quarta-feira, 1 de abril de 2015

Como nos tornamos humanos

Linha evolucionária humana

Mudanças genéticas em ancestrais humanos determinaram "vantagens" na vida moderna.
Mudanças fundamentais ocorreram para que nos tornássemos humanos.
da BBC Brasil
Os humanos são provavelmente a espécie mais curiosa que já existiu.
Temos cérebros muito maiores que os de outros animais e que nos permitem construir utensílios, entender conceitos abstratos e usar a linguagem.
Mas também temos poucos pelos, mandíbulas fracas e demoramos para dar à luz.
Como a evolução explica essa criatura extravagante?

1. Viver em grupo

Macacos abraçados
Há 30-60 milhões de anos
Os primeiros primatas, grupo que inclui macacos e humanos, surgiram pouco depois do desaparecimento dos dinossauros. Muitos começaram rapidamente a viver em grupos para melhor se defenderem de predadores, e isso exigiu de cada animal "negociar" uma rede de amizades, hierarquias e inimizades.
Sendo assim, viver em grupo pode ter impulsionado um aumento da capacidade intelectual.

2. Mais sangue no cérebro

Detalhe da veia carótida
Há 10-15 milhões de anos
Humanos, chimpanzés e gorilas descendem todos de uma espécie desconhecida e extinta de hominídeo.
Neste ancestral, um gene chamado RNF213 evoluiu rapidamente e pode ter estimulado o fluxo de sangue para o cérebro ao ampliar a artéria carótida.
Nos humanos, as mutações do RNF213 causam a doença de Moyamoya - um estreitamento da carótida que leva ao deterioramento da capacidade cerebral por conta da pouca irrigação do cérebro.

3. A divisão dos primatas

Chimpanzé
Há 7-13 milhões de anos

Nossos ancestrais se separaram de seus parentes parecidos com os chimpanzés há cerca de 7 milhões de anos. No início, tinham uma aparência bem similar, mas por dentro suas células estavam em marcha.
Os genes ASPM e ARHGAP11B entraram em mutação, assim como um segmento do genoma humano chamado HAR1.
Ainda não está claro o que provocou essas modificações, mas o ARHGAP11B e o HAR1 estão associados ao crescimento do córtex cerebral

4. 'Picos' de açúcar

Depois que a linha evolutiva humana se separou da linha dos chimpanzés, dois genes sofreram mutações.
Cérebro humano
Há menos de sete milhões de anos


O SLC2A1 e o SLC2A4 formam proteínas que transportam glicose para dentro e para fora das células.
Essas modificações podem ter desviado glicose dos músculos para o cérebro de hominídeos primitivos e é possível que tenha estimulado o crescimento do órgão.

5. Mãos mais hábeis

Nossas mãos são incrivelmente hábeis e nos permitem construir ferramentas ou escrever, entre outras atividades.
Anatomia da mão humana
Há menos de 7 milhões de anos


Isso pode se dever em parte a um fragmento de DNA chamando HACNS1, que evoluiu rapidamente desde que nossos ancestrais e os ancestrais dos chimpanzés se dividiram.
Não se sabe o que o HACNS1 faz exatamente, mas ele contribuiu para o desenvolvimento de nossos braços e mãos.

6. Mandíbulas fracas: mais espaço para o cérebro

Em comparação com outros primatas, os humanos não podem morder com muita força porque têm músculos mais fracos em volta da mandíbula, bem como mandíbulas menores.
Mandibula humana
Há 2,4 - 5,3 milhões de anos

Isso parece se dever a uma mutação do gene MYH16, que controla a produção de tecido muscular.

7. Dieta variada

Nossos ancestrais primatas mais antigos comiam principalmente frutas, mas espécies posteriores como o Australopithecus ampliaram seu cardápio.
Carne
Há 1,8 - 3,5 milhões de anos


Além de se alimentar com uma variedade maior de plantas, como ervas, comiam mais carne e inclusive a cortavam com ferramentas de pedra.
Mais carne levou ao consumo de mais calorias e menos tempo de mastigação.

8. Pelado, nu com a mão no bolso

Os humanos são quase pelados. Não se sabe a razão, mas isso ocorreu entre 3 e 4 milhões de anos atrás.
Pele humana
Há 3,3 milhões de anos


Suspeita-se que a perda de pelos tenha ocorrido em resposta à evolução de parasitas como carrapatos.
Exposta ao sol, a pele humana escureceu e a partir de então todos nossos ancestrais foram negros até que alguns humanos modernos deixaram os trópicos.

9. Um gene de inteligência

Neurônios humanos
Um gene chamado SRGAP2 foi duplicado três vezes em nossos ancestrais e, como resultado, células cerebrais teriam desenvolvido mais conexões.

10. Cérebros maiores: primatas pensantes

Os humanos pertencem a um grupo ou gênero de animais conhecido como Homo. O fóssil mais antigo de Homo foi escavado na Etiópia e tem 2,8 milhões de anos.
Homo habilis
Há 2,8 milhões de anos

A primeira espécie foi possivelmente o Homo habilisembora cientistas discordem deste argumento.
Em comparação com seus ancestrais, esses novos hominídeos tinham cérebros muito mais grandes.

11. Parto complicado: uma cabeça muito grande

Para os humanos, o parto é mais difícil e perigoso.
Ultrassom de bebê humano
Há pelo menos 200 mil anos


Diferentemente de outros primatas, as mães quase sempre precisa de ajuda.
Caminhar sobre duas pernas fez com que as fêmeas humanas tenham um canal pélvico mais estreito e passagem de um bebê humano com a cabeça maior de seus ancestrais ficou dificultada.
Para compensar esse "problema logístico", bebês humanos nascem pequenos e indefesos.

12. Controle do fogo

Ninguém sabe quando os humanos aprenderam a controlar o fogo.
Fogo
Há 1 milhão de anos


A evidência mais antiga do uso do fogo está na Caverna de Wonderwerk, na África do Sul, que contém cinzas fossilizadas e ossos queimados datando de um milhão de anos.
Mas alguns especialistas afirmam que o fato de homem já ser capaz de processar alimentos há mais tempo do que isso poderia incluir o ato de cozinhar.

13. O dom da fala

Todos os grandes hominídeos têm sacos de ar em seus tractos vocais, o que lhes permite emitir fortes gritos.
Boca humana
Há 600 mil - 1,6 milhão de anos

Mas não os humanos, porque essas bolsas fazem impossível produzir diferentes sons.
Nossos ancestrais aparentemente perderam os sacos de ar antes de se separar em termos evolucionários da espécie Neanderthal, o que sugere que eles também podiam falar.

14. Um gene para a linguagem

Algumas pessoas têm uma mutação em um gene chamado FOXP2.
Homem primitivo
Há meio milhão de anos


Como resultado, custa a elas entender gramática e pronunciar palavras.
Isso sugere que o FOXP2 é crucial para aprender o uso da linguagem.

15. Saliva reforçada para comer carboidratos

A saliva humana contém uma enzima chamada amilasa, fabricada pelo gene AMY1, e que digere amidos.
Feixe de trigo
Humanos descendentes de agricultores têm mais cópias do gene AMY1


Os humanos modernos cujos ancestrais foram agricultores têm mais cópias do AMY1 que aqueles cujos ancestrais era caçadores, por exemplo.
Este reforço digestivo pode ter ajudado a dar início ao cultivo, aos povoados e às sociedades modernas.

terça-feira, 31 de março de 2015

Será que estamos sendo justos com Dilma?

dilma_rousseff_getty

A corrupção voltou ao centro da luta política. Não temos, portanto, como fugir a um debate franco e duro sobre o tema.
O governo é corrupto?
O PT, o partido do governo, é corrupto?
Antes, porém, de entrar nesse debate, gostaria de fazer alguns comentários sobre essa volúpia, à esquerda e à direita, em malhar o governo, o PT e a presidenta Dilma.
A volúpia nasce da constatação do que consideramos erros, mas também desse instinto igualitarista tão próprio da democracia: ao criticar, como que reduzimos a desigualdade de poder entre o governado e o governante.
O governante pontifica lá de cima, no palácio, dispondo de instrumentos de poder que nunca teremos. Nossa pequena vingança é criticá-lo impiedosamente. Ou mesmo xingá-lo. Daí resulta um processo inevitável de desgaste que afeta toda e qualquer administração.
Isso explica também as lágrimas de Dilma Rousseff, no dia seguinte àquela grande manifestação do dia 15 de março, em São Paulo.
Num discurso emocionado, a presidenta observou que nunca mais, no Brasil, alguém seria perseguido por criticar um governante, mesmo que duramente, mesmo que com palavras de baixo calão.
Seja como for, uma das grandes qualidades da nossa democracia foi a conquista dessa liberdade, para a qual contribuíram a sólida virtude democrática de todos os presidentes que tivemos, desde Sarney. Todos eles, com seus infinitos defeitos, jamais fizeram movimentos para tolher a liberdade da população de exercer o seu sagrado direito de criticá-los.
Essa não é uma virtude universal na classe política. Nos últimos anos, inúmeros prefeitos e governadores usaram seu poder para reprimir com truculência manifestações críticas às suas gestões. Os exemplos de José Serra e Aécio Neves são os mais conhecidos. Ambos ganharam a triste fama de criarem um sistema de repressão branca, baseado sobretudo na demissão de jornalistas e colunistas que fugiam do script de apoio incondicional que eles exigiam dos órgãos de imprensa locais. No caso de Aécio, a coisa foi ainda mais grave, com perseguição judicial e penal a um jornalista crítico a seu governo.
Por outro lado, a virtude democrática, de aceitação serena da crítica, na medida em que foi característica de todos nossos presidentes após a morte de Tancredo, não é mais um diferencial. Passou a ser, muito saudavelmente, uma obrigação de ofício. Continua a ser uma virtude, mas não merece mais nossa gratidão.
Até porque o governante, ciente de que suportar estoicamente a crítica mais virulenta é uma virtude, não pode recair no risco de se tornar tão cínico a ponto de se auto-elogiar pela suposta magnanimidade de permitir que seja criticado.
Em outras palavras, o governante não pode converter a crítica dura que setores sociais fazem a ele numa virtude pessoal.
No entanto, parece ser justamente isso que acomete Dilma Rousseff. Sua reação às críticas que lhe são feitas, à esquerda e à direita, parece ser a de um líder que, ao ouvir o populacho lhe xingando lá embaixo, olha-se ao espelho e se auto-elogia: eu sou tão democrata! Eu sou tão boa! Eu sou tão generosa! Nem ligo para as pessoas que me xingam nas ruas! Eu lhes perdôo!
O autoritarismo, sorrateiramente, se infiltra e contamina a mais democrática das virtudes. A virtude de tolerar as críticas então se transforma no vício de lhes ser indiferente!
*
A semana passada terminou razoavelmente positiva para o governo, o que significa que perdeu da mídia de oposição de uma goleada menor do que de costume.
A nomeação de dois novos ministros criou (embora involuntariamente, visto que o governo não planejou a demissão dos titulares anteriores) dois fatos positivos.
Edinho Silva criou um fato positivo por representar um pequeno ato de valentia do governo. Silva não é nenhum gênio de comunicação, e sua competência e coragem ainda serão postas à prova, mas apenas o fato do governo não ter nomeado, como queria a mídia, e como tem sido praxe desde o início do governo Dilma, uma pessoa “deles”, um profissional oriundo da própria mídia, um amiguinho de editores e repórteres, repercutiu bem de maneira geral. À esquerda, houve um estremecimento, do tipo: será que agora vai? À direita, outro tipo de arrepio, do tipo: ué, não tínhamos bebido todo o sangue do governo, como assim ainda restou um pingo de força e independência?
A nomeação do novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, por sua vez, ajudou a melhorar a imagem do governo. Dilma seguiu o conselho dos que lhe sugeriam trazer para o governo nomes com prestígio social.
Isso é fazer a batalha da comunicação.
Aliás, um amigo, o responsável pela comunicação do MST, o jornalista Igor Felippe, escreveu um texto, há pouco tempo, em que fala que o problema do governo não é a comunicação, mas a sua política, de maneira geral.
Ora, esse também é o erro do governo e do PT. De entender a comunicação como uma instância separada do todo. A comunicação é o todo.
Não se trata apenas do que as pessoas ouvem do governo, mas sobretudo aquilo que as pessoas vêem no governo. Neste sentido é que o anúncio de um novo ministro constitui um valioso instrumento de comunicação.
A nomeação de Janine foi positiva.
A de Katia Abreu, independente da possibilidade de ser uma boa ministra da Agricultura, representante do agronegócio, foi uma péssima comunicação. Quer dizer, foi um esforço de agradar um setor, mas não foi inteligente, porque não trouxe equilíbrio. Não houve planejamento enquanto comunicação.
*
Vamos ao tema da corrupção, central no debate político de hoje.
Como dizia, a semana passada encerrou de maneira relativamente positiva para o governo também em função de uma nova grande operação da Polícia Federal, a Zelotes, contra grandes sonegadores.
A operação abre a oportunidade do governo retomar a narrativa da corrupção não mais como réu da mídia, mas como protagonista na luta contra a corrupção.
Entretanto, mais uma vez, o governo está perdendo a ocasião.
A presidenta Dilma tem um twitter com 3,3 milhões de seguidores. No momento em que eu escrevo, na manhã da terça-feira 31 de março, a última mensagem, de seis dias atrás, é uma nota fúnebre pela queda do avião da Germanwings.
Tenho criticado, com sarcasmo cheio de amargura, essa mania mórbida da equipe de comunicação de Dilma de transformar seu twitter em coleção de necrológios.
De seis dias para cá, a presidenta nomeou dois ministros, em cargos estratégicos, a PF iniciou uma operação impressionante, com capacidade de mudar a imagem do governo, e o twitter da presidenta lamenta a queda de um avião nos alpes suíços! Um problema que sequer diz respeito ao Brasil, quanto mais ao governo brasileiro!
*
O Cafezinho não se pretende imparcial. Tento ser honesto, apenas. Acho bobagem, da mesma forma, a máxima de que “jornalista não pode ter amigo”. Esse é um dogma, me parece, inventado por donos de jornal, que podem ter amigos à vontade, mas querem que seus empregados ajam como robôs, sem vontade própria, seguindo exclusivamente as ordens e os ditames da redação.
Se um amigo cometer um crime que o jornalista considerar grave o suficiente, dê fim à amizade, e faça a denúncia.
Ou então, encaminhe o caso para outro profissional fazê-lo.
Pretender que o jornalista “não tenha amigos”, é uma violência, ou melhor, uma dessas máximas puramente hipócritas, porque é evidente que o jornalista terá os amigos que quiser, só que os ocultará de seus leitores ou mesmo de seus patrões.
*
No entanto, o escopo do artigo de hoje é expressar uma coisa sobre a qual ando discutindo com alguns parentes nos últimos dias.
Uma das críticas pertinentes que se faz aos petistas é a seguinte: não tem sentido responder às acusações de corrupção apenas acusando o adversário de roubar também.
Então volto a fazer as perguntas do início do post: o PT é corrupto? O governo é corrupto?
Acho que, a esta altura, o eleitorado petista, que é vencedor (apesar do próprio governo não se dar conta, ou não demonstrar isso, ao não dialogar com ele), responde essas perguntas da seguinte maneira:
Sim, o PT tem e teve quadros envolvidos em corrupção. Em alguns casos, há manipulação da mídia, mas em outros, há corrupção concreta, ou omissão, ou cumplicidade.
O governo também. Há e houve corrupção no governo e nas estatais. Isso é inegável.
No entanto, esse eleitorado reage a essa acusação com os seguintes raciocínios:
1) Hoje há combate de verdade à corrupção, inclusive àquela incrustada dentro do PT e do governo. Antes, não havia combate à corrupção, sobretudo aquela que contamina o poder.
2) Entende que o outro pólo político, dos partidos antipetistas, não é melhor em termos éticos.
3) O outro lado, além de roubar mais, não investiga e não combate o roubo.
4) Além de ser corrupto, o outro lado não tem preocupação social, e não é confiável do ponto-de-vista do interesse nacional e do trabalhador.
*
Eu fico meditando, às vezes, sobre como o futuro julgará os governos petistas em termos de ética.
Decerto não será o mesmo julgamento da imprensa partidária, nem da opinião pública contemporânea, mergulhada até o pescoço nas paixões políticas.
E aí eu fico pensando nesta ironia: o fato de termos, hoje, instituições que investigam o próprio governo e o partido no poder com total autonomia e independência; a elevação do investimento em instituições cujo orçamento estão sob sua responsabilidade (Polícia Federal, Controladoria Geral da União); a inauguração de sistemas de transparência; o respeito absoluto com que tratou da liberdade de imprensa; a escolha de ministros do Supremo que exerceram seu cargo com independência, ou até mesmo, em alguns casos, com parcialidade, contra o governo (sob pressão histerica da mídia).
Tudo isso não implicará numa imagem, na história, de um governo que permitiu ao Brasil olhar para si mesmo com muito mais honestidade?
Tudo isso não implicará, ironia das ironias, na imagem do governo que mais lutou contra a corrupção em nossa história?
Outro dia, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deu entrevista ao Globo em que reagiu da seguinte maneira a uma pergunta do repórter, sobre abertura de inquérito sobre ele no Supremo Tribunal Federal:
“Globo: O senhor está tranquilo quanto às acusações dos delatores?
Cunha: Absolutamente tranquilo. (Meu advogado) falou que o (doleiro) Youssef fala que não me conhece. Que não tem absolutamente nada contra mim. Forçaram a barra do Youssef perguntando de mim, aí ele fala que ouviu do Júlio Camargo. Ele não me acusa de nada. Diz que não me conhece, não sabe nada de mim.
Globo: Mas seu nome foi incluído.
A partir de agora, estou em guerra aberta com o (procurador-geral da República, Rodrigo) Janot. Tudo é possível. Vamos ver até que nível que vai. Ele me escolheu. Está muito claro.
Globo: É o maior escândalo do país?
Além de ser inacreditável, foi o maior escândalo de corrupção do mundo. O que mais me incomoda é a gente olhar que tem um escândalo desse tamanho e achar que todo mundo está igual. É a percepção que passa quando abre um inquérito para um e para o outro que não roubou.
Globo: O senhor acusou o governo de atuar para te incriminar…
Eu já disse que tinha a mão do governo. Já acusei claramente.”
*
É incrível a agressividade e o desrespeito de Cunha contra o procurador-geral e contra o Executivo.
Além disso, repare no oportunismo dele ao tentar jogar em favor da mídia, e classificar, ridiculamente, a Lava Jato como o “maior escândalo de corrupção do mundo”.
Cunha fala assim porque sabe que a mídia não se interessa em combater a corrupção, mas apenas em pegar o PT, porque, em caso contrário, ele seria mais cuidadoso com sua linguagem, visto que seu partido tem mais gente sendo acusada do que o PT.
Quando as paixões políticas amainarem, e for possível fazer uma análise serena dos governos petistas, veremos dois presidentes que enfrentaram crises terríveis sem agredir nenhuma instituição.
Nem Dilma nem Lula, mesmo no auge dos ataques furibundos que até alguns ministros do STF, embriagados pelos holofotes, fizeram a seu partido, jamais reagiram a truculência de um Cunha, jamais criaram um atrito entre as instituições.
Essa lhaneza petista jamais foi reconhecida pela imprensa.
Enquanto isso, que imagem, a nossa imprensa, que é o principal partido de oposição, terá no futuro?
Será a imagem de uma imprensa histérica, sensacionalista, que mentiu, manipulou, desrespeitou brutalmente direitos e liberdades de cidadãos?
Uma imprensa truculenta, que mesmo tendo enriquecido tanto durante o regime autoritário, não teve o pudor de, no regime democrático, respeitar o pluralismo político?
Uma imprensa que jamais esteve ao lado do povo, e que, quando este povo conseguiu eleger governos que se interessavam por sua sorte, fez de tudo para criminalizar e destruir esses governos?
Minha curiosidade pelo julgamento da história é tão grande que eu desejaria entrar numa máquina do tempo e viajar ao futuro, apenas para ler sobre o Brasil de hoje.
sanguessugado do: http://www.ocafezinho.com/2015/03/31/sera-que-estamos-sendo-justos-com-dilma/

O aniversário do desrespeito de Gilmar pela Constituição, por Janio de Freitas


da Folha

Um bolo, por Janio de Freitas

Gilmar desrespeita o determinado pela Constituição porque não quer que se imponha a decisão do STF

Santa embora, a próxima quinta-feira marca uma profanação constitucional: um ano exato do pedido de vista que Gilmar Mendes fez de uma ação direta de inconstitucionalidade e não mais a devolveu ao julgamento no Supremo Tribunal, impedindo-a de vigorar. Já vitoriosa por seis votos a um, os três votos faltantes não poderiam derrotá-la.

A ação foi movida pela OAB em 2011, recebendo adesão subsequente de entidades como a CNBB, com o argumento de que as doações de empresas que financiam as eleições são inconstitucionais e devem ser substituídas por doações dos cidadãos, com um teto para o montante doado.

Gilmar Mendes é favorável à permanência do financiamento dos candidatos e partidos por empresas. Sabe-se de sua opinião não só por ser previsível, mas também porque a expôs em público. Ainda há dez dias, dizia a repórteres: a proposta da OAB (Gilmar Mendes é costumeiro adversário da Ordem) "significa que o sujeito que ganha Bolsa Família e o empresário devem contribuir com o mesmo valor. Isso tem nome. Isso é encomendar já a lavagem de dinheiro. Significa que nós temos o dinheiro escondido e vamos distribuir para quem tem Bolsa Família. Não sei como essa gente teve a coragem de propor isso. Um pouco de inteligência faria bem a quem formulou a proposta".

A explicação é ininteligível. "Essa gente", que é a OAB, é a CNBB, são outras entidades e inúmeros juristas, não propôs nada parecido com doações iguais de empresários e de recebedores do Bolsa Família. E lavagem de dinheiro e caixa dois são características comprovadas do financiamento das eleições por grandes empresas, com destaque para as empreiteiras e alguns bancos. O eleitor comum é que iria lavar dinheiro nas eleições?

Em artigo divulgado no último dia 28, encontrável no saite "Viomundo", a juíza Kenarik Boujikian, do Tribunal de Justiça-SP, pergunta: "Quem de fato está exercendo este poder" de eleger os "representantes do povo" no Legislativo e no Executivo? "O povo brasileiro ou as empresas?". E segue:

"A resposta está dada: nas eleições presidenciais de 2010, 61% das doações da campanha eleitoral tiveram origem em 0,5% das empresas brasileiras. Em 2012, 95% do custo das campanhas se originou de empresas" [2014 não está concluído]. "Forçoso concluir que o sistema eleitoral está alicerçado no poder econômico, o que não pode persistir."

O PT pretende a solução do financiamento eleitoral com verba pública. E lá iríamos nós financiar o pouco que se salva e o muito que não presta na política. O PMDB quer o dinheiro das empresas, mas cada doadora financiando um único partido. O PSDB é contra as duas propostas, o que leva à preservação do atual sistema. No Congresso há projetos para todos os gostos. Daí a importância da ação no Supremo.

Desde a reforma do Judiciário, há 11 anos, a Constituição aboliu o bloqueio de processos, como Gilmar Mendes faz a pretexto de vista de uma questão sobre a qual emite publicamente posição definida. Como diz a juíza Kenarik Boujikian, "não é tolerável que, com um pedido de vista, um ministro possa atar as mãos da instância máxima do próprio Poder Judiciário, o que soa ainda mais desarrazoado se considerarmos o resultado provisório [6 a 1] do processo e a manifestação do ministro. Com isto quero dizer que a soberania popular, que cada magistrado exerce em cada caso e sempre em nome do povo, não pode ficar na mão de uma pessoa, em um órgão colegiado".


Gilmar Mendes desrespeita o determinado pelo art. 93 da Constituição porque não quer que se imponha a decisão do STF, como está claro em sua afirmação de que "isso é assunto para o Congresso". Mas, além do problema de sua atitude, a decisão do Supremo tem importância fundamental. Eduardo Cunha avisa que levará a reforma política à votação já em maio. O dinheiro das campanhas é um dos temas previstos. E a decisão do Supremo, se emitida em tempo, ficará como um balizamento que não poderá ser ignorado pela reforma política, uma vez que antecipará o que é ou não compatível com a Constituição. E, portanto, passível ou não de ser repelido pelo Supremo Tribunal Federal.

Do: http://contrapontopig.blogspot.com.br/2015/03/contraponto-16400-o-aniversario-do.html

A foto que quebrou o coração da internet

Conheça a história por trás da imagem da garotinha síria que ergue as mãos em sinal de rendição por imaginar que o fotógrafo segura uma arma, ao invés de uma câmera

menina síria foto viral
Menina síria ergue as mãos, assustada, em sinal de rendição ao olhar para a câmera do fotógrafo turco Osman Sağırlı
A jornalista e fotógrafa Nadia AbuShaban publicou em seu Twitter uma imagem que se espalhou pela internet em vários países do mundo em minutos. A foto mostra uma criança síria com as mãos para cima, assustada, em sinal de rendição, aparentemente acreditando que nas mãos do fotógrafo há uma arma ao invés de uma câmera. Nadia não é a autora da imagem, mas a responsável por torná-la viral.
Alguns sites internacionais não conseguiram identificar, a princípio, se a criança da foto era um menino ou uma menina. Posteriormente, a BBC confirmou que se trata de uma garotinha – Hudea, de apenas 4 anos.
Após muitos questionamentos sobre a veracidade da imagem, internautas se dispuseram a encontrar a sua origem e, para tanto, vasculharam o Imgur – site de compartilhamento de imagens.
Descobriram que a foto é verdadeira, mas tirada no ano passado. O autor é Osman Sağırlı, um fotógrafo turco.
Sağırl, que agora trabalha na Tanzânia, deu uma entrevista à BBC para acabar com as dúvidas em torno da fotografia.
“Eu usei uma câmera fotográfica e ela pensou que fosse uma arma”, disse Sağırlı.
“Depois que eu tirei a foto, percebi que elas estava assustada porque mordeu os lábios e levantou as mãos. Normalmente, crianças correm, escondem os rostos ou sorriem quando veem uma câmera […] você sabe que há pessoas que foram desalojadas nos campos. Faz mais sentido ver o que elas sofreram através das crianças e não dos adultos. São as crianças que refletem os sentimentos com a inocência que têm”, afirmou.
A imagem foi tirada no campo de refugiados de Atmeh na Síria, em dezembro do ano passado, publicada originalmente no jornal Türkiye e amplamente divulgada nas redes sociais da Turquia, mas só agora se tornou viral nas principais mídias do ocidente.
Impactante, a imagem resume a impotência e o trauma de 5,5 milhões de crianças que já foram de alguma forma afetadas pela guerra civil síria que teve início em março de 2011. Pelo menos 3 milhões de civis abandonaram o país desde que os conflitos começaram.
 http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/foto-de-menina-da-siria-assustada-viraliza-na-internet.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Pol%C3%ADtico%29

Como xingamentos expõem diferenças culturais






"Diabo! Doente de câncer! Cálice de santuário!"

Essas palavras podem não soar tão ofensivas em português. Mas eu evitaria dizê-las para um finlandês, um holandês ou um canadense do Québec.

A definição de um palavrão não é a mesma nas diferentes regiões do mundo.

Mas uma linguagem mais pesada, usando ofensas e profanação, é algo que todas as culturas conhecem.

Xingar normalmente envolve dar nomes a coisas que você deseja, mas não deveria desejar. Ou tem por objetivo minar estruturas de poder que podem parecer arbitrárias demais.

Temos a tendência a pensar em palavrões como uma entidade única, mas eles na realidade servem a diferentes propósitos.

O linguista e escritor americano Steven Pinker, em seu livro Do Que É Feito o Pensamento, lista cinco maneiras diferentes de falar palavrões:

"descritivamente ('Vamos f...r?'), idiomaticamente ('está f..a'), abusivamente ('f...-se'!), enfaticamente ('isso é f.....mente incrível') e catarticamente ('F..eu!').

Tabus

Nenhuma dessas funções requer palavrões. Em bicol (uma língua nativa das Filipinas), existe um vocabulário especial para expressar a raiva: muitas palavras têm termos alternativos que se referem exatamente à mesma coisa, mas que demonstram a irritação de quem fala.

Em luganda (uma língua de Uganda), você pode transformar uma palavra em um insulto apenas mudando seu prefixo, o que também modifica sua função gramatical.

E em japonês, é possível ofender alguém profundamente apenas usando uma forma inapropriada de dizer "você".

Nem toda linguagem que é tabu conta como palavrão. Algumas palavras ainda têm um significado pesado ou pejorativo, mesmo se não pretendemos xingar alguém – é o caso de termos raciais e insultos baseados em incapacidade física ou orientação sexual.

Mas alguns termos têm a ver com coisas que você evita dizer por causa de seu conteúdo ofensivo.

No sul da África, algumas culturas adotam um discurso "de respeito" que é imposto às mulheres para quando elas falam com as famílias dos maridos. Dizer o nome do sogro, por exemplo, é proibido, assim como qualquer palavra que soe parecido – mas é justamente esse nome que elas vociferam quando se machucam ou quando algo surpreendente acontece.

A mãe dos insultos

Palavras que se referem aos órgãos genitais são as forma mais comum de xingamento. Na China ou na Rússia, as pessoas podem falar o nome do órgão feminino ou masculino quando estão irritadas.

Na Itália, o órgão feminino é mais "proibido": o pênis é visto como uma chave para o poder; a vagina tem que se manter trancada, exceto para o homem com a chave certa.

Nas Filipinas, ocorre o contrário: em bicol, a expressão buray ni nanya ("vagina da mãe") é tão comum quanto dizer "saco".

Já o sexo, na parte agressiva e raivosa do cérebro, é um ato de dominação. Equivalentes funcionais à expressão "F...r" são encontrados em vários idiomas.

Em outras culturas, os homens estão mais ligados a suas mães, então muitos dos xingamentos envolvem atos sexuais com a mãe de alguém (às vezes também especificando sua genitália).

As culturas em que a mãe aparece mais nos palavrões são as latinas e ainda as eslávicas, balcânicas, árabes e chinesa.

Essas culturas tendem a ter sociedades centradas em famílias extendidas em vez de um pequeno núcleo familiar. Tanto que o termo "f...r" também pode se referir ao pai (em bósnio), ao avô ou até a outros parentes: gifsha robt significa "sua família" em albanês, sülaleni sikeyim, "sua família extendida" em turco, e cào nǐ zǔzōng shíbā dài, "seus ancestrais desde a 18ª geração" em mandarim.

Outras culturas que apelam para a moralidade na hora de xingar também acabam atacando as prostitutas – justamente aquelas desafiam a exclusividade da esposa e a posse sobre o homem.

Por isso palavras como "p..." também são xingamentos em tantas partes do mundo. Aliás, as culturas que mais xingam as mães são também as que xingam as prostitutas.

Mas em outras sociedades, surgem diferenças. Mencione a mãe de um homem na Finlândia, por exemplo, e ele vai achar que você tem algum problema com ela e não que está tentando ofendê-lo.

Os finlandeses usam um termo para a genitália feminina que é uma das palavras mais sujas que podem ser ditas no idioma. Mas eles também usam, causando muito desconforto, saatana (Satanás), perkele (Diabo) e helvetti (Inferno), termos usados com a mesma intenção ofensiva na Suécia, na Noruega e na Dinamarca.

Isso porque missionários imprimiram o medo do mal nessas culturas. Uma evidência de um controle da Igreja semelhante também se nota no inglês. Há alguns séculos, xingar usando as partes do corpo de Cristo era extremamente ofensivo. Hoje dizer damn (maldição) ou Hell (Inferno) é muito comum.

Sujeiras

As fezes aparecem como xingamentos pesados em menos países do que se imagina. Na rota Grã-Bretanha-França-Alemanha, palavras como shit, merde e Scheiße têm um significado negativo por causa dos históricos controles sociais voltados para a limpeza e a higiene. Mas na Suécia, skit não soa tão ofensivo.

Alguns lugares têm aversão especial a doenças. Se quiser usar um expletivo catártico em polonês, cholera é um deles. E em tailandês, é possível desejar cólera a alguém.

Muitos palavrões em holandês usam o cólera, o câncer e o tifo. Se quiser dizer algo realmente vulgar nesse idioma, apenas acrescente kanker (câncer).

Animais também podem ser sujos e são usados em muitos insultos. Assim como doenças mentais. "Idiota" pode não soar tão grave em alguns lugares, mas em japonês é um dos xingamentos ofensivos mais usados.

O que nos faz concluir que se a linguagem do dia a dia é o solo no qual cultivamos nossas vidas, os palavrões são os vulcões que disparam de seu interior."

Como funciona o financiamento público de campanha

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Publicado na BBC Brasil.

Em meio ao escândalo de corrupção na Petrobras (de onde recursos teriam sido desviados para financiar partidos), o PT defende hoje que as campanhas eleitorais sejam financiadas 100% por dinheiro público.
O sistema só existe em um lugar do mundo, o Butão, país que apenas em 2008 deixou de ser uma monarquia absolutista e realizou suas primeiras eleições.
Mas o financiamento público de partidos e/ou candidatos, em pequena ou larga escala, é adotado em 118 países, de acordo com um monitoramento realizado pelo Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea, na sigla em inglês). Em alguns deles, como México, Colômbia, Itália e Espanha, chegam a representar mais de 80% dos gastos das campanhas.
No Brasil, os partidos têm acesso a doações privadas e a recursos públicos – prevendo dificuldades de obter financiamento de empresas após a Operação Lava Jato, senadores e deputados decidiram triplicar a verba do fundo partidário neste ano, para R$ 867,56 milhões, há duas semanas.

Mas quais as vantagens e desvantagens de aumentar o financiamento público no Brasil? A BBC Brasil preparou um guia sobre o assunto. Confira abaixo.

Qual o princípio do financiamento público?

O objetivo do financiamento público é contrabalancear – ou mesmo anular – a influência do poder econômico nas eleições. Os defensores de um modelo majoritariamente ou totalmente público argumentam que doações privadas desvirtuam a democracia, pois as grandes corporações são muito mais ricas que os indivíduos e, assim, têm mais recursos para influenciar nas eleições.
O PT defende que o financiamento seja exclusivamente público, ou seja, que nem mesmo pessoas físicas possam doar. A proibição de doações de empresas também é defendida por centenas de movimentos sociais (como UNE, CUT e MST) que integram a Campanha pela Constituinte – proposta de convocação de um Assembleia exclusiva para votar uma reforma política. Mas não há consenso entre eles sobre doações de pessoas físicas.
“Para nós, o financiamento privado é a base da corrupção. Empresas de diversos setores financiam os políticos e depois cobram seus interesses no Congresso. Isso é totalmente antidemocrático porque o voto da empresa passa a valer mais que o do eleitor”, afirma Paola Estrada, integrante da coordenação nacional da campanha.

Quais seriam as desvantagens?

Entre os defensores do financiamento público, há também quem aponte potenciais riscos nesse modelo. Para o Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea, na sigla em inglês), uma dependência excessiva de recursos públicos pode levar os políticos e seus partidos a se afastarem da sociedade.
“Quando administrado e distribuído de forma adequada, o financiamento público dos partidos políticos pode ser um bom contrapeso para doações privadas e também pode aumentar o pluralismo político. No entanto, os partidos políticos não devem perder o contato com seus eleitores, ou tornar-se excessivamente dependentes de financiamento público”, nota um documento de janeiro do instituto.
O diretor da área de Partidos Políticos do Idea, Sam van der Staak, defende um modelo que equilibre recursos públicos e doações de membros dos partidos, empresas e pessoas físicas – limitadas a um teto baixo, para evitar que um grupo tenha mais peso que outro.

Como distribuir os recursos?

Outro risco do modelo de financiamento essencialmente público é dar pouco espaço para o surgimento e crescimento de novos partidos, na medida em que a distribuição dos recursos tende a ser proporcional ao tamanho das bancadas no Congresso.
Por outro lado, dividir igualmente também não é considerada a melhor maneira de distribuição. “Essa abordagem (divisão igualitária) cria o risco de que partidos sejam criados apenas para obter financiamento do Estado. Além disso, também pode ser um desperdício significativo usar recursos públicos para apoiar partidos e candidatos que não têm nenhum apoio entre o eleitorado”, nota o relatório do Idea.
A opção para contornar isso, aponta o instituto, é repartir parte dos recursos públicos igualmente e parte proporcionalmente. Manter a possibilidade de doações de pessoas físicas ou mesmo de empresas, sob um limite baixo, é também uma forma de permitir que o financiamento eleitoral tenha mais dinamismo.
No Brasil, a distribuição de recursos públicos via fundo partidário se dá da seguinte forma: 5% são repartidos igualmente entre os 32 partidos existentes, e 95% são distribuídos na proporção dos votos obtidos na última eleição para a Câmara dos Deputados.

Como isso tem funcionando em outros países?

Entre os 180 países monitorados pelo Idea, apenas um tem financiamento de campanha exclusivamente público: o Butão. Essa pequena nação asiática, espremida entre China e Índia, realizou suas primeiras eleições em 2008, quando o sistema político passou de monarquia absoluta para monarquia constitucional.
Outros países, embora não adotem o modelo 100% público de financiamento, tem níveis altos de participação pública nos fundos de campanha. No México, por exemplo, 95% das campanhas às eleições presidenciais de 2012 foram bancadas com recursos do Estado. Esses índices também foram altos nos últimos anos na Colômbia (89%) e no Uruguai (80%). Em países europeus como Espanha, Bélgica, Itália e Portugal, os fundos públicos também respondem por mais de 80% dos custos das campanhas.
Existem vários modelos de distribuição desses recursos. Há países, como Alemanha, em que o Estado transfere para o partido um euro para cada euro arrecadado de doadores (prática chamada de matching funds). Já na Holanda, os repasses dependem do número de pessoas filiadas ao partido.
Na França, a lei institui um teto para os gastos de campanha, que varia de acordo com o tipo de eleição. A partir desse teto é calculado o reembolso com dinheiro público das despesas eleitorais do candidato. No caso da eleição presidencial, por exemplo, em 2012 foi definido que cada candidato poderia gastar até 16,8 milhões de euros (R$ 58,8 milhões, na cotação atual) no primeiro turno e 22,5 milhões de euros (R$ 78,75 milhões) no segundo. A título de comparação, a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 consumiu R$ 350 milhões.
Na França, cada candidato que conseguisse 5% dos votos, poderia receber 50% do valor gasto em reembolso. As regras determinam que o candidato que ultrapassar o teto de gastos da campanha, não pode receber o financiamento público de parte de suas despesas. Foi exatamente o que ocorreu com o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que teve suas contas da campanha presidencial de 2012 rejeitadas pelo Conselho Constitucional.

Quanto dinheiro público os partidos já recebem no Brasil?

Partidos políticos já recebem hoje dinheiro público no país, mas a maioria dos recursos que bancam as campanhas eleitorais vem de doações de empresas.
Nas últimas eleições, partidos e candidatos arrecadaram cerca de R$ 5 bilhões de doações privadas, quase na sua totalidade feitas por empresas. Além disso, receberam no ano passado R$ 308 milhões de recursos públicos por meio do Fundo Partidário, enquanto o tempo “gratuito” de televisão custou R$ 840 milhões aos cofres da União por meio de isenção fiscal para os canais de TV.
Em 2015, porém, haverá um salto expressivo na verba do Fundo Partidário. O Congresso aprovou neste mês que o orçamento previsto inicialmente pela União fosse triplicado, passando de R$ 289,56 milhões para R$ 867,56 milhões.
O aumento teria sido motivado pela dificuldade que os partidos estão enfrentando para se financiar após a operação Lava Jato – que investiga desvio de recursos na Petrobras – ter colocado no banco dos réus executivos de grandes empresas doadoras.
O relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse que o aumento refletiu uma demanda de diversos partidos e que representa um teste para a tese do financiamento público de campanha.

Quanto custaria um modelo com mais financiamento público?

O PT não tem hoje uma estimativa de quanto seria o custo de um financiamento exclusivo de campanha, de acordo com a vice-presidente nacional do PT, Gleide Andrade, responsável por coordenar as discussões sobre reforma política dentro do partido. Segundo ela, isso dependerá de outras alterações que podem ser feitas no sistema eleitoral, como por exemplo modificar a forma de eleger os deputados.
“Mas uma coisa é certa: será um campanha bem mais barata do que a que temos hoje”, afirmou.
Outro projeto de lei que já tramita no Parlamento – o PL 268, apresentado em 2011 como conclusão dos trabalhos de uma comissão de reforma política no Senado – sugere que o financiamento de campanha será exclusivamente público e que o valor total a ser distribuído seguirá o seguinte cálculo: total de eleitores inscritos até 31 de dezembro do ano anterior vezes R$ 7,00 a valores de janeiro de 2011.
Atualizando esse valor pela inflação até 2014 (R$ 8,40) e considerando o número de eleitores que puderam votar no ano passado (141,8 milhões), as últimas eleições teriam consumido R$ 1,2 bilhão, segundo a regra do PL 268/2011.

Aumentar o peso do financiamento público exigiria outras mudanças?

Mudar o sistema de financiamento não é algo trivial. Especialistas no assunto dizem que extinguir as doações por empresas e aumentar o peso do dinheiro público obrigaria necessariamente a alterar as regras das eleições para o Legislativo.
Claudio Abramo, ex-diretor da Transparência Brasil, diz que teria que ser adotado a eleição em lista – método em que o voto vai para o Partido, que decide qual será a ordem dos deputados e vereadores eleitos pela legenda. Tal mudança seria necessária por causa da dificuldade de distribuir e fiscalizar os recursos para todos os candidatos. Dessa forma, os partidos que centralizariam a gestão dos recursos públicos.
O filósofo e cientista político Marcos Nobre discorda da tese de que o financiamento exigiria lista fechada. “É perfeitamente possível fiscalizar (a distribuição de recursos) desde que você torne os partidos responsáveis pela atuação de cada um de seus candidatos”, argumenta.