sábado, 18 de julho de 2015

O MURO CAIU, CHÁVEZ MORREU, OS EUA REATARAM COM CUBA... E DAÍ? MAIS E MELHORES REVOLUÇÕES VIRÃO!


Obama e Raúl: uma imagem vale por mil palavras.
Os Estados Unidos e Cuba voltam, aos poucos, a manter um relacionamento civilizado. A invasão da Baía dos Porcos, a crise dos mísseis e o embargo econômico parecem episódios definitivamente superados, marcos daquele passado sombrio que Winston Churchill, batizou com um nome agourento: guerra fria.

Como será o novo modus vivendi entre o colosso do Norte e a ilha vizinha? Cansei de ouvir os inimigos da revolução profetizarem que um dia Cuba voltaria a ser um balneário, cassino e bordel de luxo para estadunidenses ricos. Logo saberemos.

Certa vez, referindo-se às reformas liberalizantes em Cuba e ao evento mais emblemático do fracasso do chamado socialismo real, o veterano jornalista Clóvis Rossi gracejou:
"Na hora em que a esquerda continua sob os escombros do Muro de Berlim, começa a cair mais um muro. Talvez seja a hora de construir algo com tantos tijolos"
Concordo plenamente. Mas, para fazermos um projeto melhor do que aqueles que o vento da História levou, precisamos ter clareza quanto aos erros cometidos no passado.

A REVOLUÇÃO DETURPADA
"...um tirano substitui o Comitê Central..."
Já faz quase um século que os movimentos revolucionários desviaram por atalho que acabou conduzindo a um beco sem saída.

O desvio foi decidido às vésperas da revolução soviética, quando o Partido Bolchevique discutiu dramaticamente se valia a pena tomar-se o poder num país atrasado, contrariando duas premissas marxistas: a da revolução internacional e a da construção do socialismo a partir das nações economicamente mais pujantes (e não o contrário!).

Prevaleceu o argumento de que, embora a Rússia não estivesse pronta para o socialismo, serviria como um estopim da revolução mundial, começando pela revolução alemã, prevista para questão de meses. Então, o atraso econômico russo seria contrabalançado pela prosperidade alemã; juntas, efetuariam uma transição mais suave para o socialismo.

Deu tudo errado. A reação venceu na Alemanha, a nova república soviética ficou isolada e, após rechaçar bravamente as tropas estrangeiras que tentaram restabelecer o regime antigo, viu-se obrigada a erguer uma economia moderna a partir do nada.

Quando o ardor revolucionário das massas arrefeceu -- não dura indefinidamente, em meio à penúria --, a mobilização de esforços para superação do atraso econômico acabou se dando por meio da ditadura e do culto à personalidade.
 A distopia autoritária ruiu em 1989
A Alemanha nazista era o espantalho que impunha urgência: mais dia, menos dia haveria o grande confronto e a URSS precisava estar preparada. O stalinismo foi engendrado em circunstâncias dramáticas.

A república soviética acabou salvando o mundo do nazismo -- foi ela que quebrou as pernas de Hitler, sem dúvida! --, mas perdeu sua alma: já não eram os trabalhadores que estavam no poder, mas sim uma odiosa  nomenklatura.

Concretizara-se a profecia sinistra de Trotsky: primeiro, o partido substitui o proletariado; depois, o Comitê Central substitui o partido; finalmente, um tirano substitui o Comitê Central.

Com uma ou outra nuance, foi este o destino das revoluções que tentaram edificar o  socialismo num só país: ficaram isoladas, tornaram-se autoritárias e não tiveram pujança econômica para competir com o mundo capitalista, acabando por sucumbir ou por se tornarem modelos híbridos (como o chinês, que mescla capitalismo na economia com stalinismo na política).

E AGORA, JOSÉ?

Agora, só nos resta voltarmos ao princípio de tudo: Marx.
Só unidos e solidários os homens sobreviverão, pois...

Reassumirmos a tarefa de engendrar  uma onda revolucionária que varrerá o mundo.

Esquecermos a heresia de solapar o capitalismo a partir dos seus elos mais fracos, pois o velho barbudo estava certíssimo: as nações economicamente mais poderosas é que determinam a direção para a qual as demais seguirão, e não o contrário.

Isto, claro, se tivermos como meta a condução da humanidade a um estágio superior de civilização. Pois o cerco das nações prósperas pelos rústicos e atrasados já vingou uma vez, quando Roma sucumbiu aos bárbaros... e o resultado foi um milênio de trevas.

Se, pelo contrário, quisermos cumprir as promessas originais do marxismo, as condições hoje são bem propícias do que um século atrás:
  • o capitalismo já cumpriu seu papel histórico no desenvolvimento das forças produtivas e está tendo sobrevida cada vez mais parasitária, perniciosa e destrutiva -- tanto que mantém a parcela pobre da humanidade sob o jugo da necessidade quando já estão criadas todas as premissas para o  reino da liberdade, e o 1º mundo sob o jugo da competitividade obsessiva, estressante e neurótica, quando já estão criadas todas as premissas para uma existência fraternal, harmoniosa e criativa;
...as catástrofes ambientais vão se tornar frequentes.
  • os meios de comunicação que ele desenvolveu, como a internet, facilitam a disseminação e coordenação dos movimentos revolucionários em escala mundial, de forma que um novo 1968, p. ex., hoje seria muito mais abrangente (está longe de ser utópica, agora, a possibilidade de uma onda revolucionária varrer o mundo);
  • a necessidade de adotarmos como prioridade máxima a colaboração dos homens para promover o bem comum, em lugar da ganância e da busca de diferenciação e privilégio, será dramatizada pelas consequências das alterações climáticas e da má gestão dos recursos imprescindíveis à vida humana, gerando crises tão agudas que só unidos e solidários eles conseguirão sobreviver.
Nem preciso dizer que a forte componente libertária original do marxismo tem de ser reassumida, pois os melhores seres humanos, aqueles dos quais precisamos, jamais nos acompanharão de outra forma (esta é uma das conclusões mais óbvias a serem tiradas dos acontecimentos das últimas décadas).

A bandeira da liberdade deve ser empunhada de novo pelos que realmente a podem concretizar, não pelos que só têm a oferecer um cativeiro com as grades introjetadas, pois a indústria cultural as martela dia e noite na cabeça dos  videotas.

É este o edifício sólido que podemos começar a construir com os tijolos dos muros tombados e com o ardor da juventude que voltou às ruas para combater a crise econômica global do capitalismo.
no: http://juntosomos-fortes.blogspot.com.br/2015/07/o-muro-caiu-chavez-morreu-os-eua.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+JuntosSomosFortes+(Juntos+Somos+Fortes)

A dupla vida do Enoque e a guerra suja contra Lula


Muito tempo atrás, quando começava no jornalismo e seguia o repórter fotográfico Vladimir José Gropelo nas suas andanças em busca de notícias policiais na então pacata Jundiaí dos anos 1970, acabei escrevendo uma matéria que parecia saída de um romance.

Vou resumi-la: a polícia havia prendido o chefe de uma quadrilha que andava barbarizando a região, tendo assaltado vários comerciantes e matado um deles. Acontece que o sujeito, que, se não me engano se chamava Enoque, tinha vida dupla, pois era um respeitável pai de família, vendia a conceituada Enciclopédia Britânica, e estava prestes a receber o título de "Cidadão Jundiaiense" na Câmara Municipal.

O indivíduo foi julgado, condenado e ficou preso alguns anos. Por coincidência, sua família morava na mesma rua em que vivi por mais de 20 anos. Em liberdade, voltou para lá, para a mulher e os filhos, e até eu me mudar, ao que consta, viveu como um cidadão normal.


Pois bem, o Enoque não era exatamente aquilo que as pessoas achavam que ele era. Enganou todo mundo durante um longo tempo, até se dar mal, repetindo uma história nem um pouco incomum neste mundo: gente que finge ser algo que não é.

Hoje em dia, segundo o noticiário, acontece, com o ex-presidente Lula, algo oposto ao que se passou com o Enoque 40 anos atrás.

Acho que na história do Brasil não existe alguém cuja vida foi tão investigada quanto o fundador do Partido dos Trabalhadores, por motivos óbvios.

Lula, carinhosamente chamado por alguns de Molusco, Nove Dedos e Apedeuta, já foi acusado de ser bilionário, ter mansão no Morumbi, contas secretas em bancos no exterior, ter sido alcaguete na ditadura - e até de ter violentado um companheiro de cela.

Todas essas acusações se mostraram mentirosas, simples boatos, parte da guerra suja de informação de que ele é vítima.

Lula, queiram ou não seus inimigos, é um fenômeno, uma pessoa daquelas que aparecem muito raramente neste mundo.

A trajetória de sua vida consiste na maior prova de que ele é especial.

O seu sucesso, as mudanças que realizou no país em tão pouco tempo, porém, o levaram a ser, como se diz, um cara marcado para morrer, no sentido figurado e até no literal, pela oligarquia brasileira, essa que conduziu a nação ao título de campeã mundial de desigualdade social.

E, assim, a cada dia, tenta-se mostrar que Lula não é aquilo que aparenta ser, não passa de mais um Enoque da vida - um espertalhão, um enganador, um impostor, apenas mais um malandro igual a tantos outros.

Por trás dessa campanha está o medo de que Lula volte a presidir o Brasil - ele e os "petralhas" - e radicalize as mudanças que iniciou.

É um medo tão profundo que chegam a inventar histórias tão infantis quanto essa última, que atribui ao ex-presidente da República o crime de ajudar uma empresa a obter contratos internacionais.

Lula é ex-presidente, ou seja, não exerce nenhum cargo público.

Por que, então, não pode dar palestras, cobrar por elas, prestar qualquer tipo de serviço, até mesmo fazer lobby por alguma empresa?

Se isso for crime, que milhões de brasileiros sejam presos, então, porque é exatamente isso o que fazem.

Ninguém é obrigado a gostar de Lula, a concordar com suas ideias, a defender o seu governo, sequer a respeitar as dezenas de homenagens que foram feitas a ele por entidades do mundo todo.

Mas tentar assassinar a sua reputação, transformá-lo num Enoque qualquer, isso é de uma sordidez tão grande que serve apenas para mostrar o quanto seus inimigos são pequenos, truculentos, sem moral ou escrúpulos.
no: http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/07/a-dupla-vida-do-enoque-e-guerra-suja.html

A crise Grega demonstra que a alternativa ao sistema capitalista passa pela Revolução


Miguel Urbano Rodrigues
A evolução da crise grega manifesta traços do poder do imperialismo que talvez em nenhuma situação anterior se evidenciassem de forma tão flagrante. O Syriza, força social-democrata, nada põe em causa do capitalismo. Mas a enorme distância entre as suas promessas eleitorais e as imposições da troika obrigaram-no a tentar obter alguma margem de negociação. Acontece que, nos dias de hoje é suficiente que um político no poder ouse contestar mesmo timidamente a ditadura do capital para ser encarado como inimigo do sistema. O imperialismo não negoceia, exige capitulação total. A alternativa dos povos só existe com a perspectiva do socialismo.
A evolução da crise grega encerra lições muito importantes para as forças progressistas que em dezenas de países lutam em contextos muito diferentes contra o imperialismo.
A principal delas confirmou a impossibilidade daquilo que sectores da social-democracia chamam «a reforma humanizada do capitalismo».
A vitória do Syriza nas eleições gregas semeou ilusões. Os discursos de Tsipras durante a campanha, recheados de promessas, contribuíram para que os partidos social-democratas, na Europa e na América Latina, definissem o Syriza como um partido de «esquerda radical», vocacionado para introduzir grandes transformações na sociedade helénica. O governo Syriza-Anel recebeu inclusive o apoio de alguns partidos comunistas europeus.
Mas logo após iniciar negociações com as instituições europeias (nova designação para a troika) ficou transparente que Tsipras concordava com a maioria das exigências de Bruxelas.
Durante uma visita de duas semanas à Grécia apercebi-me de que o seu governo se propunha a dar continuidade à política de submissão ao imperialismo desenvolvida pela coligação da Nova Democracia com o Pasok, introduzindo-lhe apenas mudanças cosméticas.
As suas continuas cedências às propostas dos parceiros de Bruxelas não impediram que estes adiassem sucessivamente o acordo que permitiria ao governo de Atenas receber 7200 mil milhões de euros (a ultima tranche do segundo plano de «ajuda»), evitando o default iminente.
Dias antes do final do prazo para pagamento ao FMI de 1,5 mil milhões de euros, Tsipras, numa pirueta, anunciou a convocação de um referendo. O povo tinha que responder se concordava ou rejeitava as ultima propostas apresentadas pelo Eurogrupo. E num discurso dramático no Parlamento pediu aos eleitores que votassem NÃO!
O eleitorado atendeu ao seu apelo. O NÃO obteve 61% dos votos emitidos. O governo interpretou-o como uma aprovação do Memorando do Syriza.
O referendo, repudiado pelo Partido Comunista, foi uma manobra teatral de Tsipras. É significativo que no dia seguinte ao referendo o Syriza, o Pasok e o Potami publicaram um comunicado conjunto, num consenso expressivo da política de classe do governo.
Ao retomar as negociações em Bruxelas, o primeiro-ministro grego traiu a confiança dos eleitores, pediu um novo resgate de 53 000 milhões de euros e apresentou ao Eurogrupo propostas piores do que as ultimas que havia recusado.
Recusaram a austeridade, mas dias depois propuseram uma austeridade reforçada.
Ao contrário do que muitos esperavam, a assinatura do Acordo esbarrou com a oposição tenaz da Alemanha, da Holanda, da Finlândia e outros países. Não é já o conteúdo das propostas de Atenas que está em causa. O governo de Tsipras capitulou totalmente, confirmando as previsões do KKE (ver odiario.info de 30.06.15).
O impasse pantanoso das negociações de Bruxelas resulta das contradições que separam os membros do Eurogrupo, nomeadamente a Alemanha e a França. O governo de Merkel pretende excluir a Grécia do Euro.
CHILE, VENEZUELA, GRÉCIA
A consciência de que o capitalismo não encontra soluções para a crise estrutural que o atinge contribuiu para um aumento da agressividade imperialista (J.P.Gascão, odiario.3.7.15)
Essa opção é transparente na estratégia dos EUA, dispostos a recorrer à violência contra os povos cujos governos não se submetem incondicionalmente ao seu projeto de dominação planetária.
O bloqueio a Cuba, as guerras de agressão contra o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, a ajuda militar e politica às organizações terroristas sírias, o apoio às agressões do estado fascista de Israel e as ameaças ao Irão expressam com muita clareza essa política.
Nunca a solidariedade das grandes potências imperialistas em defesa da Ordem do Capital foi tão transparente.
A evolução da crise grega confere atualidade às lições do Chile. A resposta à opção socialista da Unidade Popular de Allende quando no poder participavam um partido socialista então marxista e o partido comunista foi um sanguinário golpe militar.
Transcorridos mais de 40 anos, desaparecida a URSS, o mundo, hegemonizado pelo capitalismo, é muito diferente.
Hoje é suficiente que um político no poder ouse contestar mesmo timidamente a ditadura do capital para ser encarado como inimigo do sistema.
Nas Honduras, Manuel Zelaya, o presidente constitucional, foi afastado por um golpe militar organizado na embaixada EUA. No Paraguai foi deposto um presidente que defendia tímidas reformas que desagradaram a Washington.
No Equador, Obama desejaria substituir Rafael Correa, um reformista neokeynesiano, por um oligarca neoliberal, submisso à Casa Branca. Os EUA aliás têm apoiado as tentativas golpistas contra o presidente Correa.
Na Venezuela, Bush e Obama montaram e financiaram, sem êxito, sucessivas conspirações para derrubar Hugo Chávez não obstante as estruturas do capitalismo permanecerem no país quase intactas. Falecido Chávez, uma campanha mediática massacrante satanizou o inofensivo «Socialismo do SeculoXXI» e o presidente Obama afirmou identificar no governo de Maduro uma intolerável «ameaça à segurança dos EUA».
E na Bolívia, os tímidos matizes socializantes do Governo de Evo Morales incomodaram tanto Washington que o embaixador norte-americano organizou uma conspiração falhada cujo desfecho foi a sua expulsão de La Paz.
A ALTERNATIVA É A REVOLUÇÃO.
Na confusão ideológica atual, estimulada por um sistema mediático manipulador, a submissão total da Grécia aos sacerdotes do capital veio confirmar insisto – a impossibilidade da transformação profunda de sociedades capitalistas no âmbito do sistema, isto é, pela via institucional.
Mas, porventura se dissiparam as ilusões semeadas pelo Syriza e os demagogos populistas Tsipras e Varoufakis?
Não. Na Europa, forças políticas progressistas e alguns partidos comunistas, nomeadamente os do Partido da Esquerda Europeia, não obstante fixarem o socialismo como objetivo final, atuam no sistema como se algum dia fosse possível chegarem ao governo pela via eleitoral.
Obviamente no atual contexto europeu a conquista do poder através de uma revolução é uma impossibilidade a curto prazo. Existem em alguns países da União Europeia condições objetivas para ruturas revolucionárias. Mas faltam condições subjetivas.
Nem por isso são realistas os programas, por vezes muito ambiciosos, concebidos para uma transição no quadro de uma revolução democrática e nacional.
Em condições muito mais favoráveis do que as hoje vigentes, a revolução democrática e nacional portuguesa, inspirada nos valores de Abril, foi brutalmente interrompida por um golpe militar promovido pela burguesia com o apoio do imperialismo.
Alias, hoje, desaparecida União Soviética, as grandes potências da União Europeia recorreriam à violência se necessário, contra qualquer país membro que ousasse por em causa a ordem capitalista, no âmbito de uma revolução democrática e nacional.
Que fazer então?
As revoluções não são pré-datadas.
Ocorreram quase sempre em situações inesperadas, contra a própria lógica da História. Isso aconteceu com a Francesa de l789,com as Russas de l917, com a Chinesa, com a Cubana.
O Partido Comunista Grego oferece-nos o exemplo de uma organização revolucionaria que embora consciente de que não vai em tempo previsível tomar o poder no seu país, aliado a outras forças progressistas, luta com firmeza e coragem pela destruição do sistema capitalista no seu país. Pode discordar- se pontualmente do seu discurso, mas a sua coerência e tenacidade no combate inspiram em todo o mundo respeito e admiração aos comunistas.
As revoluções – repito - não têm data no calendário.
É minha convicção inabalável de que o capitalismo não tem soluções para a sua crise estrutural. Entrou numa lenta agonia que pode durar muitos anos.
O polo hegemónico do sistema, os EUA, mantem com os seus aliados, uma enorme capacidade de desencadear guerras imperialistas. São manifestações de desespero. São guerras monstruosas que esbarram com uma resistência crescente dos povos vítimas desse terrorismo de estado.
A simultaneidade e a convergência dessas lutas e da luta de massas em muitos países podem ser decisivas para a desagregação do sistema, minado por contradições internas, podem provocar a sua derrota final. Nesse combate vejo como insubstituível a participação dos partidos comunistas revolucionários.
A alternativa será a construção do socialismo apos uma fase de transição dolorosa, prolongada, diferente em cada país.
Uma certeza: a via institucional para o socialismo é uma impossibilidade histórica.
Gerês, 12 de Julho de 2015
no: http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2015/07/a-crise-grega-demonstra-que-alternativa.html

quinta-feira, 16 de julho de 2015

JULIO CAMARGO ENTREGA EDUARDO CUNHA - EM VÍDEO BOMBA - DELATOR ACUSA PRESIDENTE DA CÂMARA - "ELE ME COBROU R$ 5 MILHÕES EM ENCONTRO EM SEU APARTAMENTO NO LEBLON"



VÍDEO 1


VÍDEO 2


PARTE DO DEPOIMENTO DE JULIO CAMARGO


“Fui bastante apreensivo (ao encontro do parlamentar no Leblon, Rio). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares”, afirmou Camargo. “E isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, se não me engano uma campanha municipal e que ele tinha uma série de compromissos e que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que ele não tinha mais condição de aguardar.”

O delator Julio Camargo depôs em uma das ações penais em curso na 1ª instância da Justiça Federal no Paraná. Ele foi arrolado pelo Ministério Público Federal como testemunha de acusação em processo contra o operador do PMDB Fernando Baiano, ligado a Cunha.

“Julio, realmente nós estamos com um problema, porque eu estou sendo pressionado violentamente, inclusive, pelo deputado Eduardo Cunha”, disse Julio Camargo, atribuindo a frase a Fernando Baiano.

Ainda segundo o lobista, Fernando Baiano disse a ele. “Isso aí vai chegar numa situação muita embaraçosa para mim, mas para você, com certeza vai ser muito mais embaraçosa”.

Fonte: Estadão

DIREITO DE DEFESA

NOTA À IMPRENSA

Com relação à suposta nova versão atribuída ao delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:

1- O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.

2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurados Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso.

3- Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las.

4- É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.

Deputado Eduardo Cunha

Presidente da Câmara dos Deputados
via: http://007bondeblog.blogspot.com.br/2015/07/julio-camargo-entrega-eduardo-cunha-em.html

Collor, o presidente biônico



Pode procurar no Facebook, perguntar no Twitter, fazer uma pesquisa por toda a vizinhança: ninguém, absolutamente ninguém, votou em Fernando Collor de Mello, em 1989.

Depois do processo de impeachment, em 1992, mas, principalmente, depois que passou a fazer parte da base governista, como senador do PTB, os eleitores de Collor, simplesmente, sumiram.

Não restou um único daqueles 35 milhões de eleitores que votaram no jovem caçador de marajás de Alagoas, no segundo turno das eleições presidenciais de 1989.

Essa extinção em massa ficou explícita depois da operação da PF que pegou os carrões de Collor na Casa da Dinda.

Um monte de gente que, OBVIAMENTE, votou ou teria votado em Collor, deitou falação moralista contra o antigo queridinho das mesmas elites (e da mesma mídia) que hoje se agregam em torno de Aécio Neves — que foi o Collor fracassado de 2014, aliás, com estigmas bastantes semelhantes.

Leandro Fortes
via:> http://www.contextolivre.com.br/2015/07/collor-o-presidente-bionico.html

quarta-feira, 15 de julho de 2015

“A dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado”

Para ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, sistema atual provoca desvio de recursos públicos para o mercado financeiro

Nilson Bastian / Câmara dos Deputados
 Maria Lucia Fattorelli
Maria Lucia Fattorelli já auditou a dívida pública do Equador e agora faz o mesmo pela Grécia
Dois meses antes de o governo Dilma Rousseff anunciar oficialmente o corte de 70 bilhões de reais do Orçamento por conta do ajuste fiscal, uma brasileira foi convidada pelo Syriza, partido grego de esquerda que venceu as últimas eleições,para compor o Comitê pela Auditoria da Dívida Grega com outros 30 especialistas internacionais. A brasileira em questão é Maria Lucia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal e fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida” no Brasil. Mas o que o ajuste tem a ver com a recuperação da economia na Grécia? Tudo, diz Fattorelli. “A dívida pública é a espinha dorsal”.
Enquanto o Brasil caminha em direção à austeridade, a estudiosa participa da comissão que vai investigar os acordos, esquemas e fraudes na dívida pública que levaram a Grécia, segundo o Syriza, à crise econômica e social. “Existe um ‘sistema da dívida’. É a utilização desse instrumento [dívida pública] como veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro”, complementa Fattorelli.
Esta não é a primeira vez que a auditora é acionada para esse tipo de missão. Em 2007, Fattorelli foi convidada pelo presidente do Equador, Rafael Correa, para ajudar na identificação e comprovação de diversas ilegalidades na dívida do país. O trabalho reduziu em 70% o estoque da dívida pública equatoriana.
Em entrevista a CartaCapital, direto da Grécia, Fattorelli falou sobre como o “esquema”, controlado por bancos e grandes empresas, também se repete no pagamento dos juros da dívida brasileira, atualmente em 334,6 bilhões de reais, e provoca a necessidade do tal ajuste.
Leia a entrevista:

CartaCapital:
 O que é a dívida pública?
Maria Lucia Fattorelli: A dívida pública, de forma técnica, como aprendemos nos livros de Economia, é uma forma de complementar o financiamento do Estado. Em princípio, não há nada errado no fato de um país, de um estado ou de um município se endividar, porque o que está acima de tudo é o atendimento do interesse público. Se o Estado não arrecada o suficiente, em princípio, ele poderia se endividar para o ingresso de recursos para financiar todo o conjunto de obrigações que o Estado tem. Teoricamente, a dívida é isso. É para complementar os recursos necessários para o Estado cumprir com as suas obrigações. Isso em principio.
CC: E onde começa o problema? 

MLF: O problema começa quando nós começamos a auditar a dívida e não encontramos contrapartida real. Que dívida é essa que não para de crescer e que leva quase a metade do Orçamento? Qual é a contrapartida dessa dívida? Onde é aplicado esse dinheiro? E esse é o problema. Depois de várias investigações, no Brasil, tanto em âmbito federal, como estadual e municipal, em vários países latino-americanos e agora em países europeus, nós determinamos que existe um sistema da dívida. O que é isso? É a utilização desse instrumento, que deveria ser para complementar os recursos em benefício de todos, como o veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro. Esse é o esquema que identificamos onde quer que a gente investigue.
CC: E quem, normalmente, são os beneficiados por esse esquema? Em 2014, por exemplo, os juros da dívida subiram de 251,1 bilhões de reais para 334,6 bilhões de reais no Brasil. Para onde está indo esse dinheiro de fato?
MLF: Nós sabemos quem compra esses títulos da dívida porque essa compra direta é feita por meio dos leilões. O processo é o seguinte: o Tesouro Nacional lança os títulos da dívida pública e o Banco Central vende. Como o Banco Central vende? Ele anuncia um leilão e só podem participar desse leilão 12 instituições credenciadas. São os chamados dealers. A lista dos dealers nós temos. São os maiores bancos do mundo. De seis em seis meses, às vezes, essa lista muda. Mas sempre os maiores estão lá: Citibank, Itaú, HSBC...é por isso que a gente fala que, hoje em dia, falar em dívida externa e interna não faz nem mais sentido. Os bancos estrangeiros estão aí comprando diretamente da boca do caixa. Nós sabemos quem compra e, muito provavelmente, eles são os credores porque não tem nenhuma aplicação do mundo que pague mais do que os títulos da dívida brasileira. É a aplicação mais rentável do mundo. E só eles compram diretamente. Então, muito provavelmente, eles são os credores.
CC: Por quê provavelmente?
MLF: Por que nem mesmo na CPI da Dívida Pública, entre 2009 e 2010, e olha que a CPI tem poder de intimação judicial, o Banco Central informou quem são os detentores da dívida brasileira. Eles chegaram a responder que não sabiam porque esses títulos são vendidos nos leilões. O que a gente sabe que é mentira. Porque, se eles não sabem quem são os detentores dos títulos, para quem eles estão pagando os juros? Claro que eles sabem. Se você tem uma dívida e não sabe quem é o credor, para quem você vai pagar? Em outro momento chegaram a falar que essa informação era sigilosa. Seria uma questão de sigilo bancário. O que é uma mentira também. A dívida é pública, a sociedade é que está pagando. O salário do servidor público não está na internet? Por que os detentores da dívida não estão? Nós temos que criar uma campanha nacional para saber quem é que está levando vantagem em cima do Brasil e provocando tudo isso.
CC: Qual é a relação entre os juros da dívida pública e o ajuste fiscal, em curso hoje no Brasil?
MLF: Todo mundo fala no corte, no ajuste, na austeridade e tal. Desde o Plano Real, o Brasil produz superávit primário todo ano. Tem ano que produz mais alto, tem ano que produz mais baixo. Mas todo ano tem superávit primário. O que quer dizer isso, superávit primário? Que os gastos primários estão abaixo das receitas primárias. Gasto primários são todos os gastos, com exceção da dívida. É o que o Brasil gasta: saúde, educação...exceto juros. Tudo isso são gastos primários. Se você olhar a receita, o que alimenta o orçamento? Basicamente a receita de tributos. Então superávit primário significa que o que nós estamos arrecadando com tributos está acima do que estamos gastando, estão está sobrando uma parte.
CC: E esse dinheiro que sobra é para pagar os juros dívida pública?

MLF: Isso, e essa parte do superávit paga uma pequena parte dos juros porque, no Brasil, nós estamos emitindo nova dívida para pagar grande parte dos juros. Isso é escândalo, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe o que se chama de anatocismo. Quando você contrata dívida para pagar juros, o que você está fazendo? Você está transformando juros em uma nova divida sobre a qual vai incidir juros. É o tal de juros sobre juros. Isso cria uma bola de neve que gera uma despesa em uma escala exponencial, sem contrapartida, e o Estado não pode fazer isso. Quando nós investigamos qual é a contrapartida da dívida interna, percebemos que é uma dívida de juros sobre juros. A divida brasileira assumiu um ciclo automático. Ela tem vida própria e se retroalimenta. Quando isso acontece, aquele juros vai virar capital.  E, sobre aquele capital, vai incidir novos juros. E os juros seguintes, de novo vão se transformados em capital. É, por isso, que quando você olha a curva da dívida pública, a reta resultante é exponencial. Está crescendo e está quase na vertical. O problema é que vai explodir a qualquer momento.
CC: Explodir por quê?
MLF: Por que o mercado – quando eu falo em mercado, estou me referindo aos dealers – está aceitando novos títulos da dívida como pagamento em vez de receber dinheiro moeda? Eles não querem receber dinheiro moeda, eles querem novos títulos, por dois motivos. Por um lado, o mercado sabe que o juros vão virar novo título e ele vai ter um volume cada vez maior de dívidas para receber. Segundo: dívida elevada tem justificado um continuo processo de privatização. Como tem sido esse processo? Entrega de patrimônio cada vez mais estratégico, cada vez mais lucrativo. Nós vimos há pouco tempo a privatização de aeroportos. Não é pouca coisa os aeroportos de Brasília, de São Paulo e do Rio de Janeiro estarem em mãos privadas. O que no fundo esse poder econômico mundial deseja é patrimônio e controle. A estratégia do sistema da dívida é a seguinte: você cria uma dívida e essa dívida torna o pais submisso. O país vai entregar patrimônio atrás de patrimônio. Assim nós já perdemos as telefônicas, as empresas de energia elétrica, as hidrelétricas, as siderúrgicas. Tudo isso passou para propriedade desse grande poder econômico mundial. E como é que eles [dealers] conseguem esse poder todo? Aí entra o financiamento privado de campanha. É só você entrar no site do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e dar uma olhada em quem financiou a campanha desses caras. Ou foi grande empresa ou foi banco. O nosso ataque em relação à dívida é porque a dívida é o ponto central, é a espinha dorsal do esquema.
CC: Como funcionaria a auditoria da dívida na prática? Como diferenciar o que é dívida legítima e o que não é?
MLF: A auditoria é para identificar o esquema de geração de dívida sem contrapartida. Por exemplo, só deveria ser paga aquela dívida que preenche o requisito da definição de dívida. O que é uma dívida? Se eu disser para você: ‘Me paga os 100 reais que você me deve’. Você vai falar: “Que dia você me entregou esses 100 reais?’ Só existe dívida se há uma entrega. Aconteceu isso aqui na Grécia. Mecanismos financeiros, coisas que não tinham nada ver com dívida, tudo foi empurrado para as estatísticas da dívida. Tudo quanto é derivativo, tudo quanto é garantia do Estado, os tais CDS [Credit Default Swap - espécie de seguro contra calotes], essa parafernália toda desse mundo capitalista 'financeirizado'. Tudo isso, de uma hora para outra, pode virar dívida pública. O que é a auditoria? É desmascarar o esquema. É mostrar o que realmente é dívida e o que é essa farra do mercado financeiro, utilizando um instrumento de endividamento público para desviar recursos e submeter o País ao poder financeiro, impedindo o desenvolvimento socioeconômico equilibrado. Junto com esses bancos estão as grandes corporações e eles não têm escrúpulos. Nós temos que dar um basta nessa situação. E esse basta virá da cidadania. Esse basta não virá da classe politica porque eles são financiados por esse setor. Da elite, muito menos porque eles estão usufruindo desse mecanismo. A solução só virá a partir de uma consciência generalizada da sociedade, da maioria. É a maioria, os 99%, que está pagando essa conta. O Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central] disse isso em depoimento na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Dívida, em 2009, quando perguntado sobre a influência das decisões do Banco Central na vida do povo. Ele respondeu: “Olha, o Brasil foi desenhado para isso”. 
CC: Quanto aproximadamente da dívida pública está na mão dos bancos e de grandes empresas? O Tesouro Direto, que todos os brasileiros podem ter acesso, corresponde a que parcela do montante?

MLF: Essa história do Tesouro Direto é para criar a impressão que a dívida pública é um negócio correto, que qualquer um pode entrar lá e comprar. E, realmente, se eu ou você comprarmos é uma parte legítima. Agora, se a gente entrar lá e comprar, não é direto. É só para criar essa ilusão. Tenta entrar lá para comprar um título que seja. Você vai chegar numa tela em que vai ter que escolher uma instituição financeira. E essa instituição financeira vai te cobrar uma comissão que não é barata. Ela não vai te pagar o juros todo do título, ela vai ficar com um pedaço. O banco, o dealer, que compra o título da dívida é quem estabelece os juros. Ele estabelece os juros que ele quer porque o governo lança o título e faz uma proposta de juros. Se, na hora do leilão, o dealer não está contente com aquele patamar de juros, ele não compra. Ele só compra quando o juros chega no patamar que ele quer. Invariavelmente, os títulos vêm sendo vendidos muito acima da Selic [taxa básica de juros]. Em 2012, quando a Selic deu uma abaixada e chegou a 7,25%, nós estávamos acompanhando e os títulos estavam sendo vendidos a mais de 10% de juros. E eles sempre compram com deságio. Se o título vale 1000 reais, ele compra por 960 reais ou 970 reais, depende da pressão que ele quer impor no governo aquele dia. Olha a diferença. Se você compra no Tesouro Direto, você não vai ter desconto. Pelo contrário, você vai ter que pagar uma comissão. E você também não vai mandar nos juros. É uma operação totalmente distinta da operação direta de verdade que acontece lá no leilão.
CC: Por que é tão difícil colocar a auditoria em prática? Como o mercado financeiro costuma reagir a uma auditoria?
MLF: O mercado late muito, mas na hora ele é covarde. Lá no Equador, quando estávamos na reta final e vários relatórios preliminares já tinham sido divulgados, eles sabiam que tínhamos descoberto o mecanismo de geração de dívida, várias fraudes. Eles fizeram uma proposta para o governo de renegociação. Só que o Rafael Correa [atual presidente do Equador] não queria negociar. Ele queria recomprar e botar um ponto final. Porque quando você negocia, você dá uma vida nova para a dívida. Você dá uma repaginada na dívida. Ele não queria isso. Ele queria que o governo dele fosse um governo que marcasse a história do Equador. Ele sabia que, se aceitasse, ficaria subjugado à dívida. Ele foi até o fim, fez uma proposta e o que os bancos fizeram? 95% dos detentores dos títulos entregaram. Aceitaram a oferta de recompra de no máximo 30% e o Equador eliminou 70% de sua dívida externa em títulos. No Brasil, durante os dez meses da CPI da Dívida, a Selic não subiu. Foi incrível esse movimento. Nós estamos diante de um monstro mundial que controla o poder financeiro e o poder político com esquemas fraudulentos. É muito grave isso. Eu diria que é um mega esquema de corrupção institucionalizado.
CC: O mercado financeiro e parte da imprensa costumam classificar a auditoria da dívida de calote. Por que a auditoria da dívida não é calote?
MLF: A auditoria vai investigar e não tem poder de decisão do que vai ser feito. A auditoria só vai mostrar. No Equador, a auditoria só investigou e mostrou as fraudes, mecanismos que não eram dívidas, renúncias à prescrição de dívidas. O que é isso? É um ato nulo. Dívidas que já estavam prescritas. Uma dívida prescrita é morta. E isso aconteceu no Brasil também na época do Plano Brady, que transformou dívidas vencidas em títulos da dívida externa. Depois, esses títulos da dívida externa foram usados para comprar nossas empresas que foram privatizadas na década de 1990: Vale, Usiminas...tudo comprado com título da dívida em grande parte. Você está vendo como recicla? Aqui, na Grécia, o país está sendo pressionado para pagar uma dívida ilegítima. E qual foi a renegociação feita pelo [Geórgios] Papandréu [ex-primeiro-ministro da Grécia]? Ele conseguiu um adiamento em troca de um processo de privatização de 50 bilhões de euros. Esse é o esquema. Deixar de pagar esse tipo de dívida é calote? A gente mostra, simplesmente, a parte da dívida que não existe, que é nula, que é fraude. No dia em que a gente conseguir uma compreensão maior do que é uma auditoria da dívida e a fragilidade que lado está do lado de lá, a gente muda o mundo e o curso da história mundial.
CC: Em comparação com o ajuste fiscal, que vai cortar 70 bilhões de reais de gastos, tem alguma estimativa de quanto a auditoria da dívida pública poderia economizar de despesas para o Brasil?

MLF: Essa estimativa é difícil de ser feita antes da auditoria, porém, pelo que já investigamos em termos de origem da dívida brasileira e desse impacto de juros sobre juros, você chega a estimativas assustadoras. Essa questão de juros sobre juros eu abordei no meu último livro. Nos últimos anos, metade do crescimento da divida é nulo. Eu só tive condição de fazer o cálculo de maneira aritmética. Ficou faltando fazer os cálculos de 1995 a 2005 porque o Banco Central não nos deu os dados. E mesmo assim, você chega a 50% de nulidade da dívida, metade dela. Consequentemente para os juros seria o mesmo [montante]. Essa foi a grande jogada do mercado financeiro no Plano Real porque eles conseguiram gerar uma dívida maluca. No início do Plano Real os juros brasileiros chegaram a mais de 40% ao ano. Imagina uma divida com juros de 40% ao ano? Você faz ela crescer quase 50% de um ano para o outro. E temos que considerar que esses juros são mensais. O juro mensal, no mês seguinte, o capital já corrige sobre o capital corrigido no mês anterior. Você inicia um processo exponencial que não tem limite, como aconteceu na explosão da dívida a partir do Plano Real. Quando o Plano Real começou, nossa dívida estava em quase 80 bilhões de reais. Hoje ela está em mais de três trilhões de reais. Mais de 90% da divida é de juros sobre juros.
CC: E isso é algo que seria considerado ilegal na auditoria da dívida pública?
MLF: É mais do que ilegal, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe juros sobre juros para o setor público. Tem uma súmula do Supremo Tribunal Federal, súmula 121, que diz que ainda que tenha se estabelecido em contrato, não pode. É inconstitucional. Tudo isso é porque tem muita gente envolvida, favorecida e mal informada. Esses tabus, essa questão do calote, muita gente fala isso. Eles tentam desqualificar. Falamos em auditoria e eles falam em calote. Mas estou falando em investigar. Se você não tem o que temer, vamos abrir os livros. Vamos mostrar tudo. Se a dívida é tão honrada, vamos olhar a origem dessa dívida, a contrapartida dela.
CC: Ao longo da entrevista, a senhora citou diversos momentos da história recente do Brasil, o que mostra que esse problema vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso, e passou pelas gestões Lula e Dilma. Mas como a questão da dívida se agravou nos últimos anos? A dívida externa dos anos 1990 se transformou nessa dívida interna de hoje?
MLF: Houve essa transformação várias vezes na nossa história. Esses movimentos foram feitos de acordo com o interesse do mercado. Tanto de interna para externa, como de externa para interna, de acordo com o valor do dólar. Esses movimentos são feitos pelo Banco Central do Brasil em favor do mercado financeiro, invariavelmente. Quando o dólar está baixo, e seria interessante o Brasil quitar a dívida externa, por precisar de menos reais, se faz o contrário. Ele contrai mais dívida em dólar. Esses movimentos são sempre feitos contra nós e a favor do mercado financeiro.
CC: E o pagamento da dívida externa, em 2005?
MLF: O que a gente critica no governo Lula é que, para pagar a dívida externa em 2005, na época de 15 bilhões de dólares, ele emitiu reais. Ele emitiu dívida interna em reais. A dívida com o FMI [Fundo Monetário Internacional] era 4% ao ano de juros. A dívida interna que foi emitida na época estava em média 19,13% de juros ao ano. Houve uma troca de uma dívida de 4% ao ano para uma de 19% ao ano. Foi uma operação que provocou danos financeiros ao País. E a nossa dívida externa com o FMI não era uma dívida elevada, correspondia a menos de 2% da dívida total. E por que ele pagou uma dívida externa para o FMI que tinha juros baixo? Porque, no inconsciente coletivo, divida externa é com o FMI. Todo mundo acha que o FMI é o grande credor. Isso, realmente, gerou um ganho político para o Lula e uma tranquilidade para o mercado. Quantos debates a gente chama sobre a dívida e as pessoas falam: “Esse debate já não está resolvido? Já não pagamos a dívida toda?’. Não são poucas as pessoas que falam isso por conta dessa propaganda feita de que o Lula resolveu o problema da dívida. E o mercado ajuda a criar essas coisas. Eu falo o mercado porque, na época, eles também exigiram que a Argentina pagasse o FMI. E eles também pagaram de forma antecipada. Você vê as coisas aconteceram em vários lugares, de forma simultânea. Tudo bem armado, de fora para dentro, na mesma época.
CC: O que a experiência grega de auditoria da dívida poderia ensinar ao Brasil, na sua opinião?
MLF: São muitas lições. A primeira é a que ponto pode chegar esse plano de austeridade fiscal. Os casos aqui da Grécia são alarmantes. Em termos de desemprego, mais de 100 mil jovens formados deixaram o país nos últimos anos porque não têm emprego. Foram para o Canadá, Alemanha, vários outros países. A queda salarial, em média, é de 50%. E quem está trabalhando está feliz porque normalmente não tem emprego. Jornalista, por exemplo, não tem emprego. Tem até um jornalista que está colaborando com a nossa comissão e disse que só não está passando fome por conta da ajuda da família. A maioria dos empregos foram flexibilizados, as pessoas não têm direitos. Serviços de saúde fechados, escolas fechadas, não tem vacina em posto de saúde. Uma calamidade terrível. Trabalhadores virando mendigos de um dia para o outro. Tem ruas aqui em que todas as lojas estão fechadas. Todos esses pequenos comerciantes ou se tornaram dependentes da família ou foram para a rua ou, pior, se suicidaram. O número de suicídios aqui, reconhecidamente por esse problema econômico, passa de 5 mil. Tem vários casos de suicídio em praça pública para denunciar. Nesses dias em que estou aqui, houve uma homenagem em frente ao Parlamento para um homem que se suicidou e deixou uma carta na qual dizia que estava entregando a vida para que esse plano de austeridade fosse denunciado.
http://www.cartacapital.com.br/economia/201ca-divida-publica-e-um-mega-esquema-de-corrupcao-institucionalizado201d-9552.html

A rádio que forja a notícia


Quer dizer então que a rádio Jovem Pan, segundo denúncia da revista Piauí, cobrava R$ 10 mil da prefeitura paulistana comandada por Gilberto Kassab, para cobri-la de elogios?

Passei parte de minha vida ouvindo a Jovem Pan, principalmente os seus programas esportivos.

Deixei de fazer isso depois de uma conversa, anos atrás, com um colega jornalista que trabalhou na emissora. 

Já tinha percebido que os seus "repórteres" puxavam a sardinha para o lado de alguns times e desciam o cacete em outros, principalmente no meu Palmeiras.

Estranho...

As coisas se esclareceram quando esse meu colega me disse que a rádio pagava salários baixíssimos, mas, em compensação, liberava totalmente o "jabá", isto é, o pessoal podia fazer os acertos que quisesse - exatamente como na denúncia da Piauí.

Certo dia, numa dessas feirinhas de livros das redações dos jornais, peguei um livro do jornalista José Nêumanne Filho sobre a vida de Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, filho de Paulo Machado de Carvalho, e que dirigiu a Jovem Pan praticamente toda a sua vida.

O livro, mais um longo depoimento do biografado, valeria mais pelas suas fotos históricas, se não fosse por um detalhe: em certo trecho, o homem que construiu uma das emissoras de rádio mais importantes de São Paulo, começa a falar mal dos direitos trabalhistas, como se eles fossem a origem de todos os males da sociedade.

Aí, tudo ficou bem mais fácil de entender.

A Jovem Pan não é o que é, um reduto da extrema-direita, sem nenhum traço de ética profissional, por acaso.

Está no seu DNA ser assim. 

Infelizmente, a ideologia que propaga e seu método de trabalhar não são exceção na mídia brasileira.

Há muitas outras Jovem Pan por esse Brasilzão afora, diariamente, ininterruptamente, envenenando com mentiras, muito bem pagas, toda a sociedade.

E, como qualquer criança sabe, sem informação não há democracia.

O duro é ver que é essa gente que faz campanha contra a corrupção, que aponta o dedo para os outros, que julga e condena a seu bel prazer.

Haja hipocrisia!

Haja picaretagem! 

http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/07/a-radio-que-forja-noticia.html

Syriza e Podemos: a socialdemocracia ontem e hoje


E em torno estavam aqueles que instilavam horror e gritavam: 'Aí vem o Novo, tudo é novo, saúdem o Novo, sejam novos como nós!' E quem escutava, ouvia apenas os seus gritos, mas quem olhava, via pessoas que não gritavam. ”     
Bertolt Brecht

Nos anos oitocentos um espectro rondava a Europa. As condições precárias da classe trabalhadora
confirmavam a tese de que as revoluções burguesas não poderiam ser suficientes para acabar com a miséria e opressão sobre toda população. Com a revolução industrial, mesmo com o grande avanço das forças produtivas, os homens e mulheres que produziam as riquezas continuavam privados delas. Essa forma ainda embrionária, fantasmagórica, que aterrorizava os senhores burgueses ganhou força e os trabalhadores se organizaram por todo o mundo, revoltas e revoluções marcaram a história do movimento operário, e o espectro se materializava pouco a pouco.

Porém, nem toda incorporação se concretizou como esperada, pelo menos não aos que ainda enxergavam esse movimento como algo linear e isoladamente. Dentre essas pessoas, sem dúvidas, não estava Marx. O movimento dos trabalhadores ganhou dimensões além dos piquetes e das carabinas empunhadas por revolucionários apaixonados. Aos poucos as greves, as mobilizações e a luta dos trabalhadores foram conquistando espaços institucionais, logo grande parte do movimento revolucionário estava alimentando a esperança em uma estratégia perigosa, ainda mais perigosa do que os confrontos diretos das históricas barricadas: o sufrágio universal.

No prefácio do livro de Marx, “As Lutas de Classes na França”, escrito por Engels em 1895, algumas preocupações são esboçadas sobre o futuro do movimento comunista e a necessidade de pensar novos rumos estratégicos. Resumidamente, Engels alerta sobre a importância do voto universal e a possibilidade que a classe trabalhadora adquiriu em relação ao potencial organizativo via os espaços conquistados na institucionalidade. Com as pressões e com o acirramento da luta de classes, a burguesia teve que ceder a legalização do Partido Social Democrata Alemão, e com essa conquista, houve um crescimento estrondoso dessa organização na Alemanha, afirmava Engels: “Até mesmo na França, os socialistas cada vez mais estão se dando conta que não há perspectiva de vitória duradoura para eles se não ganharem primeiro o apoio da massa popular, isto é, nesse caso, dos camponeses” (ENGELS, 1895, p. 27)

Para a concretização desse fato, acertadamente, Engels faz uma análise sobre o desenvolvimento do aparato repressivo do Estado e como se tornava cada vez mais difícil o enfrentamento direto de minorias conscientes. É bem verdade que o um dos fundadores do marxismo estava diante de um fenômeno até agora jamais visto, o Partido Social Democrata Alemão somava 2 milhões de eleitores nas urnas, além das mulheres que não tinham o direito de votar. O crescimento do partido possibilitava a divulgação das ideias comunistas e com isso poderia gerar um acúmulo de forças para a luta revolucionária.

Mas, parafraseando o próprio Engels na citação indireta que faz a célebre frase de Hegel “A ave de minerva só levanta voo no final da tarde”: “A visão panorâmica clara sobre a história econômica de determinado período nunca será simultânea, só podendo ser obtida a posteriori (...)” (ENGELS, 1895, p. 10).

Da mesma forma que Engels se utiliza dessa frase para pedir licença a Marx e traçar um novo olhar sobre as ideias de seu livro, repetimos algo para seu remetente. Não podemos negar a contribuição desse texto, não podemos ignorar o quanto de realidade está escrito em suas linhas, mas é preciso recuperar as análises de Marx para compreender todo o processo, é preciso ver o que a história nos ensinou hoje, cento e vinte anos depois.

O movimento que tomava corpo na Europa no final do século XIX e início do século XX, infelizmente, não tinha Engels como um dos seus principais formuladores. Havia dois teóricos no pilar da social democracia, Eduard Bernstein e Karl Kautsky. A teoria formulada por esses dois senhores se colocava enquanto a revisão da obra de Marx, superando aquilo que já estava ultrapassado em seu pensamento: a revolução socialista e a teoria da destruição do Estado burguês. O movimento social democrata se compromete a traçar reformas no Estado burguês, afim de atingir ao socialismo através do mesmo. Porém, essa via implicava em diversos problemas e as soluções dadas não passavam de falaciosas, como já denunciava Rosa Luxemburgo, no “Reforma ou Revolução?”. Bernstein afirmava que através do crédito, dos sindicatos e dos carteis, poderíamos desenvolver os instrumentos necessários para “humanizar” o capitalismo.

Sim, isso mesmo! Através dos grupos mafiosos que conhecemos hoje enquanto carteis, através do aparelhamento dos sindicatos e do sistema de crédito enquanto amenizador da crise capitalista. Bernstein dizia que por meio da estabilidade da economia capitalista, os trabalhadores poderiam desenvolver seus meios de vida a tal forma que chegariam ao socialismo, pulando a etapa da revolução.

Mas, o movimento social democrata não é a expressão pura de ideólogos. Ele é reflexo do próprio capitalismo, que precisava de um mecanismo de apassivamento da classe trabalhadora, tendo seus pilares ameaçados pelo movimento comunista. Os resultados da social democracia foram desastrosos! A posição favorável do partido alemão a primeira guerra mundial, a perseguição dos revolucionários, o apoio ao colonialismo na África e Ásia e o assassinato da própria Rosa Luxemburgo.

Contudo, a estratégia que já surge como farsa, reaparece enquanto tragédia em diversos momentos posteriores. O que falar do Eurocomunismo e o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social na Europa, pós-segunda guerra mundial? Da falecia do ideal revolucionário por grande parte dos grandes partidos da época, em destaque o Partido Comunista Italiano. Através da própria social democracia o capitalismo se reorganizou, instaurou seu plano neoliberal e a pseudo-estratégia virou referência pelo globo.

No nosso caso mais próximo, o petismo é um exemplo claro disso. A criação do Projeto Democrático Popular (PDP) aparece negando as heranças da esquerda brasileira vinculada aos comunistas, negando a socialdemocracia, embora admitindo sua influência, negando o sindicalismo pelego e as experiências passadas. Se embasava no novo sindicalismo, em uma nova esquerda, em um novo socialismo: o socialismo petista. O projeto consistia na formação de um acúmulo de forças perante a sociedade civil, da conquista institucional do Estado burguês para cumprir as tarefas que a burguesia havia abandonado e a possibilidade de se chegar ao socialismo.

Veja bem, embora negue todo o passado, clame pelo novo, parece que a estratégia da social democracia foi maquiada, o projeto nacional defendido pelos comunistas anteriormente ainda se revela em muitos aspectos e o discurso foi mostrando suas falhas através da história e dos equívocos endêmicos dessas ilusões. O primeiro início do governo petistas, após o sofrer diversas metamorfoses na sua concepção de 1987 (Encontro petista onde é traçado o PDP), o PT assume o poder estatal e pula as reformas falaciosas que possibilitariam a execução do seu projeto. Ironicamente, sem meandros, assina a Carta ao Povo Brasileiro – ou aos banqueiros, se preferirem – e já deixa claro, desde o início da sua gestão do lado de quem está seus reais interesses.

Mais de uma década após a sua primeira vitória nas urnas, depois de tantos malabarismos, vê o seu governo em derrocada. Nesse processo de busca por uma nova alternativa, o discurso inflamado da “nova” esquerda – mais uma dessas velhas novidades – se espelha nos acontecimentos internacionais em busca da legitimidade de seu projeto, da recuperação do PDP.


Este movimento, mesmo que nem sempre seja resultado de ações conscientes de suas práticas, reflete a naturalização da sociedade capitalistas, suas formas mercadológicas, sendo a expressão da consciência reificada, tentando negociar com a própria burguesia uma estabilidade do plano social. Tornou-se característico da socialdemocracia a camuflagem, os discursos de negação das suas inspirações. Com a crise econômica mundial que se inicia em 2008, o capitalismo vê o seu modelo de acumulação em ruínas. O Estado de Bem-Estar Social, fruto da reestruturação de sua segunda crise, assim como a sua estrutura de supremacia do capital financeiro.

Por tudo isso o debate sobre a social democracia continua atual por temos grandes forças de “Esquerda” em vários lugares do mundo que persistem reivindicando as ilusões desse projeto e servindo como um instrumento apassivador no seio da classe trabalhadora e dos oprimidos de forma geral. Merece destaque na atual conjuntura o Syriza, na Grécia, e o Podemos, na Espanha.

Ao inserirmos o Syriza e o Podemos na tradição socialdemocrata não estamos negando o elemento de “novidade” nessas organizações. Ambos surgiram depois de um amplo processo de descrétido dos partidos tradicionais, apostam em novas formas de ação de rua e comunicação (com destaque para o uso de redes sociais e ocupações lúdicas de prédios públicos), tem raízes em movimentos de rua “horizontais” e são frutos da própria conjuntura da crise capitalista. Contudo, os elementos de “novidade” não devem fazer-nos perder de vista a continuidade essencial entre a social democracia clássica e seus avatares atuais. Senão vejamos.

Syriza e Podemos partem de uma critica politicista à situação dos seus respectivos países. O centro do debate para eles não é uma crítica da economia política e o domínio dos monopólios capitalista na economia, mas sim a falta de democracia, cidadania, participação política, etc. Para essas organizações o principal problema a ser enfrentado é como reativar a cidadania e a participação política, considerando que assim, finalmente, os problemas que dilaceram o povo trabalhador – como a austeridade pró-monopólios – serão destruídos.

Nessa perspectiva a própria forma política do Estado burguês não é questionada e nem sua funcionalidade ontológica com as relações de produção dominantes. Como Syriza e Podemos são hegemonizados pelas camadas médias empobrecidas com a austeridade e ressentida com a perda do seu padrão de vida, a ideologia politicista e cidadanista que quer “democratizar a vida” representa de forma perfeita a consciência de classe desses setores:

O caráter peculiar da socialdemocracia consiste em exigir instituições democrático-republicanas, não como meio de abolir ao mesmo tempo os dois extremos, capital e trabalho assalariado, mas para atenuar o seu antagonismo e convertê-lo em harmonia. Por diferentes que possam ser as medidas propostas para alcançar esse fim, por muito que possa revestir por representações mais ou menos revolucionárias, o conteúdo permanece o mesmo. Esse conteúdo é a transformação da sociedade pela via democrática, mas uma transformação dentro do quadro da pequena burguesia. Não se deve ter a limitada ideia segundo a qual a pequena burguesia quer impor, por princípio, um interesse egoísta de classe. Ela crê, ao contrário, que as condições particulares de sua emancipação são as condições gerais fora das quais a sociedade moderna não pode ser salva nem pode evitar a luta das classes (MARX, 2008, p. 246) [1].

Uma análise rápida dos discursos de Tsipras e Pablo Iglesias deixa claro essa perspectiva. Esse discurso políticista esconde o que é essencial: o conflito irreconciliável de classes, o domínio dos monopólios capitalistas e o caráter de classe do Estado burguês materializado em sua forma política. Assim como a socialdemocracia clássica via o parlamentarismo como o meio de emancipação do proletariado através do mítico 51% dos votos (a caricatura da ideologia socialdemocrata defendeu que quando o partido operário tivesse a maioria no parlamento teria início à transição socialista), o Syriza e o Podemos veem as instituições parlamentares como o meio de conciliar todas as classes num projeto “socialmente justo” e “democrático”.

Mas a semelhança com a social democracia clássica não para por aí. Georg Lukács percebeu que depois do levante de 1848, conhecido como Primavera dos Povos, o pensamento burguês entra numa fase de “decadência ideológica” perdendo seu caráter revolucionário do período anterior. Uma das manifestações dessa decadência é na crítica da economia-política tirar o cerne das relações de produção e centrar na esfera da distribuição como se ela fosse independente da produção. O movimento operário sempre viveu uma intensa luta ideológica pelo predomínio de ideologias pequeno-burguesas e proletárias, e uma das expressões orgânicas da ideologia pequeno-burguesa é centrar suas críticas na esfera de distribuição, na desigualdade social, e não na propriedade privada e na apropriação privada da riqueza socialmente produzida.

Syriza e o Podemos repetem essa tônica. O programa econômico de ambos não passa de uma reedição do velho programa socialdemocrata, mas com uma pequena diferença: o programa do Podemos consegue ser mais rebaixado que o do Syriza. A organização de Pablo Iglesias excluiu a nacionalização de setores estratégicos da economia e a nacionalização dos bancos (nesse ínterim a defesa não passa de uma regulação mais forte). Para ambos, a União Europeia é um bloco bom, mas que precisa apenas ser democratizado, explicitado uma incompreensão brutal do domínio dos monopólios sobre os países da União Européia.  É fundamental ouvir o velho Marx nesse ponto:

O socialismo vulgar (e, posteriormente, por sua ver, uma parte da democracia), na esteira dos economistas burgueses, considera e trata a distribuição como algo independente do modo de produção e confere ao socialismo uma tônica que gravita em torno da distribuição. Uma vez que as relações reais foram elucidadas há muito tempo, por que retroceder?  (Marx, 2010, p.109) [2]

Contudo, nesse quesito é importante estabelecer uma mediação tática. É evidente que uma organização política não pode sempre apresentar o programa máximo independente da conjuntura política; em vários momentos é taticamente importante defender programa redistribuitivo; porém, o partido deve está consciente que isso é uma medida tática (não estratégica) e limitada pela conjuntura. Ao mesmo tempo, numa conjuntura de forte enfrentamento quando a hegemonia burguesa está em crise (como na Venezuela, Grécia, Espanha, Portugal etc.) é uma ação estrategicamente errada, e às vezes contrarrevolucionária, apresentar o programa rebaixado como a solução para todos os problemas do povo trabalhador.

Mesmo com todos esses limites, por que setores da esquerda brasileira, com destaque para o PSOL, fazem uma divinização acrítica do Syriza e do Podemos? Temos uma hipótese formulada. Depois da falência do projeto democrático-popular do PT os partidos que não romperam estrategicamente com esse partido – como o PSOL – precisam de outra fonte de legitimação do seu programa. Eles querem fazer o mesmo que o PT, mas afirmam que dessa vez vai dar certo.

O Syriza e o Podemos caem como uma luva nisso. Luciana Genro nas palestras que faz pelo Brasil afirma sempre que o importante é que “um partido de esquerda ganhou a eleição com um programa de esquerda” e que “se vai conseguir aplicar ou não é outra coisa... a situação é muito difícil”. A lógica do raciocínio é explícita: independente ou não de aplicação do programa (notem a ausência de questionamento do conteúdo do programa), o importante é ganhar a eleição, a prioridade absoluta da institucionalidade “dá certo”.

É tarefa fundamental dos comunistas analisar concretamente a conjuntura política da Europa, a composição de classe dessas novas organizações, seu programa e o papel que cumprem na luta de classe. Nem aceitação acrítica e nem sectarismo estéril. Contudo, entre as tarefas fundamentais dos comunistas está o combate as ideologias não proletárias no seio do proletariado, e a socialdemocracia é um dos maiores cânceres históricos que conhecemos.

Não se pode assinar uma folha em branco, principalmente quando a confiança nessa estratégia já nos mostrou por anos as suas implicações. É preciso organizar os anseios de nossa classe nesse momento, impulsionar para lutas que avancem no sentido de transcender as velhas estruturas. Essa possibilidade não cabe na estratégia social democrata, nenhuma ilusão deve ser alimentada. A luta de classe não permite qualquer aceitação acrítica da social democracia, principalmente num momento de crise mundial capitalista. Só através de verdadeiras lutas anti-imperialistas, anticapitalistas, rumo ao socialismo, podemos dar as respostas necessárias para superação dessa crise societária que é endemia ao capital.

Bibliografia.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In MARX, Karl. A revolução antes da Revolução. São Paulo: expressão popular, 2008.
__________ A Luta de Classe na França. In MARX, Karl. A revolução antes da Revolução. São Paulo: expressão popular, 2008.
MARX, Karl. Critica ao Programa de Gotha. l&pm pocket, 2010.

http://makaveliteorizando.blogspot.com.br/2015/07/syrizae-podemos-socialdemocracia-ontem.html