quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A LIÇÃO DA JUVENTUDE PAULISTA


Paulo Freire já dizia: o mestre é aquele que, de repente, aprende. E é esse homem lindo que me vem à mente ao acompanhar as notícias das escolas ocupadas em São Paulo. Quando a máquina de ideologia – que são os meios de comunicação – transmitem, à exaustão, informações sobre o colapso da educação, sobre a violência nas escolas, alardeando que os jovens não querem nada com nada, vem essa gurizada a mostrar que isso não é verdade.

Eis aí um fato que precisa ser compreendido na sua mais ampla dimensão. Por que raios essa gurizada está ocupando as escolas, contra a proposta de fechamento e reestruturação do governo paulista? O que nos dizem esses guris e gurias, abraçando e protegendo velhos prédios carcomidos pela incompetência governamental? Que estupenda lição oferecem esses jovens aos “especialistas” que arrotam verdades sobre eles?

Marx já nos alertou desde há séculos que é preciso auscultar a realidade e que é da história mesma que brotam as ideias que, então, passam a comandar a vida. Então é hora de olhar a vida. Não existe colapso na educação, o que existe é a deliberada ação de não oferecer aos alunos do primeiro e segundo graus um ensino de qualidade. E como se faz isso? Simples. Começa-se pelo abandono das estruturas. As escolas vão se desmilinguindo, ficando feias, com tudo caindo. Não há cores, não há flores, não há beleza, os ambientes vão se parecendo com prisões. Depois, paga-se mal aos professores e eles precisam se virar nos trinta, dando quinhentas aulas para conseguir uma renda capaz de sustentá-los com um mínimo de dignidade. E o que pode ensinar um professor esgotado, cansado, estressado? Por fim, cria-se um plano de educação que não respeita os anseios das gentes, construído em salas fechadas, por especialistas ou tecnocratas que não conhecem a vida real, abarrotado de preconceitos e verdades cristalizadas.

Então, juntando tudo isso, as escolas vão ficando cada dia mais tristes, parecendo um depósito de gente, um lugar onde o riso é punido, a brincadeira é vista como um problema, e a afetividade passa longe. Não é possível criar um ambiente amoroso - como queria Paulo Freire – se não são dadas as condições materiais para isso.  Lembrem, a realidade vem primeiro que a ideia.

Aí vem o governo paulista  - e não é só ele, em Santa Catarina também – falar em reestruturação, que nada mais é do que adequar o sistema de ensino aos interesses econômicos. Fechar escolas para baixar custos, baseado em números, estatísticas, planilhas. Pouco importa se o fechamento vai tirar o guri e a guria do seu bairro, ou vai desfazer um vínculo afetivo. Dane-se isso. Dane-se Paulo Freire, “aquele comunista”.

Pois quando o estado – baseado na algaravia conservadora de que a juventude não está nem aí para nada – decide mexer nesse já miserável quadro do ensino público, vem a realidade e o confronta. Os jovens pegam suas tralhas, seus cadernos surrados, seus telefones espertos comprados nos camelôs, colchões velhos, seu entusiasmo, seus sonhos, e ocupam a escola. Diante da polícia, das armas, das botinas, dos cassetetes eles colocam seus corpos ainda em formação, frágeis, mas resolutos. Aquele lugar em escombros ainda é o único espaço que eles encontram para minimamente burlar o perverso sistema que só os quer minimamente capazes para fazer girar a máquina.

Os secundas de São Paulo protegem a escola com seus corpos. Pode haver lição maior? Eles dizem não ao projeto de desmonte, ao descaso, ao desamor, ao golpe do capital. Eles apontam um horizonte de belezas. Sabem que aquilo que ali está  - a escola, o programa – ainda não é suficiente, têm consciência do que está por trás do desmonte, do fechamento, dos baixos salários dos professores, e exigem mudanças.

A escola que eles estão defendendo é o espaço do saber, o saber que é sabor, gosto bom. A escola de Simón Rodríguez, de Paulo Freire, de José Martí. A escola que forma para a vida, que promove a solidariedade, o afeto, a cooperação. Uma escola que é real, mas que não existe ainda por conta da habilidade de quem governa. Porque uma escola assim é sementeira de transformação.

O que os governos não sabem é que essa escola que eles plasmam com seus planos de ensino engessados e baixos salários – ineficiente, escura, conservadora – não é o único espaço por onde transita a criança e o adolescente. Eles caminham pelo bairro, andam de ônibus, enfrentam a violência, a miséria, a falta de interesse dos adultos. Eles são capazes de fazer as ligações e compreender o mundo que se mostra cotidianamente. E, assim, podem transcender às marteladas ideológicas da mídia, dos governos, dos adultos empedrados e conservadores.

A pedagogia das ocupações em São Paulo é libertária e transformadora. Essa escola que os secundas estão construindo com seus corpos, suas danças, canções e sorrisos é a escola necessária. Mas, não esperemos que os governos os compreendam e os aceitem. O estado vai combater essa escola e esses jovens até o mais amargo fim, assim como combate e pune os professores que se insurgem contra a lógica bancária e mercantilista da educação.

É uma queda de braço. É a luta de classe.

E, aconteça o que acontecer, essa gurizada já venceu. Porque essa experiência pedagógica vivida, esse fazer o próprio caminho não será esquecido por milhares de jovens. Isso viverá para sempre forjando espírito e corpo para novas batalhas, para além da escola.

 O humano sempre escapa à escravidão. Essa é uma lição que os dominadores parecem não entender. Os quilombos são parte constitutiva do que somos, e seguirão existindo. Terras livres, de negros, de crianças, de mulheres, de índios, de velhos, de todos aqueles que, incapazes de aceitar o garrote, se levantam e andam.


As escolas ocupadas de São Paulo fervem de vida, de luta, de alegria, de amor. Isso é educação!
http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2015/11/a-licao-da-juventude-paulista.html

Estado é a solução, não o problema do país


O último Boletim de Conjuntura do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, intitulado "Cenário Desafiador", aponta alguns dos principais problemas enfrentados pelo país e derruba algumas das "soluções" fabricadas pela turma que quer que o modelo Casa Grande e Senzala seja reinstalado no Brasil para usufruto do 1% da população que detém o poder econômico.

O segundo parágrafo do documento esclarece a questão:

"Por trás das propostas de privatização, de fim da “rigidez orçamentária”, de fim da estabilidade do funcionalismo público, e outras, há uma crença de que o problema do país é o Estado. Para essa visão, se diminuir o tamanho do Estado, o país começa a melhorar. O fato é que esta concepção é um grande contrassenso. Os avanços sociais que o Brasil apresentou nos últimos anos vieram, principalmente, por meio das ações articuladas e encaminhadas pelo Estado brasileiro. A redução da desigualdade, a inclusão social e o combate à fome, só para citar alguns, são efeitos da ação estatal organizada e perseverante."

A seguir, a primeira parte do Boletim de Conjuntura do Dieese (a íntegra pode ser acessada aqui)


Cenário desafiador
Em meio a um cenário de crise econômica, o atual processo político brasileiro ressuscitou algumas propostas que compõem um receituário econômico derrotado pelas urnas na última década. Nele há indicações de retomada das privatizações (inclusive da Petrobras), fim da política de valorização do salário mínimo, rediscussão da estabilidade no emprego para o funcionalismo público, flexibilização da legislação trabalhista e assim por diante. Os principais alvos dos que propõem “alterações radicais” na atual política econômica são as receitas vinculadas a direitos sociais, originários da Constituição de 1988, chamada de Constituição Cidadã, e forjada na contramão da onda neoliberal que varria o mundo naquele período.

Alguns analistas e parlamentares têm defendido acabar com as vinculações orçamentárias obrigatórias (à educação e saúde, por exemplo) sob o argumento de que as vinculações enrijecem os gastos públicos e induzem elevações de gastos quando as receitas se elevam. Alegam ainda que este tipo de política atrapalha a competitividade do país, encarece o custo do investimento privado e não permite a poupança no setor público. Na verdade, eles defendem diminuir as despesas públicas vinculadas aos direitos sociais na Constituição. 

Por trás das propostas de privatização, de fim da “rigidez orçamentária”, de fim da estabilidade do funcionalismo público, e outras, há uma crença de que o problema do país é o Estado. Para essa visão, se diminuir o tamanho do Estado, o país começa a melhorar. O fato é que esta concepção é um grande contrassenso. Os avanços sociais que o Brasil apresentou nos últimos anos vieram, principalmente, por meio das ações articuladas e encaminhadas pelo Estado brasileiro. A redução da desigualdade, a inclusão social e o combate à fome, só para citar alguns, são efeitos da ação estatal organizada e perseverante.

Alguém pode supor que o Brasil conseguiu sair do Mapa da Fome, da ONU (Organização das Nações Unidas), em 2014, um dos acontecimentos mais importantes das últimas décadas, por ação e virtudes do mercado? Somente o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), um dos instrumentos
utilizados para combater a fome no país, possibilita servir diariamente refeições a 43 milhões de estudantes da educação básica. Não se trata de uma ação eventual, mas de ações diárias, que não podem falhar, que
possibilitam servir um número de refeições equivalente à população da Argentina. Esta é uma entre milhares de ações permanentes que possibilitaram ao país reduzir a pobreza extrema em 75%, entre 2001
e 2012, e diminuir o percentual dos brasileiros que passam fome de 14,8% para 1,7% da população, no mesmo período.

De fato, os problemas econômicos se agravaram ao longo do ano, em parte como consequência da contaminação da economia pela instabilidade política vigente. Além disso, enfrentamos os efeitos de um ajuste que cortou gastos públicos, inclusive na área social, com consequências diretas sobre a vida das
pessoas de menor renda. Mas não temos o direito de nos enganar. Por trás da confusão, existem objetivos estratégicos inconfessáveis, entre os quais, retroceder em relação aos avanços que os trabalhadores e os mais pobres conseguiram nos últimos anos.

O Brasil tem crescido pouco e deve encerrar 2015 com recuo na produção de riqueza, ou seja, o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano será inferior, em termos reais, ao de 2014. A recessão econômica, combinada a uma inflação mais alta que a média dos últimos anos, tem tornado as negociações coletivas ainda mais difíceis do que já são normalmente. Os resultados das negociações no primeiro semestre, apurados pelo Balanço das Negociações, realizado do DIEESE, mostram a deterioração do quadro. Um pouco menos de 70% das negociações conquistaram ganhos reais e cerca de 15% delas não conseguiram nem repor a perda salarial nos primeiros seis meses do ano. Ademais, os reajustes acima da inflação se concentraram na faixa de até 1% de ganho real. O desempenho das negociações no primeiro semestre foi o pior da série histórica pesquisada pelo DIEESE desde 2004.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/11/estado-e-solucao-nao-o-problema-do-pais.html

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Viveremos uma dominação Muçulmana Mundial?


Por em seu blog


Tenho recebido às vezes alguns materiais na internet falando sobre uma suposta dominação muçulmana no Planeta e, sempre que ocorre algum atentado terrorista, esse tipo de material circula com mais intensidade.

Em todos esses materiais, reparei que praticamente todas as informações não vêm acompanhadas de nenhuma fonte, além de não haver também nenhuma “assinatura”, ou seja, quem fez o material não teve coragem para assiná-lo. Ao meu ver, sempre que isso acontece, certamente há razões obscuras por trás desse tipo de criação e divulgação.

O que estou escrevendo parece uma obviedade, mas mesmo assim acho importante que seja colocada. Devemos tomar cuidado com generalizações, qualquer uma. A maioria dos comentários sobre a cultura e a religião muçulmana que são espalhadas pela internet são preconceituosos, tendenciosos ou simplesmente são inverdades.

Conheci pessoalmente alguns muçulmanos, são logicamente pessoas comuns, alguns são altruístas, outros nem tanto, alguns são mais felizes, alguns são mais extrovertidos, outros mais egoístas, outros menos, enfim, exatamente como sempre acontecerá em qualquer grupo de pessoas, independente da raça, religião, opção sexual ou o que for. 

Esse ódio que vem sendo disseminado contra a população muçulmana beneficia a alguns grupos econômicos importantes, a alguns grupos de extrema direita que vivem do ódio e do preconceito disseminados na população, e também ao Estado de Israel, que continua oprimindo diariamente os Palestinos na Faixa de Gaza e montando acampamentos ilegais na região, avançando cada vez mais suas fronteiras na base da força com a criminosa conivência de grande parte da mídia mundial, controlada na sua maioria por grupos com grandes interesses econômicos.

Infelizmente, existem fundamentalistas, países e organizações com interesses diversos, que manipulam e financiam fanáticos religiosos muçulmanos, os quais usam de força para fazer verdadeiros absurdos, exatamente como aconteceu com a Igreja Católica em outras épocas da nossa história. Entretanto, o que não se pode aceitar é que outros se aproveitem desses atos injustificáveis e covardes para difundir o ódio e a intolerância contra toda a população muçulmana.

A índole de uma pessoa não tem qualquer relação com a religião, cor da pele ou opção sexual. E a violência no mundo nunca vai se resolver com preconceito, ódio e exclusão, pelo contrário, a única forma de vivermos em uma sociedade menos violenta é evoluindo, sendo mais humanos, o que necessariamente nos remete a muito mais inclusão, respeito e diversidade.

Como comentei sobre a Faixa de Gaza, vou recomendar um excelente filme de origem Palestina. O filme nos mostra a vida na Palestina sobre outros pontos de vista e perspectivas em relação às que estamos acostumados a ver e ler nos jornais diariamente. O filme é realmente muito bom, procurem em alguma locadora ou na Internet, enfim, vale a pena assistir. Segue abaixo:

PARADISE NOW

Para terminar, percebo também que a maioria das informações que chegam sobre o Estado Islâmico são extremamente simplistas, então, para quem quiser tentar entender um pouco mais sobre a origem desse grupo fortemente armado e com grande poder financeiro, sugiro parar um tempo para ler o texto do Economista Edmilson Costa, publicado no site do brilhante jornalista Luis Nassif, o qual encontra-se no link abaixo:


Esse texto apresenta apenas um dos milhares de pontos de vista que existem sobre o tema, mas já nos dá uma ideia muito clara sobre a gigantesca complexidade da situação e quantas forças e interesses envolve em todo o planeta. 

Boa leitura e fiquemos em paz.

Seis coisas que você provavelmente não aprendeu na escola sobre a África

(Foto: British Museum)
Reinos de Benim produziam obras em bronze há mais de mil anos; 
muitas estão em museus britânicos

Por Fernanda da Escóssia, via BBC Brasil
Kilombo, assim, com "k", era um acampamento de guerra dos jagas, um povo africano que vivia onde hoje fica Angola. O catolicismo foi introduzido na Etiópia quase ao mesmo tempo que na Europa.
Coisas assim, que você nunca aprendeu sobre a África, ou aprendeu errado – o que dá quase no mesmo –, estão na lista abaixo, elaborada a pedido da BBC Brasil pela historiadora Marina de Mello e Souza, coordenadora do NAP (Núcleo de Apoio à Pesquisa Brasil-África) da USP.

Ela é professora do Departamento de História da universidade e autora, entre outros livros, de Reis Negros no Brasil Escravista e África e Brasil Africano, vencedor do prêmio Jabuti de melhor livro paradidático em 2007 e detentor do selo “altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil.
Confira a lista, elaborada às vésperas do Dia da Consciência Negra:

Europeus não controlavam o comércio
No continente o comércio existe desde a Antiguidade, tanto entre os povos africanos como com os povos de outros continentes. Até o final do século 19, eram os africanos que controlavam as trocas comerciais com os europeus.
Há católicos na África há de mais de 1.500 anos
A Etiópia é uma sociedade católica desde o século 4. Seu rei se converteu ao catolicismo nesse século, apenas poucas décadas depois que o imperador romano Constantino adotou essa religião e determinou o fim da perseguição aos cristãos.
Brasil fala português, mas com toque banto
Parte considerável do nosso vocabulário é de origem banto, um tronco linguístico africano, o que nos distancia bastante do português de Portugal. São dessa origem palavras como camburão, camundongo, tonto, zonzo, farofa e macaco.

 (Foto: Thinkstock)
Sociedades católicas existiam na Àfrica muito antes de o Brasil ser descoberto

Gana já existiu em outro lugar

O atual Benim se localiza onde antes existiu o Daomé e o antigo reino do Benim localizava-se na atual Nigéria. Gana é onde antes existiu o estado Axante, e na atual Mauritânia existiu, do século 9 ao 13, uma sociedade poderosa chamada Gana. Muitos nomes de países africanos atuais são homenagens a antigos reinos que existiram em outras regiões.

Africanos queriam vender escravos com 'exclusividade'

Alguns reinos africanos também tinham interesse em manter o tráfico de escravos com o Brasil. Entre 1750 e 1818, reis do Daomé enviaram cinco missões diplomáticas para solicitar ao Brasil exclusividade na venda de escravos africanos.

Quilombo (ou melhor, kilombo) era acampamento de guerra

Kilombo era o acampamento de guerra dos jagas, povo que viveu na região da atual Angola. Muitos vieram para o Brasil como escravos, fugiram de seus senhores e se abrigaram no Quilombo dos Palmares.

Na avaliação de Marina de Mello e Souza, que leciona História da África desde 2001 na USP, havia no Brasil, até pouco tempo, extremo desconhecimento acerca do tema, com exceção de nichos muito específicos.
“Isso fez com que todos nós fôssemos bastante ignorantes a respeito daquele continente e das populações que lá vivem e viveram”, afirma. Por outro lado, a professora diz que tem notado extremo interesse dos alunos sobre o assunto e que a dificuldade inicial costuma ser seguida por espanto e fascinação.

Ao avaliar o material didático, a historiadora considera que antes era difícil obter textos sobre o tema em português e lista como referências, no nível universitário, obras de Alberto da Costa e Silva, como A Manilha e o Libambo (2002) e A África e os Africanos na Formação do Mundo Atlântico, 1400-1800, de John Thornton, publicado no Brasil em 2004.

Sobre o ensino fundamental e médio, entende que houve a partir de 2003 – quando história da África virou disciplina obrigatória nas escolas –, intenso movimento das editoras no sentido de publicar materiais de apoio.
“Muita coisa de qualidade duvidosa foi posta à disposição, mas esse quadro tem mudado. Hoje há muito material de boa qualidade disponível, principalmente entre os paradidáticos e literatura infanto-juvenil. Os livros didáticos ainda carecem de tratar com mais cuidado assuntos relacionados ao continente africano, inseridos como um adendo, para responder à demanda gerada pela obrigatoriedade estabelecida por lei”, afirma.
*****
Nota Claudicante:
Quem quiser se aprofundar na história da África indicamos a coleção História Geral da África, são sete volumes em pdf, esta que é considerada pela UNESCO como um de seus projetos editoriais mais importantes dos últimos trinta anos.   
 http://blogdoitarcio.blogspot.com.br/2015/11/seis-coisas-que-voce-provavelmente-nao_24.html

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Atentados em Paris não aconteceram


Por  Wilson Roberto Vieira Ferreira , via Cinegnose

Acumulação, consonância e onipresença. Esses três palavras definem a atual cobertura da grande mídia brasileira aos ataques em Paris. Ao contrário da autêntica Chernobyl brasileira em que se transformou a catástrofe ambiental e humana em Mariana/MG com o rompimento da barragem de detritos da Vale do Rio Doce/Samarco. Por que essa diferença de tratamento? Há muitos motivos políticos e econômicos em não expor uma empresa privada anunciante na grande mídia. Mas também porque a essência do terrorismo é midiática para ser midiatizável. Os atentados em Paris foram praticamente um kit imprensa dado de mão beijada para as redações com personagens, histórias e roteiros prontos. Será que esse é o motivo da recorrência de relatos sobre a sensação de irrealidade em depoimentos de vítimas e testemunhas? E também o motivo da espiral de especulações sobre uma suposta Operação False Flag? E se os mais de 100 mortos não forem prova de que testemunhamos um acontecimento real?

Terminado o jogo França X Alemanha no Stade de France na fatídica noite de sexta-feira 13 dos ataques em Paris, os torcedores se dirigiram ao gramado à espera da autorização para deixar o local. Depois a TV mostrou ao vivo a multidão dirigindo-se aos corredores de saída. Cantavam a Marselhesa, agitando a bandeira da França e erguendo os punhos.

Certamente não era pela comemoração da vitória da França por 2 a 0. Informados pelos celulares sobre o que transcorria fora do estádio, o clima era de ódio, revolta e evidente desejo de revide contra os terroristas. Essa talvez tenha sido a imagem mais emblemática daquela noite, porque mostrou ao vivo o resultado imediato dos ataques terroristas, de conveniência política e geopolítica – com a maior população muçulmana da Europa e uma das sociedades mais divididas do continente, reforça ainda mais a xenofobia contra a atual onda de imigrantes fugidos da guerra na Síria e Afeganistão.

Além de criar um conveniente Estado policial reforçado pelo medo e tensão popular, reforçar o papel da França na coalização militar liderada pelos EUA contra a Síria e atingir o país mais simbólico da Europa: a terra da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.  


Terrorismo é um fenômeno midiático: não visa tomada de poder, mas a dissuasão – voltado para as ondas concêntricas da mídia objetiva produzir a percepção de pânico, tensão, insegurança, divisão e todo um conjunto de sentimentos mais baixos da psique humana. Fenômeno tão midiático que, certa vez, fez o filósofo francês Jean Baudrillard afirmar que os atentados de 2001 jamais ocorreram. Não teriam sido fatos “reais” ou “históricos” mas fatos midiatizados.

Mesmo com imagens de vítimas sendo arrastadas deixando rastros de sangue e mortos cobertos pelos paramédicos nas ruas, é paradoxal a sensação de irrealidade relatado tanto pelas vítimas como por analistas na Internet.

A “irrealidade” dos atentados

Por exemplo, em poucas horas depois dos ataques já era possível ler publicações que já enumeravam inconsistências e estranhas coincidências no episódio (que abordaremos mais adiante). O que seriam evidências de que estaríamos diante de mais um evento False Flag (Falsa Bandeira) – espécie de auto-terrorismo onde atentados são criados pelo próprio Estado para justificar determinada agenda política ou econômica. Hipótese absurda para muitos (é impensável o Estado matar seus próprios cidadãos) mas já fartamente documentada como estratégia de propaganda para criar tensão, como também veremos adiante.

 Uma testemunha da chegada da polícia na cada de shows Bataclan relatou: “eles agiam como se estivessem em um filme” (clique aqui). Enquanto isso, o jornalista do Le Monde que mora atrás do Bataclan filmou com o celular o desespero das vítimas fugindo da sala de espetáculos. “Estava trabalhando em casa e estava passando um filme em que Jean-Huges Anglada interpreta um policial... tinha gente correndo para todos os lados... pensei nas imagens do 11 de setembro”. Uma meta-memória, sabendo-se que no próprio 11 de setembro testemunhas relataram que acreditavam que o incêndio nas torres era um efeito cenográfico de alguma produção hollywoodiana.



O depoimento do brasileiro João Lira, professor de arquitetura, também é significativo: “vi faíscas do outro lado da calçada. Juro que pensei que eram bombinhas de São João, uma girândola talvez, que poderia fazer parte de alguma brincadeira cenográfica”. O que relembra o episódio do chamado “maníaco do Shopping” em 1999 que abriu fogo em uma sala de cinema em São Paulo. Muitos acreditavam que faziam parte de alguma “pegadinha” (na época as “Pegadinhas do Faustão” da Globo estavam em evidência) referente ao filme Clube da Luta e demoraram para tomar pé da situação e se proteger.

Em uma das ações terroristas, um policial gritou para o público em uma pizzaria atingida pelos atiradores: “corram para casa, isso não é um filme!”.

Paris X Mariana/MG


A conveniência dos atentados não é apenas política e geopolítica. É midiática. Esse talvez seja um dos motivos do porquê a Chernobyl brasileira em que se transformou a catástrofe ambiental da Vale do Rio Doce/Samarco em Mariana/MG não tenha merecido a mesma onipresença, consonância e acumulação da grande mídia brasileira – não tem o appeal midiático e icônico de uma Paris com pessoas bonitas, cultas, de bom gosto e com uma certa ideia de civilização para aqueles que acham que a história da arte acabou no impressionismo e na art noveau.

O chamado “Estado Islâmico” sabe disso. Como todos os atentados, visam locais icônicos que parecem seguir o velho roteiro hollywoodiano: era uma vez um lugar bonito e civilizado cuja ordem é quebrada pelo mal para depois a ordem ser reestabelecida  pelos protagonistas – o Estado policial. Eles sabem que seus atentados preenchem os quesitos dos roteiros da coberturas “humanizadas” tão prezadas pelo marketing jornalístico. 


Essas relatos recorrentes de irrealidade em meio a um acontecimento tão realista e violento seriam sintomas de que todos os personagens da cena de terror (vítimas, atiradores, policiais e paramédicos) estão imersos em uma ação essencialmente midiática e midiatizável?

Para tentar responder a essa pergunta vamos nos aprofundar na espécie de Deep Web das informações em torno dos atentados de Paris: estranhas coincidências, inconsistências e clichês que parecem formar um roteiro pronto e oferecido para a grande mídia como fosse um kit imprensa.

(a) O encontro oportuno do passaporte


Ou “passaporte mágico” na ironia dos teóricos de conspirações. Nos atentados de 11/09/2001 nos EUA um passaporte foi inacreditavelmente encontrado a poucas quadras de distância do que sobrou do WTC: era do suposto sequestrador do Boeing 747 que se chocou contra uma das torres. Pouco depois do atentado ao Charlie Hebdo, a policia encontrou o cartão de identidade de um dos terroristas no interior de um carro. E agora, encontra-se um passaporte intacto ao lado do corpo de um dos homens-bomba. Alguém realmente acredita que um homem-bomba traria um passaporte real para o seu último ato em vida?
 


Claro que dai puxa-se uma conexão com refugiados sírios que entraram pela Grécia – a associação de terroristas oportunistas com a falência de um país que ameaça a Zona do Euro é irresistível.

E para não perder a carona, uma repórter da Globo News encontra o que seria o fragmento de um passaporte supostamente sírio na calçada próxima aoStade de France. E que não fora encontrado momentos antes pela perícia! Orgulhosamente, levou a suposta prova para a polícia para “ajudar nas investigações”. O que vimos depois é a repórter “tocando piano” na delegacia e tendo que recolher saliva para o fichamento do seu DNA, orgulhosa por colaborar com a “inteligência francesa”.

(b)  Estranhos exercícios de simulação


Os chamados “teóricos da conspiração vem encontrando outra recorrência: exercícios de simulação de atentados terroristas envolvendo policiais e paramédicos no dias dos próprios atentados reais. Aconteceu em 2001 nos EUA e nos atentados a bombas no metrô de Londres em 2005.

Na manhã do dia 13 foi realizado em Paris um “exercício de ataques múltiplos”. Patrick Pellloux, médico e presidente do sindicato francês dos paramédicos do EMT (a SAMU francesa) disse numa entrevista à Radio France no dia seguinte aos ataques: “as vítimas tiveram muita sorte, pois na parte da manhã fizemos um exercício de ataques múltiplos coordenando policiais, bombeiros e paramédicos. Por isso todos já estavam envolvidos e preparados”.

Desde 2004 Pelloux publica artigos na revista satírica Charlie Hebdo sobre as situações de um médico de emergências. Coincidentemente Pelloux estava próximo ao prédio da revista no momento do atentado do início desse ano e foi uma das primeiras pessoas a chegar ao local após o tiroteio e imediatamente ligar para o presidente francês Hollande para descrever o que havia ocorrido.

Pelloux também é ator é trabalhou em filmes como Saint Laurent (2014), Incognito (2009) e minisséries na TV.

Coincidências ou evidência de treinamentos para False Flag?

(c) False Flag 


Por essas e outras recorrências, coincidências, timing e conveniência estratégica (quem ganha com os atentados?), muitos analistas levantam a hipótese dos atentados do Estado Islâmico serem False Flags: ações sustentadas financeiramente pelo próprio Ocidente para criar o caos e divisão como tática de propaganda para manter a hegemonia sobre o Oriente Médio. Principalmente agora que a Rússia de Putin também entra no cenário de guerras na Síria.
 


Paul Craig Roberts do Institute for Political Economy (IPE) lembra do documento intitulado “A Clean Break: a New Estrategy for Securing the Realm” de 1996. Nesse documento elaborado pelos neocon insiders que arquitetaram as bases da futura doutrina Bush pós-2001 estão as principais diretrizes para “dividir, conquistar e reinar” no Oriente Médio – Primavera Árabe, invasão do Iraque, desestabilização da Síria, o projeto de “Choques de Civilização” e a criação do estado Islâmico estão lá por baixo de diversas camadas de eufemismos – sobre isso clique aqui.

Sabe-se que a primeira mensagem de autoria do atentado do Estado Islâmico foi “descoberta” pelo SITE Intelligence Group (Search for International Terrorist Entities) e que sua fundadora, Rita Katz, é uma insider do atual governo e colega dos Neocons autores do documento acima citado: Richard Perle, Douglas Feith (dirigiu a máquina de propaganda da guerra no Iraque) e David Wurmser.

Mas como um governo iria matar seus próprios cidadãos? Craig dá o exemplo da Operação Gladio na Itália nos anos 1970-80 onde uma série de atentados eram articulados pela inteligência italiana e executados em locais escolhidos a dedo para impactar a mídia Ocidental. Objetivo: desacreditar oscomunistas e tirá-los da vida política italiana.

(d) Conexões oportunas


Repete-se o mesmo script de acordo com as conveniências geopolíticas ocidentais: no episódio do Charlie Hebdo a grande mídia informou que os terroristas encapuçados gritavam na rua “digam para a imprensa que somos da Al-Qaeda do Iêmen”. A região do Iêmen é um dos gargalos para o transporte de petróleo. EUA e OTAN procuram o controle desses gargalos críticos.

Agora, os homens-bomba encapuçados gritam “Isso é pela Síria!”. Uma feliz coincidência num momento em que a força aérea russa bombardeia alvos do ISIS na Síria, perturbando o plano “Clean Breake” traçado pelos Neocons em 1996.
 


(e) Mais vídeos com terroristas canastrões

E como a cereja no bolo no momento em que o presidente Françoise Hollande decreta que “a França está em guerra”, são divulgados pela enésima vez vídeos com terroristas sujos, feios e malvados do suposto Estado Islâmico ameaçando a tudo e a todos.

Os personagens parecem que saíram do filme do Woody Allen "Bananas" de 1971 (com hilários comunistas cubanos barbudos e cheios de ódio) ou alguma paródia dos filmes hollywoodianos feitos pela turma de humor “Hermes e Renato”.

Em postagem anterior discutíamos a canastrice (personagens estereotipados, não-espontâneos, over etc.) como estratégia de propaganda em ambientes altamente midiatizados como os atuais – nossa percepção já foi há muito tempo invertida: tomamos a realidade a partir das imagens estereotipadas das mídias – sobre isso clique aqui. Terroristas reais não seriam reconhecíveis – precisam ser midiáticos e midiatizáveis. Assim como é a própria natureza do terrorismo.


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