sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

96,5% de execução do PAC 2. Exemplo para o mundo

Ministra Miriam Belchior: PAC 3 terá um patamar ainda mais alto que a gente foi capaz de alcançar no PAC 1 e no PAC 2.



Cúpula do G20: O Brasil acertou



Até o fim do ano, a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) atingirá a execução de R$ 1,066 trilhão, ou seja, 96,5 % do previsto para o período do primeiro mandato do governo da Presidenta Dilma Rousseff (2011-2014). Já as ações concluídas atingiram o valor de R$ 796,4 bilhões de investimentos efetuados nos seis eixos, que correspondem a 99,7 % do valor global (pago) previsto concluir até 2014.

Na divulgação do 11° Balanço do PAC 2, a ministra do Desenvolvimento, Miriam Belchior, confirmou que as obras concluídas até o fim deste ano superarão em 72% a execução total da fase um do programa. A Ministra reforçou que a Presidenta Dilma, no seu segundo mandato, lançará a terceira etapa do programa.

“O governo vai continuar fazendo investimento em infraestrutura. Certamente com um patamar ainda mais alto que a gente foi capaz de alcançar no PAC 1 e no PAC 2 . Tenho certeza que a nova edicão que a presidente lançará em momento próprio vai dar prosseguimento a este programa importante para o país”, afirmou nesta quinta -feira (11).

No evento, Miriam ressaltou a importância do programa em um período de crise internacional. “O PAC mantém investimentos que protegem o Brasil dos efeitos da crise internacional. É o principal responsável para manutenção do emprego e renda”, disse a titular da pasta. Para ela, “um dos principais desafios é ampliar a participação do setor privado”, revelou.

Composto pelos eixos Cidade Melhor, Comunidade Cidadã, Minha Casa Minha Vida, Água e Luz para Todos, Transportes e Energia, o PAC 2, segundo o Ministério do Desenvolvimento, busca resgatar o planejamento em infraestrutura, retomar investimento em setores estruturantes, impulsionar setores estagnados, redefinir o papel do Estado como indutor do investimento e do setor privado como parceiro fundamental.

“A Última reunião da Cúpula do G20 [Na Austrália] reforçou o acerto do Brasil, pois confirmou que recessão só será superada com investimentos em infraestrutura “, destacou Miriam. Á época, o documento apresentado ao fim da Cúpula concluiu que a estagnação econômica de países, principalmente na Europa, necessita de investimento em infraestrutura com apoio. decisivo de bancos público e do setor privado.











Os números de cada eixo (Fonte: Ministério do Desenvolvimento):







EIXO TRANSPORTES







O Eixo Transportes do PAC 2 concluiu R$ 66,9 bilhões em empreendimentos em todo o País.



Em Rodovias são 5.188 km de obras finalizadas das quais 1.413 km foram concessões. Os destaques são a duplicação da BR-060 (GO), de Goiânia a Jataí, com 315 km e o Arco do Rio de Janeiro – BR-493 (RJ). Também foram construídos 22 km da BR-448 (RS), a Rodovia do Parque, entre Porto Alegre e Sapucaia do Sul, a construção de 4,3 km da Via Expressa ao Porto de Salvador na BR-324 (BA).

Ainda há obras em andamento em 7.002 km, sendo 2.612 km de duplicação e adequação e 4.390 km de construção e pavimentação.

Em Ferrovias, ao longo de quatro anos, 1.088 Km entraram em operação como o trecho de 855 km da Ferrovia Norte- Sul (FNS), de Palmas (TO) a Anápolis (GO) e a extensão de 247 km da Ferronorte, entre Alto Araguaia (MT) e Rondonópolis (MT).

Em Portos, o PAC 2 concluiu 30 empreendimentos, como a ampliação do Cais Comercial do Porto de Vitória, construção dos Terminais de Passageiros de Natal e Recife e dragagens de aprofundamento nos portos de Imbituba (SC), Santos (SP), Natal (RN), Fortaleza (CE), São Francisco do Sul (SC), Itajaí (SC), Rio de Janeiro (RJ) e Suape (PE).

Na área de Aeroportos, as obras do PAC 2 ampliaram a capacidade de atendimento para 70 milhões de passageiros por ano, com a conclusão de 37 empreendimentos.

Entre as obras que foram concluídas nos aeroportos para facilitar e agilizar o deslocamento de passageiros estão: a reforma do Terminal de Passageiros 2 do Galeão (RJ), a recuperação de pistas e pátios dos aeroportos de Foz do Iguaçu (PR) e Campo Grande (MS), e a construção do Terminal 4 – Guarulhos (SP). E as concessões dos aeroportos de Brasília (DF), Campinas (SP), Guarulhos (SP) e São Gonçalo do Amarante (RN) . Nos aeroportos regionais foram concluídas 15 obras em 11 cidades.

O PAC 2 universalizou ainda o acesso a retroescavadeiras, motoniveladoras e caminhões caçamba em municípios com menos de 50 mil habitantes. Foram entregues 5.071retroescavadeiras, 5.060 motoniveladoras e 5.060 caminhões caçamba alcançando toda a meta prevista no Programa.



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EIXO ENERGIA




No Eixo Energia, o PAC 2 concluiu R$ 253,3 bilhões de ações em Geração de Energia Elétrica e Petróleo e Gás Natural.

Em Geração, promoveu a entrada de 15.908 MW no parque gerador brasileiro. Entre as usinas que entraram em operação, vale destacar as hidrelétricas de Santo Antônio (3.150 MW), e Jirau (3.750 MW) que ficam no estado de Rondônia. As duas já contam com 51 unidades geradoras totalizando 3.636 MW de capacidade instalada.

Também entraram em operação 108 usinas eólicas, com capacidade instalada de 2.849 MW. Destaque para o início de operação do Complexo Eólico Verace, no Rio Grande do Sul (132 MW).

Estão em construção oito hidrelétricas (18.839 MW), três termelétricas (1.992 MW), 89 usinas eólicas (2.324 MW) e quatro pequenas centrais hidrelétricas (84 MW). Essas diversas fontes de energia aumentarão em 23.239 MW a capacidade de geração de energia do País.

A Usina de Belo Monte, que terá 11.233 MW de capacidade instalada, já está com 62% de execução e a Usina de Teles Pires, no Mato Grosso, está com 97 % de obras executadas.

Para levar toda essa energia aos mercados consumidores foram concluídas 53 linhas de Transmissão de Energia Elétrica, totalizando 19.862 km de extensão e 15 subestações. No PAC 2, 14 leilões viabilizaram a concessão de 26.159 km de novas linhas de transmissão, com investimento previsto de R$ 36,3 bilhões.

No setor de Petróleo e Gás Natural, foram concluídos 28 empreendimentos em exploração e produção de petróleo, 21 em refino e petroquímica, 11 em fertilizantes e gás natural e três em combustíveis renováveis. Foi contratado o financiamento de 426 embarcações e 13 estaleiros.

O Pré-Sal está batendo recordes sucessivos de produção. Em outubro deste ano, a produção alcançou 640 mil barris em um único dia, equivalente a 28% da produção nacional.

Na área de Refino e Petroquímica, destaca-se a entrada em operação em novembro da Refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, com capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia.

O Complexo Petroquímico do Rio Janeiro já atingiu 82% de obras executadas. Foram concluídas ainda as obras de modernização e melhoria da qualidade das refinarias existentes, com investimentos de mais de R$ 22 bilhões nos quatro anos.




CIDADE MELHOR




O Eixo Cidade Melhor concluiu, com investimentos de R$ 10,7 bilhões, 1.600 empreendimentos de saneamento, incluindo esgotamento sanitário e saneamento integrado. Além disso, foram concluídos 86 empreendimentos de drenagem, 27 de contenção de encostas e 46 de pavimentação.

Em Mobilidade Urbana, foram concluídos, ou estão em fase final de obras, e já operam 31 empreendimentos. Em 2014, destacam-se o trecho Lapa-Retiro da Linha 1 do metrô de Salvador, as Linhas Sul e Centro do metrô de Recife, a Linha Sul do metrô de Fortaleza, os BRTs Leste-Oeste e Norte-Sul, além da Via Mangue, em Recife, os BRTs da Área Central, da Av. Cristiano Machado, da Av. Antônio Carlos, em Belo Horizonte, o BRT Transcarioca, no Rio de Janeiro, o Corredor Mário Andreazza, em Cuiabá, o BRT Eixo Sul, em Brasília, e o trem urbano São Leopoldo-Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre.

Por meio do PAC Cidades Históricas, o Governo Federal disponibilizou R$ 1,6 bilhão para recuperação de monumentos e sítios urbanos de 44 cidades, em 20 estados. Estão em execução, por exemplo, as restaurações da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Ouro Preto (MG) e do Mercado Público de Jaguarão (RS).




COMUNIDADE CIDADÃ




No Eixo Comunidade Cidadã, foram contratadas a construção ou ampliação de 14.448 Unidades Básicas de Saúde (UBS), com investimentos de R$ 3,7 bilhões, em 4.145 municípios de todo o país, das quais 9.002 estão em obras e 3.326 foram concluídas até 2014.

Foram também contratadas 484 Unidades de Pronto Atendimento (UPA), que terão capacidade mensal de até 3,1 milhões de atendimentos e, desse total, 283 estão em obras e 39 foram concluídas até outubro de 2014.





MINHA CASA, MINHA VIDA





O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) concluiu empreendimentos no valor de R$ 449,7 bilhões. Foram contratadas 3,7 milhões de moradias, sendo que 1,87 milhão já foram entregues. São mais de sete milhões de pessoas beneficiadas, quase três vezes a população de Belo Horizonte (MG).




ÁGUA E LUZ PARA TODOS




No Eixo Água e Luz Para Todos foram concluídas ações no valor de R$ 10,3 bilhões.

No PAC 2, foram realizados mais de 538 mil ligações de energia elétrica para 2 milhões de pessoas que vivem no campo, em assentamentos da reforma agrária, aldeias indígenas, comunidades quilombolas e ribeirinhas. Desse total, mais de 205 mil pessoas são beneficiárias do Programa Brasil Sem Miséria.

Em Recursos Hídricos, mais de 238 localidades tiveram sistemas de abastecimento de água implantados e foram construídos 58 sistemas de esgotamento sanitário. Estão concluídos 1.150 empreendimentos, que melhoraram o sistema de abastecimento de água em áreas urbanas e 32 empreendimentos de recursos hídricos para combater a escassez de água no Nordeste brasileiro.

A Integração do Rio São Francisco, maior obra hídrica do Brasil com 477 km de extensão, iniciou o bombeamento de água no Eixo Leste. No Eixo Norte, as obras estão com 68% executadas. No Eixo Leste, progrediram para 67% no mesmo período. O Projeto atualmente emprega mais de 11 mil trabalhadores e 3.800 mil máquinas estão em operação.











Veja aqui integra da apresentação feita pela ministra.

E aqui a apresentação de fotos.

Participaram também do evento os ministros Miriam Belchior (Planejamento), Paulo Sérgio Passos (Transportes), Edison Lobão (Minas e Energia), Gilberto Occhi (Cidades), Francisco Teixeira (Integração Nacional), Moreira Franco (Aviação Civil), Cesar Borges (Portos), Henrique Paim (Educação), Arthur Chioro (Saúde) e Francisco Gaitani (interino do Meio Ambiente), além de Marcio Holland, secretário de Política Econômica da Fazenda.





Alisson Matos, editor do Conversa Afiada

Entrevista inédita de Jango expõe sua opinião sobre o golpe militar de 1964


João Goulart no exílio no Uruguai, em cena do documentário 'Dossiê Jango', de Paulo Fontenelle
O ex-presidente João Belchior Marques Goulart via sua queda no golpe de Estado de 1964 como resultado de uma campanha de "envenenamento" da opinião pública contra o seu governo. "Meu maior crime foi tentar combater a ignorância", dizia ele.

Para Jango, criou-se uma confusão entre justiça social (que ele disse ter buscado) e comunismo (que não compartilhava), e que após o assassinato do presidente americano John Kennedy, em 1963, os EUA começaram a derrubar governos constitucionais na América Latina, entre os quais o dele.

Três anos e sete meses depois de deixar o país, era assim que Jango via o painel da crise que o depôs.

Folha encontrou na Universidade do Texas uma entrevista inédita do ex-presidente feita pelo historiador americano John W. Foster Dulles (1913-2008). O depoimento, realizado em 15 de novembro de 1967 em Montevidéu, permaneceu desconhecido desde então.

Foster Dulles não a utilizou nos livros que escreveu sobre o Brasil ou personagens brasileiros, como Castello Branco e Carlos Lacerda. O historiador Jorge Ferreira, autor de uma biografia de Jango, disse desconhecer a entrevista. O mesmo foi dito por João Vicente Goulart, filho e responsável pelo instituto que leva o nome do ex-presidente.

Filho e sobrinho de dois dos americanos mais influentes do século 20, que ajudaram a moldar o poder dos EUA, o historiador Foster Dulles contou com a influência familiar para se encontrar no Brasil e no exterior com os principais personagens do golpe de 1964. A biblioteca Nettie Lee Benson, da Universidade do Texas, onde o americano lecionou, guarda as centenas de entrevistas realizadas por ele.

Entrevista de John W. Foster com Jango em 15/11/1967

João Goulart disse que estava em Cingapura quando recebeu a notícia da renúncia de Quadros. De Cingapura ele foi a Paris, onde os meios de comunicação com o Brasil eram bons. Goulart disse que tinha passado um ou dois meses fora do Brasil. De Paris, ele falou ao telefone com muitas pessoas no Brasil.

De acordo com Goulart, Auro de Moura Andrade não foi eleito pelo Congresso para o cargo de primeiro-ministro do Brasil durante o regime parlamentar. Goulart disse que o nome de Santiago Dantas foi submetido ao Congresso e analisado por ele. Goulart descreveu Crockatt de Sá como um assessor que ele tinha para assuntos trabalhistas.

Goulart disse que não há no Brasil nenhum sentimento contra o povo dos Estados Unidos. O Brasil quer que os latino-americanos tenham independência em suas discussões. O Brasil quer que os brasileiros, e isso inclui as classes populares, comandem seu próprio destino.

O Brasil sente que já houve por vezes um excesso de interferência por parte dos Estados Unidos. Embora o povo brasileiro não seja contra o povo dos Estados Unidos, pode se dizer que os governos dos Estados Unidos cometeram erros com relação à América Latina.

Sob John Kennedy, os Estados Unidos recuperaram sua perspectiva positiva da América Latina. Os Estados Unidos tiveram então uma política correta, uma que estava em comunhão com o povo. Kennedy era favorável à autonomia dos governos da América e era a favor dos benefícios sociais para a população.

Após a morte de Kennedy, três governos constitucionais na América Latina foram depostos. O governo constitucional do Brasil foi deposto. O governo constitucional da Bolívia foi deposto. O governo constitucional da Argentina foi deposto.

Goulart disse que é verdade que os governos militares possuem algumas vantagens. Mas o povo é democrático. Os Estados Unidos falam muito sobre democracia. Mas os Estados Unidos deveriam permitir a democracia.

Goulart disse que um excesso de liberdade é prejudicial. Mas disse que um excesso do oposto também é prejudicial. O Brasil poderia dar grande ímpeto ao processo democrático. Existe uma ligação entre os governos da América Latina e o governo dos Estados Unidos. Os Estados Unidos precisa do apoio do povo da América Latina.

Tanto Goulart quanto o povo da América Latina pensam que o povo dos Estados Unidos é bom e admiravelmente ativo. Não se deve confundir o povo dos Estados Unidos com os grandes grupos econômicos norte-americanos, que são repudiados pelo povo da América Latina.

Goulart disse que em seus esforços para promover reformas estruturais, ele fez concessões demais a grupos políticos no Brasil. A finalidade dessas reformas estruturais era promover a independência do Brasil, o desenvolvimento do Brasil e o bem-estar do povo brasileiro. Essas reformas são tratadas nas mensagens de 1963 e 1964 que Goulart enviou ao Congresso.

A mensagem de 1963 menciona todas as reformas. Estas foram reformas em prol da independência, do desenvolvimento, do bem-estar do povo e da justiça social. A justiça social não era algo no sentido marxista ou comunista.

O Brasil possui grande potencial. Mas uma reestruturação se faz necessária. Existe no Brasil um grupo pequeno e rico. As massas brasileiras são analfabetas, pobres e vivem em grande miséria.

Hoje a luta está sendo levada adiante de modo inteligente pela Igreja Católica. O povo latino-americano não tem tendências comunistas. O Brasil é católico em sua maioria avassaladora. O Brasil possui a maior porcentagem de população católica no mundo. O Brasil é o principal país católico do mundo.

Hoje, com o uso amplo de rádios e televisores, o povo pobre vê as condições melhores que existem em outros lugares. O grande problema é a justiça social. Não é um problema de comunismo. Mas a insatisfação pode se converter em revolta se as condições não melhorarem. 92% da América Latina se encontra na condição mais precária possível.

Goulart é a favor da concessão do direito de voto aos analfabetos. O analfabetismo não é culpa deles. As pessoas que podem ser chamadas a pagar impostos (e que são chamadas a fazer outra coisa — a palavra usada não está clara em minhas anotações) devem ter o direito de votar.

Goulart disse que, paralelamente à extensão do sufrágio aos analfabetos, os analfabetos devem ser ensinados a ler e escrever. Disse que durante seu governo foram criadas escolas populares para essa finalidade. O programa foi descrito como comunista pelos inimigos do regime. Chegaram a ser montadas escolas de alfabetização em praças públicas.

O ministro da Educação, Paulo de Tarso, foi tachado de comunista e sofreu muito devido ao que fez. Paulo Freire, que também sofreu pelo que fez, é um idealista. Ele é uma espécie de missionário, muito progressista. Seu crime foi tentar combater o analfabetismo. Quando mencionei o MEB, Goulart disse que a Igreja Católica ajudou muito com o programa de combate ao analfabetismo. Ajudou patrocinando aulas que eram ministradas pelo rádio. Goulart disse: "Meu governo deu a maior ajuda" a esse movimento. Goulart disse que, devido à ajuda dada por seu governo aos programas de rádio de aulas de alfabetização, Dom Hélder Câmara ficou muito amigo dele.

Houve uma campanha para envenenar a opinião pública contra "meu governo". Goulart disse que a imprensa estava contra seu governo. Ele acrescentou que a imprensa tem problemas financeiros e é influenciada por grandes grupos empresariais. Os produtos de empresas estrangeiras são anunciados na mídia de comunicação. A maior firma de relações-públicas, ou agência de publicidade, no Brasil é a McCann-Erickson, uma empresa americana. As empresas americanas no Brasil tanto manufaturam produtos no Brasil quanto recebem royalties por produtos produzidos no Brasil.

Goulart disse que seu governo foi acusado de ser um governo incapaz. Mas apontou para a participação de homens como Celso Furtado e Waldir Pires (que tem apenas 33 ou 34 anos e foi o procurador geral da República). Esses homens hoje são professores de universidades na França, tendo conquistado seus cargos em concursos competitivos. Waldir Pires, que está na França há um ano, conquistou seu posto de professor sem dificuldade, tendo ficado em primeiro lugar.

Com relação às remessas de lucros para o exterior, Goulart mencionou que a lei que afeta isso foi aprovada pelo Congresso e que o regulamento foi emitido pelo Executivo. Ele disse que um teto de 10% é um teto alto. É mais alto que os de outros países que têm tetos. O teto na Índia é de 8% a 9%. Existe no Brasil uma questão relativa à avaliação do capital original.

A regulamentação da lei de remessas de lucros no Brasil causou grande perturbação para o governo Goulart. As empresas estrangeiras reagiram mal. Goulart disse que o Brasil queria que parte do capital estrangeiro fosse como o capital nacional. Ele disse que o capital estrangeiro deve cooperar com o povo brasileiro. Disse que, quando o capital estrangeiro chega e depois retorna por completo de onde veio, não há vantagem para o Brasil – pelo contrário, o fato de todo o capital partir prejudica o Brasil.

Goulart disse que todo o capital estrangeiro deve ser bem recebido, mas deve colaborar. Não é interessante se ele vem simplesmente para especular e depois retorna integralmente ao exterior. Goulart disse que o capital estrangeiro é "absolutamente útil". Que ele deve ajudar o país para onde vai.

Mencionei o nome de Amauri Kruel. Goulart disse que Kruel tinha feito recentemente um discurso no Congresso em que disse que a revolução de 1964 foi feita com a finalidade de dar liberdades ao povo, mas que, como resultado da Revolução, houve a suspensão das liberdades. A Revolução, disse Kruel, foi para garantir liberdades, não para suprimi-las. Não foi feita para cancelar eleições. A Revolução foi traída, segundo as palavras de Kruel, conforme elas nos foram ditas por Goulart.

Goulart nos disse que as declarações que estava nos dando não eram declarações que deveríamos atribuir a ele. Disse que nos estava dando seus pontos de vista para ser prestativo; que suas opiniões representam seus sentimentos pessoais. O que eu deveria fazer era investigar e ver se suas opiniões estavam certas ou erradas.

Goulart disse que Djalma Maranhão antes era prefeito de Natal. Ali ele criou escolas em espaços públicos. Algumas dessas escolas foram construídas com materiais muito baratos. Essas escolas em Natal usavam o sistema de ensino de Paulo Freire.

Lucas Ferraz
No fAlha, via http://www.contextolivre.com.br/2014/12/entrevista-inedita-de-jango-expoe-sua.html

A quem interessa o Brasil ser o primeiro país a liberar o plantio de árvore transgênica?


Grande parte da produção de mel do País baseia-se no eucalipto, daí um dos grandes riscos da nova espécie transgênica. Plantio de eucalipto ao lado de floresta. Foto: © Adriano Fagundes
"O Brasil está a poucos passos de aprovar a liberação comercial de eucalipto transgênico. Sem ter realizado devidamente os estudos para avaliar os impactos e riscos dessa tecnologia, poderemos ser o primeiro país a liberar comercialmente o plantio de árvores transgênicas no mundo. 
Flávia Camargo, ISA / Envolverde

A liberação de árvores transgênicas requer maior precaução tendo em vista que as árvores têm ciclos bem mais longos de vida e a sua interação com o meio ambiente é bem mais complexa do que a interação de plantas anuais, como a soja e o milho. A liberação do eucalipto transgênico exige uma preocupação ainda maior, uma vez que boa parte da produção de mel brasileira é oriunda do pólen dos eucaliptos.

O eucalipto transgênico foi desenvolvido pela empresa FuturaGene, uma subsidiária da Suzano Papel e Celulose, a segunda maior produtora de celulose de eucalipto do mundo. De acordo com a empresa, o eucalipto transgênico pode elevar a produtividade do volume de madeira em até 20% em relação ao eucalipto convencional.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pela autorização do uso de transgênicos no Brasil, realizou, em setembro, uma audiência pública sobre o eucalipto transgênico. Com o objetivo de acelerar o processo de liberação de seu produto, a audiência pública foi solicitada pela própria empresa. Essa audiência contou com a presença maciça de funcionários da empresa e foi um espaço insuficiente para um debate mais aprofundado com a sociedade civil. Vários questionamentos levantados pela sociedade civil e por gestores públicos não foram devidamente respondidos.

No relatório de biossegurança apresentado pela empresa à CTNBio, consta como justificativa, para a não realização de uma avaliação mais aprofundada, a reduzida disponibilidade de tempo e a liberação tardia dos recursos destinados a financiar as pesquisas sobre os efeitos do eucalipto transgênico. Baseando-se nessa desculpa, a FuturaGene eximiu-se de realizar o estudo sobre as proteínas do mel, o efeito desse mel sobre as bactérias da flora intestinal, a possibilidade de transferência dos genes transgênicos para os micro-organismos e os possíveis efeitos tóxicos, mutagênicos e teratogênicos (efeito sobre fetos), entre outros.

Além disso, sob as mais diversas justificativas, outras análises obrigatórias deixaram de ser realizadas e estudos relevantes mais específicos, como a análise dos impactos da plantação de eucalipto transgênico sobre a disponibilidade da água, também não foram feitos da forma adequada. Parte dos estudos de campo ainda está em andamento. Mesmo sem a realização das devidas análises de impacto e risco e sem obtenção de resultados das pesquisas que ainda estão em curso, a empresa apressou-se em solicitar a audiência pública para acelerar a liberação do eucalipto transgênico.

Qual seria a atitude esperada da CTNBio diante da “estratégia” da empresa de alegar falta de recursos financeiros e de tempo, entre outras justificativas, para não realizar a devida avaliação de impacto e de risco? O esperado seria determinar a realização dos estudos e paralisar os procedimentos para a liberação até que as devidas avaliações estivessem concluídas ou aceitar essas justificativas e dar andamento ao processo?

O esperado de uma comissão que deve zelar pela proteção da saúde humana e do meio ambiente seria determinar a realização de novos estudos e a conclusão dos que estão em curso. Mas, não foi isso o que aconteceu. Sem que fossem realizados os estudos necessários, a CTNBio deu andamento ao processo e a Subcomissão Setorial Permanente de Saúde Humana e Animal do colegiado aprovou, em novembro, a liberação comercial do eucalipto transgênico. Agora, falta a aprovação na Subcomissão Setorial Permanente das Áreas Vegetal e Ambiental, para que posteriormente o pedido de liberação possa ser encaminhado à plenária para a aprovação final.

Até recentemente, a CTNBio estava sem representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), os quais foram nomeados após a realização da referida audiência pública. Além disso, os cargos (titular e suplente) de especialista de meio ambiente a ser indicados pela sociedade civil e nomeados pelo MMA continuam vagos. A dimensão ambiental está enfraquecida na composição da CTNBio e, a despeito disso, ela tem dado continuidade à aprovação dos transgênicos. Em abril, por exemplo, o colegiado aprovou a liberação comercial do mosquito transgênico Aedes aegypti para combater a dengue sem que os especialistas da área ambiental estivessem presentes. Aspectos relevantes como o impacto desses mosquitos sobre o saneamento ambiental e o controle biológico de pragas não foram avaliados com a ausência desses especialistas.

É importante recordar uma decisão política que facilitou a aprovação dos transgênicos no Brasil. Em 2007, o então presidente Lula sancionou uma lei que reduziu o número de votos necessários à liberação de transgênicos, que passou de dois terços dos membros da comissão à maioria simples. Como a CTNBio tem 27 membros, o número de votos necessários à aprovação caiu de 18 para 14. Essa diferença de quatro votos foi essencial para “destravar” a liberação dos transgênicos. Mais de 90% das plantas transgênicas permitidas hoje no país foram liberadas após essa mudança.

Postura irresponsável

A postura do Estado brasileiro frente aos transgênicos não tem sido de responsabilidade. Além dos riscos de sua liberação sem os estudos adequados, hoje o consumidor brasileiro não têm sequer seu direito à informação respeitado, para que possa escolher consumir ou não transgênico, pois nem a rotulagem tem sido cumprida. A liberação da primeira árvore transgênica no mundo não pode ser mais um exemplo da omissão do Estado brasileiro frente aos riscos e impactos que os transgênicos podem oferecer.

Caso o eucalipto transgênico seja liberado sem as pesquisas necessárias, não é apenas a saúde humana e ambiental que poderá ser prejudicada. Aspectos socioeconômicos também poderão ser afetados. O Brasil é o segundo maior exportador de mel orgânico do mundo. Essa atividade poderá ser prejudicada, uma vez que as normas de orgânicos não permitem transgênicos e haverá riscos de as áreas de produção orgânica de mel serem afetadas pelo pólen de eucaliptos transgênicos. Além disso, ao aprovar a liberação do eucalipto transgênico, o Brasil estará caminhando na contramão do mercado internacional, tendo em vista que a certificação Forest Stewardship Council (FSC) não admite que produtos oriundos de árvores transgênicas sejam certificados.

A questão de fundo sobre os transgênicos não é mais ser contra ou a favor dessa tecnologia. Hoje, os transgênicos (infelizmente para uns e felizmente para outros) são uma realidade que a sociedade precisa saber como lidar e definir quais limites irá impor. Uma das questões essenciais refere-se aos interesses dos diversos atores e como estes estão sendo representados. Se a CTNBio optar por autorizar a liberação comercial da primeira árvore transgênica no mundo sem que os devidos estudos tenham sido realizados, ela terá considerado os interesses da empresa acima dos da sociedade e do meio ambiente.

Que legitimidade tem a comissão, que tem como competência legal proceder à análise da avaliação de risco e emitir decisão técnica sobre a biossegurança dos transgênicos, se ela não exige da empresa os estudos necessários e assim favorece o interesse privado em detrimento do interesse público? A continuar a tendência atual, talvez esteja mais do que na hora de a sociedade brasileira exigir uma mudança da estrutura e da forma de atuação da CTNBio."

* Publicado originalmente no site Instituto Sociambiental.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Por que a Internet nos tornou hipócritas


Mulher cubana usa a internet: reclamamos da falta de privacidade, mas continuamos compartilhando nossos dados
"Dizemos estar preocupados com nossa privacidade, mas compartilhamos informações online tranquilamente 

John Naughton,  The Observer
No auge da antiga União Soviética, surgiu uma expressão para descrever os intelectuais ocidentais crédulos que iam visitar a Rússia e deixavam de notar os custos humanos e outros da construção da utopia comunista. A frase era "idiotas úteis", e se aplicava a muitas pessoas que deveriam ter mais consciência.

Hoje eu proponho um novo termo, análogo, mais adequado à era em que vivemos: hipócritas úteis. Eles são você e eu, gente, e é como os senhores do universo digital nos veem. E eles têm motivos bastante bons para nos ver dessa maneira. Eles nos ouvem reclamar sobre privacidade, segurança, vigilância, etc, mas notam que apesar de nossas queixas e suspeitas parecemos nada fazer a respeito. Em outras palavras, dizemos uma coisa e fazemos outra, o que é uma definição de hipocrisia tão boa quanto se poderia esperar.

Isso parece duro, eu sei, mas os dados o confirmam. No momento, grande parte dos dados vêm dos Estados Unidos, mas não creio que as coisas sejam muito diferentes na Grã-Bretanha. Algumas das informações mais confiáveis sobre o comportamento das pessoas na rede mundial vêm do Projeto de Vida Americana e Internet do instituto Pew, que realiza pesquisas regulares sobre o uso da internet pelos americanos. Na quarta-feira 12, o projeto publicou as conclusões de uma pesquisa sobre as percepções do público sobre privacidade e segurança na era pós-Edward Snowden. E o que os pesquisadores descobriram é bastante sério.

As conclusões foram muito bem resumidas pelo jornal The New York Times como "os americanos dizem querer privacidade, mas agem como se não quisessem". Ou, para colocar de modo menos sucinto: "Os americanos dizem que estão profundamente preocupados com a privacidade na web e em seus celulares. Eles dizem que não confiam nas empresas de internet ou no governo para protegê-los. Mas continuam usando os serviços e divulgando suas informações pessoais".

A pesquisa Pew revela que a desconfiança das comunicações na rede e por telefone aumentou depois das revelações de Snowden: 81% dos entrevistados não se sentiam seguros usando a mídia social para compartilhar informação particular. Mais de dois terços deles se sentem da mesma maneira sobre bate-papos online, 59% sobre mensagens de texto, 57% sobre e-mails e 46% sobre conversas em celulares. Até as linhas fixas são suspeitas, com 31% dos entrevistados sentindo-se pouco à vontade com elas também.

Os que responderam à pesquisa disseram que desconfiavam igualmente do governo e das grandes companhias de internet. Mas mais da metade deles se declarou disposta a "compartilhar" informações sobre si mesmos com as empresas em troca dos chamados serviços "gratuitos", e mais de um terço aceita que esses serviços são mais "eficientes" devido à capacidade de explorar essa informação pessoal.

Oitenta por cento dos que usam os sites de redes sociais dizem que se "preocupam" sobre anunciantes e terceiros que acessam os dados que eles divulgam nessas redes. Na verdade, de modo geral parece haver uma desconfiança generalizada entre os adultos sobre a segurança dos canais de comunicação online, e não há um único canal eletrônico que a maioria dos usuários americanos considere "muito seguro" quando partilha informação pessoal com outra pessoa ou organização.

De modo geral, portanto, o que se depreende da pesquisa é que a vasta maioria dos americanos considera os canais online e telefônicos um pouco inseguros, no melhor dos casos. Mas essas mesmas pessoas continuam usando esses canais. Isso sugere que a maioria dos usuários da internet sofre o que os psicólogos chamam de "dissonância cognitiva", isto é, "a situação de ter pensamentos, crenças ou atitudes incoerentes, especialmente no que se refere a decisões comportamentais e mudanças de atitude".

Então temos um mistério: por que continuamos a usar canais de comunicação nos quais não confiamos? A resposta convencional é que não temos alternativa. Em algumas áreas, somos apanhados pelo poder dos efeitos da rede -- a força que convence as pessoas de que hoje elas precisam estar no Facebook, mesmo que não gostem realmente disso. Por exemplo, histórias de adolescentes que sofrem agressões porque não usam o Facebook não incentivam a independência, propriamente. Em outras áreas, por exemplo, as pessoas usam os serviços de webmail oferecidos por Google, Microsoft ou Yahoo porque não querem pagar por serviços de correio eletrônico.

E embora existam tecnologias para proteger a privacidade, por exemplo, a criptografia de e-mails, a maioria das pessoas não as usa porque são difíceis de implementar, e afinal a privacidade não é tão importante para elas quanto dizem.

Nesse sentido, será que o que estamos recebendo não é a internet que dizemos querer, e sim a internet que merecemos? A tecnologia mostra um espelho da natureza humana, e o que vemos nele são... bem, hipócritas úteis."

Leia mais em Guardian.co.uk

É grave a crise dos coxinhas. Como está cara uma BMW!


Fernando Brito, Tijolaço  

"O Brasil, como se sabe, está falindo.

Tanto que a Folha ajudou, outro dia, a campanha da Federação das Indústrias contra o “custo dos salários” na indústria brasileira.

Seria, na visão deles, o que estaria fazendo o Brasil “perder competitividade”.

Não os juros altos, claro, nem o câmbio depreciado. Muito menos as políticas restritivas de comércio ou a manipulação de preços feitas pelos países ricos.
É o “demônio” do trabalhador.

E o “diabo” do Estado.

E o “coisa-ruim” do salário-mínimo, que faz déficit público na Previdência com este absurdo de valor, que vai agora para R$ 790, porque não temos o Armínio Fraga para dizer que está muito alto.

Enquanto isso, os bravos rapazes, herdeiros de nossa perversidade colonial, vão comprando suas BMW, embora sufocados com o preço com que ficam por aqui, com estes malditos impostos.

Mas compram.

Tanto que o Infomoney, o guia econômico do coxismo, agora que não tem mais especulação da bolsa com pesquisa eleitoral, anuncia que a BMW está trazendo mais dois modelos de luxo para cá.

Um conversível e um coupé, duas tetéias de R$ 210 mil para cima.
Quase cinco noitadas daquele “Rei do Camarote”que, aliás, prefere uma Ferrari.

Um absurdo.

Assim o Brasil não pode funcionar."

O que é jornalismo, segundo o maior editor da história


Pulitzer, retratado pelo pintor John Singer Sargent
DCM

"Uma magnífica, e eterna, aula de jornalismo. É assim que você pode classificar o livro Uma Aventura com um Gênio, de Alleyne Ireland.

O gênio em questão é Joseph Pulitzer, ou JP, como Ireland chama o grande jornalista do qual foi assistente pessoal depois que ele perdeu a visão.

Ireland foi um entre vários assistentes de Pulitzer. Sua principal função, como a dos demais colegas, era ler para o chefe.

Jornais, romances, biografias, peças – o apetite literário de JP era imenso e variado.

A diferença entre Ireland e os companheiros é que ele registrou sua convivência com JP.

O livro é encontrado de  graça no Projeto Gutenberg, um centro de digitalização de livros sob domínio público. Não há versão em português, apenas em inglês.

Ireland retrata o grande homem e o grande editor ao mesmo tempo. Judeu de origem húngara, Pulitzer foi para os Estados Unidos aos 16 anos, e se alistou para lutar pelo Norte na Guerra Civil, num batalhão em que a língua principal era o alemão. Ele não falava inglês.

Terminada a guerra, desempregado, foi despejado de um hotel em Nova York por não ter 50 centavos para pagar pela hospedagem.

“Em menos de 20 anos, ele comprou o hotel, colocou-o abaixo e ergueu nele o Edifício Pulitzer, um dos maiores prédios de Nova York”, conta Ireland.
Era lá que ficava a redação do The World, jornal que, como diz Ireland, era um filho para JP.

Quando entrevistou Ireland para decidir se o contratava, Pulitzer listou as coisas que julgava importantes para um assistente – e para um jornalista.
“Tenho que saber se você tem tato, paciência, senso de humor, capacidade de condensar informação e, acima de tudo, respeito, amor, paixão pela precisão.”

Ireland, você vê no livro, aprendeu muito com JP sobre a arte de editar um jornal. “Como um pescador, o editor tem que fisgar seu leitores com uma isca que contenha aquilo que os peixes querem, e não ELE”, escreveu Ireland.
Pulitzer sabia o que os peixes queriam. Quando ele comprou o The World, a circulação era de 15 000 exemplares. Pulitzer levou-a a 350 000.

A obsessão maior de Pulitzer era com a precisão. “A precisão para um jornal é o que é a virtude para uma mulher”, dizia. “Se você olha as mensagens que mando para os jornalistas do The World, vai ver que precisão, precisão e precisão é a maior e mais urgente exigência que faço.”

Pulitzer tinha princípios vitais. Para ele, jornalista não podia ter amigo, porque fatalmente este seria favorecido no noticiário.

Ele é insultado cada vez que jornalistas como Merval Pereira se deixam fotografar abraçados a juízes do STF como se isso fosse uma banalidade.
JP fundou, também, as bases do moderno jornalismo como negócio. Ele dizia que um jornal tinha que ter circulação ampla, para ter publicidade e, com isso, dinheiro para ser independente.

“Mas se eu apanho qualquer homem do The World deixando de dar alguma coisa porque um anunciante pediu eu demito imediatamente”, dizia.
Sua capacidade de trabalho era colossal. Em seus primeiros tempos de Estados Unidos, num certo momento trabalhava oito horas pela manhã e mais oito à noite. Das oito restantes, dedicava quatro a estudar inglês.

O estilo perfeito, para ele, era como um vidro através do qual você olha as coisas sem percebê-lo.

Uma vez lhe perguntaram por que era tão severo com os editores e tão tolerante com os repórteres. “Bem, suponho que isso aconteça porque todo repórter é uma esperança e todo editor uma decepção.”

Extravagante, Pulitzer passava longos períodos em seu iate, chamado Liberty.

Foi a bordo dele que morreu em 1911, aos 64 anos, do coração.

Suas últimas palavras, quando uma secretária lia para ele uma biografia de Luís XI, foram ditas em alemão. “Calma, mais devagar”, pediu.

E então morreu."

Negar a história rebaixa as Forças Armadas

É incompreensível a resistência das Forças Armadas em admitir seus erros no passado.
Elas foram responsáveis pelo golpe de Estado que destituiu o presidente João Goulart, pela instauração de uma ditadura e por crimes contra a humanidade.
Ponto final.
Isso não é ficção.
É história.
Os sobreviventes do massacre a que foram submetidos aqueles que ousaram lutar contra um regime ilegítimo, despótico e brutal, estão aí para testemunhar - e assim o fizeram, na Comissão Nacional da Verdade - sobre o inferno que viveram naqueles anos de chumbo.

Nenhuma sociedade civilizada pode, simplesmente, se almeja ter esse título, retocar, esconder ou negar momentos de sua história.
O que seria hoje da Alemanha, por exemplo, se ela não tivesse exorcizado os seus demônios?
As Forças Armadas são uma das mais importantes instituições brasileiras.
Não podem, por isso mesmo, insistir em atribuir a si um papel que não lhes cabe, ou seja, interferir em processos instaurados e desenvolvidos pela sociedade civil. 
Justamente agora, sob um governo que tem procurado prestigiá-las, dando a elas condições de se reequipar para que voltem a ser uma referência continental, as Forças Armadas deveriam entender o risco para o futuro do país que é perseverar nessa posição intransigente de se recusar a cooperar a restabelecer a verdade histórica e, principalmente, de admitir os crimes que praticaram quando, por duas décadas, comandaram os destinos do país.
Admitir que erraram não é nenhuma vergonha, mas sim uma atitude que elevaria o conceito das Forças Armadas perante os mais de 200 milhões de brasileiros.
Negar a história é uma atitude que rebaixa a instituição ao nível dos criminosos comuns, esses que usam da mentira para se safar das consequências dos atos que praticam.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2014/12/negar-historia-rebaixa-as-forcas-armadas.html#more

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O financiamento popular constrói uma nova forma de fazer política no mundo todo



A gente já falou aqui da importância da reforma política e, principalmente, das mudanças no financiamento de campanhas. Mas você sabia que esse assunto não está em voga só no Brasil? Tem um projeto muito bacana nos Estados Unidos, criado por professores, cientistas políticos e pessoas que já trabalharam na política para pensar em uma estrutura para a política norte-americana.

De acordo com o site oficial do projeto, o MaydayPAC é um comitê de ação política independente ("SUPERPAC") que tem como objetivo eleger um Congresso comprometido com a reforma fundamental na forma como as campanhas políticas são financiadas em 2016. Se for bem sucedido, o PAC vai organizar uma intervenção muito maior em 2016, com o objetivo de eleger a maioria do Congresso que tem ou co-patrocinado, ou se comprometeram a apoiar, uma reforma fundamental do caminho como as eleições são financiadas.

Lawrence Lessing, professor de Harvard e cientista político, é quem apresenta a ideia do financiamento coletivo de campanha, que vai permitir que todos participem diretamente da democracia. Para ele, a nossa democracia falou e nós temos o dever, como cidadãos, de encontrar as formas de recuperá-la. Os fundadores da MaydayPAC acreditam que essa dinâmica atual tem destruído a capacidade do governo dos Estados Unidos para governar. "Nós acreditamos que é fundamental para encontrar uma maneira de mudar a forma como as eleições são financiadas, aos legisladores livres para prosseguir as reformas que motivam os eleitores para apoiá-los", dizem.

Nós traduzimos (livremente) o vídeo em que Lawrence explica o projeto de forma bem didática. Eles também têm um sitepara doações, voluntariados, candidatos que apoiam a iniciativa e etc, chamado mayday.us. Aqui no Brasil, a discussão também acontece amplamente, tendo sido chamada pela presidenta Dilma Rousseff, de reforma das reformas. E, ainda mais importante do que isso, é a noção de que a mudança que tanto queremos ver na política está em nossas mãos. Cada um, contribuindo com pouco, pode fazer acontecer o seu projeto, seja qual for.


No MudaMais, via http://www.contextolivre.com.br/2014/12/o-financiamento-popular-constroi-uma.html

Assange: Google é mais poderoso do que Vaticano e religião jamais o foram

Assange durante coletiva de imprensa concedida na embaixada do Equador em agosto
Agência Efe

“Vigilância em massa funciona como religião. Há uma entidade que tudo vê, é invisível e influi em sua vida, à qual você não pode enganar”, afirmou


O gigante das buscas Google tem mais poder do que a Igreja jamais teve e exercerá um papel “muito importante” nas eleições de 2016 nos Estados Unidos. As declarações foram proferidas pelo fundador do Wikileaks, Julian Assange, em coletiva de imprensa concedida nesta semana para divulgar seu novo livro “Quando Google encontrou o Wikileaks”.
O também jornalista e ciberativista disse ainda que a empresa trabalha para o governo dos Estados Unidos, como uma agência de inteligência, concretamente para o Departamento de Estado, que dirige a política externa do país.
Assange estudou a trajetória e atividades dos executivos mais importantes do Google: Eric Schmidt, presidente da empresa, e Jared Cohen, diretor do Google Ideias. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira durante a videoconferência concedida da embaixada do Equador em Londres, onde recebe asilo político há mais de dois anos. O livro estará disponível no Brasil em fevereiro de 2015.
Schmidt e Cohen tiveram uma longa conversa com Assange em junho de 2011, em sua casa de campo, na Inglaterra, onde cumpria prisão domiciliar. Os executivos foram acompanhados por Lisa Shields e Scott Malcomson, que depois revelaram ser assessores da diplomacia de Washington. “A delegação que me visitou era ¼ do Google e ¾ de representantes do Departamento de política exterior dos Estados Unidos”, disse.
Para expressar o poderio que a empresa possui atualmente, Assange a comparou com o Vaticano e a Igreja Católica. “A vigilância em massa funciona como uma religião: dizemos que há uma entidade que tudo vê e é invisível e influi em sua vida, à qual não pode enganar; o mesmo que tem sido dito pelos curas durante milhares de anos sobre um Deus onipresente e onipotente”, afirmou.

Mas, o domínio do Vaticano “se expressava através de franquias locais e não era fácil que o centro controlasse a periferia, tudo tinha que ser filtrado através de muitos indivíduos e interesses distintos. Não é assim com o Google, onde tudo passa pelo mesmo centro de controle. É como se só existisse um Vaticano com um confessionário direto”, afirmou.
De acordo com o escritor, o “Google é uma isca para atrair os usuários. Ele analisa o uso que os usuários fazem e gera perfis com os quais a NSA (agência de inteligência dos EUA) prevê comportamentos”. A coleta de dados não é feita somente para segmentar a publicidade, como também é vendida ao governo dos Estados Unidos, garantiu.
A serviço da inteligência dos EUA
“O Google será um fator muito importante nas eleições de 2016”. De acordo com Assange, “há uma relação muito estreita e contínua com Washington tanto em nível tecnológico, como ideológico”. E mencionou que muita gente que trabalha na empresa hoje trabalhou anteriormente na equipe da ex-secretária de Estado (2009-2013) e possível candidata pelo partido Democrata à presidência em 2016, Hillary Clinton.
Questionada a respeito das declarações de Assange pela reportagem de Opera Mundi, a assessoria do Google Brasil disse que "não tem nada a comentar" sobre o caso.
De acordo com Assange, o “Google permite que a NSA e o FBI leiam e-mails. Inclusive em uma maçante delegacia de polícia ou em um juizado, é possível ter acesso a esses e-mails sem ordem judicial”, afirmou.
Ele diz ainda que Schmidt não somente é um “gênio da engenharia”, como também é “presidente e fundador da New American Foundation, um think tank (centro de estudos) centrista, agressivo e liberal de Washington”. Cohen, por sua vez, viajou o mundo promovendo os interesses políticos e militares dos EUA.
Assange diz ainda que a conexão entre o Google e o governo dos Estados Unidos remonta ao “próprio nascimento do Google [em 1996], já que ele foi fundado com o dinheiro das bolsas do departamento de Defesa e desde então há uma relação mais ou menos contínua com o Departamento de Estado”.

MPF-SP vai à Justiça contra programas religiosos na TV


Por Paulo Lopes, em seu blog

O MPF (Ministério Público Federal) de São Paulo recorreu à Justiça contra o abuso do aluguel de horário na TV e rádio a igrejas.

As emissoras vendem esses horários como se fossem propaganda, o que poderia ser feito com até 25% da programação — limite que tem sido ultrapassado, transgredindo o Código Brasileiro de Telecomunicações, regulamentações do setor e a Lei Geral de Telecomunicações. 

A Rede 21, do Grupo Band, é o caso mais extremo. Desde 2008, 100% do horário do canal vinha sendo alugado para a Igreja Mundial o canal do Poder de Deus, chefiada por Valdemiro Santiago.

O MPF-SP acusou Paulo Saad Jafet, vice-presidente da Band, e José Carlos Anguita, superintendente de relações com mercado, de terem violado a legislação, dando origem a “enriquecimento sem causa” com o uso de uma concessão pública — as emissoras de TV.

As acusações do órgão se estendem à TV CNT, Igreja Universal do Reino de Deus (que tem “expulsado” a Mundial da TV) e, por não fiscalizarem o setor, a representantes da Presidência da República e do Ministério das Comunicações. 

O Ministério Público protocolou uma ação em separado para o Grupo CNT e seus responsáveis legais e outra para a Rádio Vida e a Comunidade Cristã Paz e Vida.

Alem da suspensão do horário religioso, o órgão pediu à Justiça que determine o pagamento pelas emissoras e igrejas, para reparar a alienação da concessão pública, de indenização à União. 

Também quer que os responsáveis sejam condenados por danos morais e que seus bens sejam colocados em indisponibilidade provisória. 

Com informação do MPF-SP e Folha.

Pitadas golpistas


@ Esse José Serra que diz publicamente, com a maior cara de pau, que sabotou o projeto do trem-bala e ocupa o microfone em manifestações pró-impeachment da presidenta reeleita com 54 milhões de votos, é o mesmo José Serra de sempre: em décadas na política, nunca foi capaz de um gesto de generosidade ou grandeza com quem quer que fosse. 
Conspirar, sabotar, agir sempre nas sombras, apropriar-se de projetos alheios, pedir a cabeça de jornalistas, abusar do cinismo e da hipocrisia - essas são as características que impulsionaram a sua carreira. Além, é claro, de uma compulsão por disputar eleições, o que lhe garante uma ótima fonte de renda.
Novamente senador, José Serra terá agora a oportunidade de exercer, quase em sua plenitude, esses seus dotes de caráter, tão marcantes e tão próprios de um dos mais imprestáveis políticos que já surgiram no Brasil.


@ Folha, Estadão e O Globo já puseram em andamento o projeto impeachment, dando, diariamente, destaque a qualquer factoide que possa ajudar a acirrar o sentimento de que este governo, o PT e seus líderes, não passam de um bando de ladrões e o Brasil está à beira do abismo - se é que já não iniciou a queda vertiginosa.
A máquina de vazamentos instalada em todas as repartições do sistema administrativo dos três Poderes trabalha a plena carga. Os jornalões recebem, minuto a minuto, relatórios acabados sobre as "safadezas" dos inimigos. Vale criminalizar tudo, até mesmo ações perfeitamente legais, desde que sugiram uma manchete antigoverno.

@ O golpe contra o governo legitimamente reeleito vai à toda, em várias frentes. No Judiciário, cabe ao notório ministro do STF e do TSE Gilmar Mendes a tarefa de, mais uma vez, carimbar o PT como o partido mais corrupto dede o big bang que criou o universo. Desta vez o expediente são as contas da campanha eleitoral que, magicamente, coube a Mendes julgar. 
Como todos já sabem o resultado de seu julgamento, caberá aos outros ministros provar que a Justiça, no Brasil, não é mera ilusão, nem instrumento para condenar pobres, putas, pretos e petistas.

@ Que a tal "elite" brasileira é formada por gente com o cérebro infectado pelo mais virulento preconceito e ódio de classes, o mundo inteiro já sabe. A novidade é que agora seus representantes não têm o menor pudor em demonstrar o quanto são imbecis, ignorantes, despreparados, racistas, homofóbicos etc etc.
O inconformismo desses ricos e chiques com as ciclovias paulistanas, por exemplo, é um caso patológico terminal: acreditam mesmo que as ruas pertencem a eles e existem para servir de garagem para seus carros!
Não sei o que fizeram com este país para que tal tipo de gente proliferasse, mas sei que, em vista de tais manifestações, é mais que urgente incluir no currículo escolar uma disciplina que ensine os conceitos básicos de cidadania. Quem sabe, assim, os filhos e netos dessa tal "elite" se mostre um pouco menos estúpida.
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