. Sempre em benefício dos carteis transnacionais foram instaladas centrais térmicas a óleo combustível de petróleo, que elevam, brutalmente, os custos da eletricidade. Também, a gás, até para processar o da Bolívia, então controlado por Enron, Shell e BP (a Petrobrás pagando os dutos).
41. Uma das finalidades de superdimensionar a indústria automotiva transnacional -  sugadora de subsídios federais, estaduais e municipais, e de sobrepreços abusivos -  foi dar mercado a gasolina e diesel de petróleo.
42. Esses deveriam ter sido substituídos pelo etanol (inclusive bagaço-de-cana) e pelos óleos vegetais, econômicos, limpos e eficientes para também para gerar eletricidade.
43. São melhor alternativa que a energia eólica. Nesta investem-se dezenas de bilhões de reais, enquanto nada para valer, nem correto, é aplicado em óleos vegetais: mais um indicativo de que o modelo dependente pretere indústrias intensivas de mão-de-obra, em detrimento da criação de empregos, inviabiliza tecnologias nacionais e favorece o uso de equipamentos e tecnologias importados.
44. Nos transportes, intra e interestaduais, e urbanos, quase tudo depende de veículos automotores: usuários extorquidos por sobrepreços pelas montadoras transnacionais; altos custos de combustíveis e lubrificantes; pedágios instalados em estradas construídas com dinheiro público; rodar sobre asfalto deteriorado ou atolar-se nas estradas de terra.
45. Shangai já passa de 500 km de linhas de metrô, e Londres tem 400 km. São Paulo, 80 km. Nem vale a pena falar das outras cidades brasileiras.
46. Collor, com desprezo ao Brasil, extinguiu a única companhia brasileira de navegação marítima. As empresas de navegação aérea foram eliminadas (Panair do Brasil, 1965). Nos anos 1990, com FHC, foram inviabilizadas VARIG, TRANSBRASIL e VASP.
47. Não há mais nenhuma de capital nacional. A CELMA, da VARIG, com valiosa tecnologia em motores e peças, foi entregue à transnacional GM.
48. A privatização foi desastrosa também nas telecomunicações: os brasileiros pagam as tarifas mais caras do mundo. Foi perdido até o estratégico controle, da ex-estatal EMBRATEL, para a MCI International, dos EUA.
***
Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/benayon/2015/12/02/o-brasil-tem-de-reviver-como-nacao/

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Triste sina a que nos reserva 2018

2018a
Façamos o breve exercício de olhar o futuro. Dá-se a isso o pomposo nome de análise de cenários.
Dessa análise resultam planejamentos estratégicos e planos de ações que possibilitem o enfrentamento das condições piores ou ideais, bem como daquelas mais previsíveis, ou desejadas, pois que o que mais queremos é ter tudo sob nosso estrito controle.
O cenário para 2018 não poderia ser pior: por um lado, Lula. De outro, Aécio ou Alckmin. Quiçá, Marina. Sem chances Luciana.
Ciro começando a correr por fora. E agora, como planejar?
Dos meus cinquenta anos, que vivi quotidianos, trinta foram gastos com eles e vinte com os militares.
Como tentar planejar um futuro quando as opções são as mesmas desde que nos conhecemos por gente?
OK, o PT foi uma novidade que nos permitiu uma mudança. Mas caiu, como todos os outros, na mesmice de pensar que apenas ele é capaz. Cometeu o erro de não permitir que forças novas surgissem, não apenas dentro de si, mas como em toda a esquerda.
O PT fez-se sinônimo de esquerda, a tal ponto do PSOL se declarar à esquerda do PT.
E o que tem o PT para oferecer? Lula. Nada mais que Lula.
Quiçá possam, a partir de 2016, oferecer Haddad como alternativa. Seria um claro indício de que querem se manter no poder não apenas pelo poder, mas pela atualização, pela renovação, por oportunizar aos quadros mais jovens que enfrentem a disputa.
Fora disso é disputa de poder pelo poder. E sem essa de ser a única forma de manter um projeto ideológico.
Se somente com Lula é que vão manter um projeto ideológico, é sinal pronto e acabado de que só existe projeto ideológico dentro do PT.
Ou seja, para o PT não existe esquerda além daquela que ele quer que seja esquerda.
Não compactuo com a ideia de que o PT é o dono da esquerda ou somente ele é a esquerda, como pensa a maioria dos petistas de carteirinha. Da mesma forma que é triste ver que a direita está absolutamente dominada pela ala ultra-direitista do PSDB, DEM, PPS e demais.
Ou os fisiologistas do PMDB, PDT, PP e demais partidos que fingem apoiar o governo.
O exercício de olhar para o futuro me entristece. Significa continuar olhando para o passado.
Duas gerações de brasileiros foram praticamente ignoradas pelos partido e cerebralmente lavadas pela mídia, a ponto de não termos juventude capaz de despontar no cenário político nacional.
Aliás, no cenário político estadual, a ver os últimos governadores eleitos.
E dizer que essa era a geração que, em 68, dizia querer mudar o mundo…
Parece que aprenderam a não largar o osso…
http://www.escosteguy.net/?p=5004

domingo, 20 de dezembro de 2015

DA IMBECILIDADE DO ANTITERRORISMO


Por Mauro Santayana, em seu blog

Na abertura de um recente – e bizarro - "Seminário Internacional de Enfrentamento ao Terrorismo no Brasil", o Ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, afirmou que "não existem limites para a preocupação com o terrorismo nas Olimpíadas" e defendeu que o país "aceite a cooperação de órgãos de inteligência internacionais" para diminuir o risco nesse sentido.

No momento em que a Câmara recebe, de volta do Senado, uma "lei antiterrorista", cabe discutir com cautela essa questão, sob a ótica da política exterior brasileira e da nossa relação com outras culturas e países no atual contexto geopolítico mundial.

Tem o Brasil, alguma razão para "combater" o terrorismo, para além da condenação moral - não apenas nas ruas de Paris, mas também de Bagdá, Damasco, Trípoli - de ataques contra a vida e da prestação de homenagem e solidariedade às suas vítimas?

A Rússia, nosso sócio no BRICS, foi levada a atacar o Estado Islâmico por questões geopolíticas, e agora transformou-se em vítima, com a explosão, no ar,  de um avião carregado de seus cidadãos, no Egito. A Síria é um país onde ela possui portos e bases militares, e notáveis ligações históricas, no qual tenta manter seu aliado, Bashar Al Assad no poder, defendendo-o dos terroristas do Estado Islâmico, que foram armados pelos próprios EUA e o "ocidente" para derrubar o regime sírio, e que, como um Frankenstein louco e sangrento, fugiu ao controle de seus criadores.

Os EUA e a França estão pagando pelo erro de tentar agir como potências coloniais no Oriente Médio e no Norte da África, derrubando governos estáveis, como o de Saddam Hussein e o de Muammar Khadaffi, e de se meter em assuntos alheios.

Tem o Brasil interesses geopolíticos no Oriente Médio, região onde atua no Comando das Forças Navais da ONU no Líbano?

Não, a não ser - assim como faz no Haiti - como cumpridor de um mandato das Nações Unidas.

O Brasil já se meteu, alguma vez, em assuntos alheios, invadindo ou bombardeando países no Oriente Médio ou no Norte da África?

Não, porque, pelo menos até agora, protegidos pela sábia doutrina de não intervenção consubstanciada no texto da Constituição Federal, como macacos velhos que somos - ou éramos, ao que está parecendo - não metemos a mão em cumbuca, a não ser que sejamos atacados primeiro, como o fomos na Segunda Guerra Mundial.      

Quanto à segurança interna, a diferença entre terrorismo, assassinato ou tentativa de homicídio é puramente semântica. (Santayana é um Mestre!)

Para quem morre, não tem a menor diferença a motivação de quem o está atingindo.

Já existe legislação penal, no Brasil, de proteção à vida.

O resto é “lero-lero”, para emular potências estrangeiras e se submeter aos gringos.

Um perigosíssimo “lero-lero”, do qual toma parte a realização, em território brasileiro, de "seminários" como esse, que nos obrigam a situarmo-nos de um determinado lado da linha. E, também, naturalmente, a crescente "cooperação" com forças policiais estrangeiras, que pode ser feita, normalmente, para segurança de eventos internacionais desse tipo, sem a conotação política, "antiterrorista", que estão tentando impingir-nos.    

Uma coisa é dizer que vamos reforçar a segurança nas Olimpíadas.

Nada mais natural, considerando-se que teremos multidões reunidas em estádios - coisa que acontece rotineiramente em grandes jogos de futebol, por exemplo - e que estaremos recebendo visitantes estrangeiros.

Outra, muito diferente, é afirmar que estaremos tomando "medidas antiterroristas" e adotar um discurso, e uma atitude, que nunca adotamos antes, nesse contexto.

Mudando uma postura tradicional - compartilhada por governos de diferentes matizes ideológicos - que não nos trouxe - muito pelo contrário - nenhuma conseqüência negativa, até agora.

Quem fala muito acaba dando bom dia a cavalo.

De tanto se referir ao "antiterrorismo", e ficar cutucando com essa bobagem quem está quieto, algum grupo de terroristas, pode, sim - mesmo sem ter visto o Brasil como inimigo até este momento - vir a se sentir tentado a testar a eficácia das medidas de "segurança" às quais estamos nos referindo a todo instante, com relação às Olimpíadas.

E isso, principalmente, se nessas "medidas" dermos muito espaço para equipes de segurança estrangeiras - de países considerados alvos - para agirem em nosso território como se estivessem no deles.

Ou se adotarmos - cão que muito ladra não morde - uma atitude "antiterrorista" que seja arrogante e ostensiva contra cidadãos de alguns países, árabes, por exemplo, na chegada aos nossos aeroportos, ou em nossas ruas, como já o estamos fazendo.

No mundo, há poucos países tão subservientes em sua vontade de copiar os estrangeiros.

No Rio de Janeiro, o site da Sociedade Beneficente Muçulmana tem sido atacado por fascistas - alimentados pelo mesmo discurso "antiterrorista" do governo - que acusam "esquerdopatas" de estarem "trazendo o EI" para o Brasil, ao abrir as portas para os refugiados árabes. 

E, no sul do Brasil, refugiadas sírias declararam ter sido discriminadas e agredidas, após os atentados de Paris - como se a população síria não sofresse todos os dias dezenas de atentados semelhantes por parte de terroristas que, como mostra o caso do Estado Islâmico, foram originalmente armados  pelos EUA e por países europeus, para tentar derrubar o governo  de Damasco - dando início à guerra civil naquele país, e à onda de refugiados que atingiu a Europa como um tsunami humano.

Guardadas as devidas proporções, o que o Ministro Ricardo Berzoini está cometendo, com as suas declarações,  e o próprio governo - ao promover esse tipo de encontro -é um tiro no pé ideológico e um tremendo atentado ao bom-senso.

Se o país está preocupado com o "terrorismo", a melhor medida a tomar é não ficar anunciando isso para todo o mundo e a toda hora, e usar com inteligência estratégica a legislação vigente.

O primeiro passo para se transformar em alvo do "terrorismo" e ser vítima de um ataque terrorista é começar - sem nenhum inimigo aparente - a se declarar contra ele - a adotar uma doutrina "antiterrorista" e  leis "antiterroristas",  que, no final das contas, como demonstram os casos dos EUA e da França, por exemplo, não servem de absolutamente nada para evitar ataques rápidos, covardes e mortíferos, de uma meia dúzia de  suicidas determinados, quando eles decidem fazê-los.

A pergunta sem resposta: por que Dilma é ruim?

manifestação 13dez15
manifestação 13dez15
Pesquisa realizada pelo Datafolha, durante as manifestações do dia 13/12/15, apontou que “98% dos entrevistados declarou achar o governo da petista ruim ou péssimo”.
Imagino que uma pesquisa dessas não faça a pergunta “por que você acha o governo Dilma ruim ou péssimo?” pela simples razão de que obteriam poucas respostas concretas, com explicações supostamente plausíveis. A imensa maioria não saberia dizer uma única razão, a não ser a tradicional “Dilma e o PT nos traiu”, ou então o PT é o mais corrupto dos partidos, o governo é corrupto. E assim por diante.
As poucas respostas plausíveis talvez apontassem para o “ajuste fiscal”, alegando que a inflação aumentou, o desemprego aumentou, a corrupção aumentou, o dólar aumentou… Mas também, se questionados sobre o ajuste fiscal, não saberiam explicar o que é e como está sendo feito.
Converso cotidianamente com gente assim: acham o governo ruim, querem o impedimento da presidenta, mas não sabem dar uma explicação, além das emocionais. Quase cegos que só alcançam ler as manchetes garrafais…
E quando não sabemos explicar o que desejamos, tudo vira pura emoção, prato cheio para a mídia oligárquica e para os sacripantas tipo Aécio Neves, FHC e sua turma do PSDB, DEM, PPS e outros aproveitadores.
A verdade é que a imensa maioria (senão todos) dos 98% participantes sequer fazem ideia do que seja o Brasil. Não fazem ideia da inflação, não sabem o que é desemprego e, talvez, sintam apenas o aumento do dólar. Sequer uma foi atingida pelo ajuste fiscal.
É uma galera que vive em outro mundo, um mundo criado pela mídia oligárquica. Vive bem, obrigado, segundo a pesquisa aponta.
Há, porém, um dado positivo na pesquisa: tem aumentado a idade média dos participantes, agora em 48,2 anos. Significa dizer que os mais jovens estão abandonando a canoa furada onde se meteram sem muito pensar, apenas levados pela paixão da novidade de se pensarem protagonistas, não importando do quê.
A pergunta nunca terá resposta, pois se analisados a sério os governos do PT, verão que de ruim ou péssimo nada têm ou tiveram, a não ser a péssima comunicação social e bancarem a mídia oligárquica para que joguem contra.
Faça a experiência: pergunte a um amigo que se diz contra o governo por que ele é contra.
Será uma pergunta sem resposta…
(imagem: daqui)
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